• Nenhum resultado encontrado

Este trabalho teve por objetivo a verificar a aplicabilidade da “Lei de Thirlwall”, a qual estabelece a condição de crescimento restrito pelo equilíbrio do balanço de pagamentos, para a economia brasileira considerando os períodos de 1948-2013. Tal verificação se deu através de especificação constante no modelo proposto por Carvalho e Lima (2009), que desenvolve, a partir do modelo original de Thirlwall, uma abordagem do crescimento compatível com o equilíbrio externo onde os principais componentes do balanço de pagamentos são apresentados individualmente. Desta forma, se fez possível medir a contribuição de cada um destes parâmetros para compor a taxa de crescimento estimada pelo modelo. Os termos a que se faz referência são: comércio internacional, termos de troca, fluxos de capital (sem determinação de limites à entrada) e pagamento de juros.

De acordo com o período estudado e tendo como referência as estimações de Carvalho e Lima (2009) para os períodos 1930-2004 e 1994-2004, procurou-se identificar relações a partir dos resultados encontrados, estabelecendo considerações sobre o desempenho das contas externas do país. A corrente de comércio e as características das pautas de exportação e importação, refletem a competitividade dos produtos brasileiros no exterior e no mercado doméstico, sinalizando para a o perfil de adequação desejada de nossa estrutura produtiva do ponto de vista do crescimento do produto compatível com o equilíbrio das contas externas.

Em linha geral, os resultados encontrados e reportados na Tabela 4, indicam que o componente de comércio, o qual incorpora efeitos das elasticidades renda e preço das exportações e importações e a posição de competitividade externa dos produtos brasileiros indicou importante recuo no período 1994-2004 e pequena recuperação considerando-se o período 1948-2013. O crescimento expressivo dos volumes e preços da pauta de exportações entre os anos 2003 e 2007, viabilizados pelo ciclo de valorização das commodities, foi corretamente identificado, conforme os resultados do modelo. Esta resposta positiva pode ter sido enfraquecida pela regressividade da pauta de comércio que vem diminuindo, nos últimos anos, o componente tecnológico dos produtos exportados, ao passo que vem intensificando o conteúdo tecnológico na pauta de importações. Também a partir da Tabela 4, observa-se que, dentre os principais componentes do balanço de pagamentos, o componente real, associado aos fluxos comerciais, tem determinado de maneira mais intensa o comportamento do produto

50 agregado em termos de taxas de crescimento anual nos períodos analisados. Os termos de troca contribuem em média com uma terça parte das taxas de crescimento verificadas nos três períodos indicados na Tabela 4. Já o componente financeiro, o qual contribuiu negativamente para o crescimento da renda no período de 1930-2004, vem refletindo elementos de maior abertura do país aos fluxos de capitais externos, bem como os ciclos recentes de expansão da liquidez internacional

Analisando mais detalhadamente o componente de comércio verifica-se que, a despeito dos benefícios proporcionados pela situação favorável da economia mundial durante os anos 2000 até a crise financeira de 2008, a economia brasileira não apresentou evolução estrutural em sua estratégia de inserção internacional. Neste sentido, a condição de vulnerabilidade externa expressa pelas contas corrente e financeira, sofreu um importante revés a partir do final da década que talvez poderia ter sido ser minimizado caso o país tivesse obtido melhor desempenho quando do período dos fluxos positivos de divisas externas que marcaram o início da mesma década.

A partir do ano de 2007, antes mesmo da manifestação da crise financeira internacional, o país já demonstrava o recuo dos indicadores das contas externas que refletem sua condição de vulnerabilidade latente dada pela ausência de uma posição competitiva mais dinâmica no cenário mundial. O país posiciona-se em uma condição cuja aceleração das taxas de crescimento de sua renda fica atrelada aos ciclos de liquidez internacional.

Tal verificação segue em linha com a proposição da Lei de Thirlwall e a mesma permanece válida quando aplicada à economia brasileira em diferentes períodos, conforme puderam comprovar os testes empíricos.

De acordo com a abordagem do modelo de Thirlwall e as diversas especificações dele provenientes, somente um enfrentamento da condição estrutural de competitividade alterando a razão das elasticidades renda das exportações e importações, permite aos países mais vulneráveis aos fluxos de divisas em moeda estrangeira, minimizar tal exposição e determinar maior autonomia ao próprio desempenho em termos de taxas de crescimento do produto.

51 O modelo de inserção de comércio adotado pelo país nos últimos vinte anos, desde a adoção do que convencionou-se chamar de “nova estratégia de desenvolvimento”, tem repercutido de maneira oposta às considerações que se fazem possíveis a partir da abordagem da Lei de Thirlwall.

O resultado se observa na desaceleração das taxas de crescimento, especialmente a partir do ano de 2011, a qual vem se intensificando, fazendo com que os resultados em termos de dinamismo econômico se descolem da realidade observada por outras economias emergentes. Tal quadro sugere a revisão da estratégia de inserção internacional e a readequação da estrutura produtiva do país, sob pena de que estudos futuros que pretendam validar, como este, a aplicabilidade do modelo de Thirlwall para o Brasil, venham a encontrar ainda elevados níveis de aderência, seja a partir do modelo original, que destaca o componente comercial; seja em suas especificações posteriores que incorporam efeitos dos fluxos financeiros à condição do equilíbrio das contas externas.

