• Nenhum resultado encontrado

Pode-se conceituar os direitos sociais como prestações positivas que atuam como meios de efetivação do princípio da igualdade material entre os indivíduos na medida em que lhes proporcionam o mínimo existencial para a manutenção de uma vida digna.

Os direitos sociais possuem natureza de direito fundamental, uma vez que, sob a perspectiva formal, estão previstos no Título II da Constituição Federal de 1988 que dispõe acerca “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”. Sob a perspectiva material, os direitos sociais são expressão do princípio da dignidade da pessoa humana, o qual figura como princípio norteador dos direitos fundamentais. Os direitos econômicos, sociais e culturais apresentam, portanto, natureza de direito fundamental tanto no aspecto formal, quanto material.

O caráter programático dos direitos sociais, decorrente da suposta ausência de exigibilidade imediata desses direitos, é um dos argumentos utilizados para legitimar a imposição de limites às garantias sociais por Estados que se encontram em crise econômica. Este é o caso do Estado Português, que adotou uma política de austeridade como forma de combater a crise econômica.

As restrições aos direitos sociais foram uma das medidas adotadas para reduzir as despesas do Poder Público, dando início, assim, à redução dos investimentos em saúde e educação e ao congelamento de salários e aposentadorias de servidores públicos. A ausência de capital decorrente de crise econômica é o principal argumento utilizado para legitimar tais limitações às garantias sociais.

A alegação de impossibilidade financeira não pode ser utilizada para retirar do Estado o dever de dar eficácia aos direitos sociais, uma vez que, enquanto direitos fundamentais que garantem aos indivíduos o mínimo existencial para a manutenção de uma vida digna, esses direitos carecem de máxima proteção frente à discricionariedade do legislador e do Poder Público.

Os direitos sociais, assim como todos os direitos fundamentais, não podem ser considerados absolutos, entretanto, a imposição de limites aos limites dos direitos sociais é imprescindível para a proteção das garantias sociais contra arbitrariedades tendentes a restringir os direitos sociais.

O princípio da proibição do retrocesso é uma imposição constitucional contra a supressão ou restrição dos direitos sociais. Por meio da proibição do retrocesso os direitos

sociais ganham um caráter progressivo, segundo o qual a evolução normativa deve conferir sempre maiores garantias sociais aos indivíduos.

As medidas restritivas de direitos sociais devem ainda atender ao princípio da proporcionalidade, segundo o qual a limitação às garantias sociais deve ser a única alternativa ao Estado e a restrição deve ser a mínima necessária para solucionar o problema no caso concreto.

O princípio da proteção ao núcleo essencial, muito embora não esteja expressamente prevista no texto constitucional, atua como barreira às restrições de direitos sociais, impedindo que o núcleo essencial do direito seja objeto de limitação, evitando, assim, que a norma constitucional que prevê os direitos sociais seja reduzida a letra morta da Constituição.

Não obstante não se possa relegar que a inexistência de recursos financeiros impossibilita a atuação do Poder Público na manutenção das garantias sociais, a simples alegação não é suficiente para legitimar as restrições aos direitos sociais, sendo necessária a comprovação de que as limitações a esses direitos é a única alternativa estatal.

Não se pode permitir que os direitos sociais sejam os primeiros a sofrer restrições em virtude de crise econômica, uma vez que os direitos sociais, assim como todos os direitos fundamentais, resguardam bens jurídicos axiologicamente superiores aos demais direitos previstos no texto constitucional, devendo, portanto, ser protegidos enquanto seja possível.

REFERÊNCIAS

AGRA, Walber de Moura. Direitos sociais. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira; NASCIMENTO, Carlos Valder do. Tratado de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.

BARROSO, Luís Roberto; BARCELLOS, Ana Paula. O começo da história: a nova interpretação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro. Revista da

EMERJ, Rio de Janeiro, v. 6, n. 23, p. 25-65, 2003. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.

br/portal/sites/default/files/anexos/31274-34849-1-PB.pdf>. Acesso em: 05 maio 2014.

BOMTEMPO, Alessandra Gotti. Direitos sociais: eficácia e acionabilidade à luz da Constituição de 1988. Curitiba: Juruá, 2008.

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. ______. Do estado liberal ao estado social. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1996.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 20 abr. 2014.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A crise financeira de 2008. Revista de Economia

Política, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 133-140, jan./mar. 2009. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/rep/v29n1/08.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2014.

______. Dominação financeira e sua crise no quadro do capitalismo do conhecimento e do Estado Democrático Social. Estudos Avançados, São Paulo, v. 22, n. 64, p. 195-205, dez. 2008. Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/papers/2008/08.26.Dominacao_ financeira.Estudos Avancados.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2014.