52

Bibliografia

ALLEYNE D. and FRANCIS A.A. (2008), “Balance of payments constrained growth in developing countries: a theoretical perspective”, Metroeconomica, May.

ALONSO J.A. and GARCIMARTIN C. (1998), “A new approach to balance of payments constraint: some empirical evidence”, Journal of Post Keynesian Economics, Winter.

ARAUJO R.A. and LIMA G. (2007), “A structural economic dynamics approach to balance of payments constrained growth”, Cambridge Journal of Economics, September.

BAIRAM E. (1993) “Static versus dynamic specifications of the Harrod trade multiplier”, Applied Economics, June. 346 PSL Quarterly Review.

BAGNAI A., REIBER A. and ANH-DAO TRAN (2011), “Generalized balance of payments constrained growth and South-South trade in Sub-Saharan Africa”, mimeo.

BANCO CENTRAL DO BRASIL – BCB, Sistema gerenciador de séries temporais, http://www.bcb.gov.br/?serietemp.

BARBOSA-FILHO N. (2001), “The balance of payments constraint: from balanced trade to sustainable debt”, BNL Quarterly Review, December.

______ (2002), “International liquidity and growth fluctuations in Brazil: 1966-2000”. Instituto de Economia – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.

BERTOLA L., HIGACHI H. and PORCILE G. (2002), “Balance of payments constrained growth in Brazil: a test of Thirlwall’s Law 1890-1973”, Journal of Post Keynesian Economics, Fall.

BLECKER R.A. (1998), “International competitiveness, relative wages and the balance of payments constraint”, Journal of Post Keynesian Economics, Summer.

53 BRITTO G. and MCCOMBIE J.S.L. (2009), “Thirlwall’s Law and the long-run equilibrium growth rate: an application to Brazil”, Journal of Post Keynesian Economics, Fall.

CARVALHO V.R. (2005), “A restrição externa e a perda de dinamismo da economia brasileira: investigando as relações entra estrutura produtiva e crescimento econômico”, Dissertação de Mestrado. Faculdade de Economia Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.

CARVALHO V. R. e LIMA G. (2009), “Estrutura produtiva, restrição externa e crescimento econômico: a experiência brasileira”, Economia e Sociedade, vol. 18 n. 1.

CARVALHO V. R., LIMA G. e SANTOS A. (2008), “A restrição externa como fator limitante do crescimento econômico brasileiro: um teste empírico”, Revista de Economia, vol. 9 n.2.

CIMOLI M., PORCILE G. and ROVIRA S. (2010), “Structural change and the BOP constraint: why did Latin America fail to converge?” Cambridge Journal of Economics, March.

DRAY, M. and THIRLWALL A.P. (2011), “The endogeneity of the natural rate of growth for a selection of Asian countries”, Journal of Post Keynesian Economics, Spring.

DUTT A.K. (2002), “Thirlwall’s Law and uneven development”, Journal of Post Keynesian Economics, Spring.

______ (2003), “Income elasticities of imports, North-South trade, and uneven development”, in Dutt A.K. and Ros J. (eds.) Development economics and structuralist macroeconomics, Cheltenham: Edward Elgar.

ELLIOT D. and RHODD R. (1999), “Explaining growth rate differences in the highly indebted countries: an extension to Thirlwall and Hussain”, Applied Economics, September.

54 FERREIRA A. (2001) “A Lei de Crescimento de Thirlwall”. Dissertação de Mestrado. Instituto de economia - Universidade Estadual de Campinas.

FERREIRA A. and CANUTO O. (2003), “Thirlwall’s Law and foreign capital in Brazil”, Momento Econômico, January-February.

GONÇALVES, R. (2012) “Ciclo econômico global e vulnerabilidade externa estrutural do Brasil”. I.E UFRJ versão 07.08.2012 Rio de Janeiro.

GOUVEA R.R. and LIMA G. (2011), “Balance of payments constrained growth in a multi- sectorial framework: a panel data investigation”, mimeo.

______ (2010), “Structural change, balance of payments constraint and economic growth: evidence from the multi-sectorial Thirlwall’s Law”, Journal of Post Keynesian Economics, Fall.

HOLLAND M., VIEIRA F.V. and CANUTO O. (2004), “Economic growth and the balance of payments constraint in Latin America”, Investigacion Economica, January-March.

HUSSAIN, M.N. (1999), “The balance of payments constraint and growth rate differences among African and East Asian countries”, African Development Review, June.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE, Indicadores estatísticos http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores.

JAYME F.G. (2003), “Balance of payments constrained economic growth in Brazil”, Brazilian Journal of Political Economy, January-March.

JOHANSEN S. (1988), “Statistical analysis of cointegration vector”, Journal of Economic Dynamics and Control, Vol. 12.