CANOTILHO, Joaquim José Gomes; MOREIRA, Vital. Fundamentos da Constituição. Coimbra: Coimbra, 1991.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 3. ed. Coimbra: Almedina, 1999.

CLÈVE, Clèmerson Merlin; FREIRE, Alexandre Reis Siqueira. Algumas notas sobre colisão de direitos fundamentais. Cadernos da Escola de Direito e Relações Internacionais

da Faculdade do Brasil, Curitiba, p. 29-42, mar./ago. 2002. Disponível em:

<http://www.unibrasil.com.br/sitemestrado/_pdf/comentarios-a-constituicao-federal-de-1988. pdf>. Acesso em: 05 maio 2014.

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2010.

COURTIS, Christian. La prohibición de regresividad en materia de derechos sociales: apuntes introductorios. In: COURTIS, Christian (compl.). Ni um passo atrás: la prohibición de regresividad en materia de derechos sociales. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Del Puerto,

2006. p. 9-52. Disponível em: <http://www.corteidh.or.cr/tablas/ 25896.pdf>. Acesso em: 05 maio 2014.

FARACO, Bruno Muller. Problemas de convergência econômica na zona do Euro e crise

da Grécia. 2013. 48 f. Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) – Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2013.

FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 24. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011.

GONÇALVES, Maria Eduarda; PATO, João; SANTOS, Antônio Carlos dos. O Estado português na encruzilhada: bens públicos, direitos sociais, liberdades e qualidade da democracia. Argumentum – Revista de Direito, Marília, v. 13, p. 39-56, 2012. Disponível

em: <http://www.unimar.br/biblioteca/publicacoes/direito/ARGUMENTUM_13.pdf>. Acesso em: 05 maio 2014.

KRELL, Andreas Joachim. Direitos sociais e controle judicial no Brasil e na Alemanha: os descaminhos de um direito constitucional “comparado”. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Editor, 2002.

LIMA, Pedro Souza. A eficácia horizontal dos direitos fundamentais no Brasil e sua

hipótese de aplicação. 2013. 65 f. Monografia (Graduação em Direito) – Universidade de Fortaleza. Fortaleza, 2013.

MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. São Paulo: Atlas, 2008.

______. Efetivação judicial dos direitos econômicos, sociais e culturais. 2005. 257 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2005.

MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. MORRIS, Charles R. O crash de 2008: dinheiro fácil, apostas arriscadas e o colapso global do crédito. São Paulo: Aracati, 2013.

NOVAIS, Jorge Reis. Direitos fundamentais e justiça constitucional em Estado de Direito

Democrático. Coimbra: Coimbra, 2012.

______. Direitos sociais: teoria jurídica dos direitos sociais enquanto direitos fundamentais. Coimbra: Coimbra, 2010.

OLSEN, Ana Carolina Lopes. A eficácia dos direitos fundamentais sociais frente à reserva

do possível. 2006. 378 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2006.

PAULO, Sebastian. A Europa e a crise financeira mundial: balanço da resposta política da EU. São Paulo, abril de 2011. Disponível em: <http://ec.europa.eu/portugal/pdf/informa/ publicacoes/resposta_crise_ue_pt.pdf>. Acesso em: 02 maio 2014.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 7. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

______. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011.

______. Os direitos fundamentais sociais na Constituição de 1988. Revista Diálogo Jurídico, Salvador, v. 1, n. 1, p. 29, abr. 2001. Disponível em: <http://www.direitopublico.com.br/pdf_ seguro/revista-dialogo-juridico-01-2001-ingo-sarlet.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2014.

SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros, 2008. SILVA, Manuel Carvalho da. A anatomia da crise: identificar os problemas para construir as alternativas. Relatório Observatório sobre Crises e Alternativas do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, 11 dez. 2013. Disponível em: <http://www.ces.uc.pt/ ficheiros2/files/Relatorio_Anatomia_Crise_final__.pdf>. Acesso em: 05 maio 2014.

SOUZA, Marcos Sampaio. O conteúdo essencial dos direitos sociais no constitucionalismo

brasileiro. 2011. 267 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2011.

TAVEIRA, Cristiano de Oliveira; MARÇAL, Thaís Boia. A proibição do retrocesso social e orçamento: em busca de uma relação harmônica. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 264, p. 161-186, set./dez. 2013. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/ index.php/rda/article/view/14080/12948>. Acesso em: 05 maio 2014.

ZAVASCKI, Teori Albino. Direitos fundamentais de terceira geração. Revista da Faculdade

de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, n. 15, p. 227-232,

1998. Disponível em: <http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/121/Direitos_ fundamentais_de_terceira.pdf?sequence=1>. Acesso em: 12 abr. 2014.

Documentos relacionados