KEYNES J.M. (1936), “The general theory of employment, interest and money”, London: Macmillan.

55

KHAIR, A. (2009) “Caminhos para o desenvolvimento – uma visão estratégica”. In Sociedade e economia: estratégias de crescimento e desenvolvimento, Org. João Sicsú e Armando Castelar, Brasília: Ipea.

KRUGMAN P. (1989), “Differences in the income elasticities and trends in the real exchange rates”, European Economic Review, May.

LACERDA, A. C. (2013) de. “A crise internacional e a estrutura produtiva brasileira” Revista Economia & Tecnologia, Vol. 9 n.1 p. 05-18.

LOPEZ J. and CRUZ A. (2000), “ ‘Thirlwall’s Law’ and beyond: the Latin American experience”, Journal of Post Keynesian Economics, Spring.

MCCOMBIE, J.SL. (1981), “Are international growth rates constrained by the balance of payments?” BNL Quarterly Review, December.

______ (1985), “Economic growth, the Harrod trade multiplier and the Hicks super multiplier”, Applied Economics, February.

______ (1989), “Thirlwall’s Law and balance of payments constrained growth – a commenton the debate”, Applied Economics, May.

______ (1997), “On the empirics of balance of payments constrained growth”, Journal of Post Keynesian Economics, Spring.

______ (2011), “Criticisms and defenses of the balance of payments constrained growth model: some old, some new”, PSL Quarterly Review, vol 64 n. 259.

MCCOMBIE J.S.L. and THIRLWALL A.P. (1994), “Economic growth and the balance of payments constraint”, New York, St. Martin´s Press.

56 ______ (1997), “Economic growth and the balance of payments constraint revisited”, in Arestis P., Palma P. and Sawyer M. (eds.). Markets, unemployment and economic policy: essays in honor of G. Harcourt, vol.2, London: Edward Elgar.

______ (1997), “The dynamic Harrod trade multiplier and the demand-oriented approach to economic growth: an evaluation”, International Review of Applied Economics, January.

MORENO-BRID J. (1998), “On capital flows and the balance of payments constrained growth model”, Journal of Post Keynesian Economics, Winter.

______ (2003), “Capital flows, interest payments and the balance of payments constrained growth model: a theoretical and empirical analysis”, Metroeconomica, May.

NELL K. (2003), “A generalised version of the balance of payments growth model: an application to neighboring regions”, International Review of Applied Economics, July.

PACHECO-LOPEZ P. and THIRLWALL A.P. (2006), “Trade liberalization, the income elasticity of demand for imports and economic growth in Latin America”, Journal of Post Keynesian Economics, Fall.

PASINETTI L. (1981), “Structural change and economic growth: a theoretical essay on the dynamics of the wealth of nations”, Cambridge: Cambridge University Press.

PERRATON J. (2003), “Balance of payments constrained growth and developing countries: an examination of Thirlwall’s hypothesis”, International Review of Applied Economics, January.

PORCILE G., DUTRA M.V. and MEIRELLES A.J.A. (2007), “Technology gap, real wages and learning in a balance of payments constrained growth model”, Journal of Post Keynesian Economics, Spring.

RESENDE M.F.C. (2005) O Padrão dos ciclos de crescimento da economia brasileira:1947- 2003. Economia e Sociedade, V 14, n.1 (24) jan-jun - Campinas.

57 RIBEIRO, F. J. (2013) “Balanço de pagamentos e vulnerabilidade externa: evidência recente e indicadores”. Fórum Nacional INAE - Instituto Nacional de Altos Estudos, Rio de Janeiro.

SOLOW R. (1956), “A contribution to the theory of economic growth”, Quarterly Journal of Economics, February.

STUDART, R. (1995), “Investment finance in economic development”, London: Routledge.

TAYLOR L. (1981), “South-North trade and Southern growth: bleak prospects from a structuralist point of view”, Journal of International Economics, November.

THIRLWALL A.P. (1979), “The balance of payments constraint as an explanation of international growth rate differences”, BNL Quarterly Review, March.

______ (1983), “Foreign trade elasticities in center-periphery models of growth and development”, BNL Quarterly Review, September.

______ (1987), Keynes and economic development, London: Macmillan.

______ (2006), “The structure of production, the balance of payments and growth in developing countries: an essay in memory of Mohammed Nureldin Hussain”, African Development Review, April.

______ (2011) “Balance of payments constrained growth models: history and overview”, PSL Quarterly Review, vol. 64 n. 259, p. 307-351.

THIRLWALL A.P. and HUSSAIN M.N. (1982), “The balance of payments constraint, capital flows and growth rate differences between developing countries”, Oxford EconomicPapers, November.

UNITED STATES DEPARTMENT OF LABOR – Bureau of labor statistics. http://www.bls.gov.

58 VERA L.A. (2006), “The balance of payments constrained growth model: a North-South approach”, Journal of Post Keynesian Economics, Fall.

WILLIAMSON, J. (1990) “What Washington mean by policy reform”, in Conference Volume of The Progress of Policy Reform in Latin America. Washington, DC: Institute of International Economics.

59

Documentos relacionados