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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.4 Considerações finais

As propriedades térmicas dos materiais de construção se tornaram objeto de intenso estudo devido, entre outros fatores, ao crescimento da demanda por edificações mais eficientes energeticamente e, consequentemente, com melhor desempenho térmico. Dentre elas, as propriedades superficiais são aquelas responsáveis pelo comportamento da radiação ao incidir sobre as superfícies, sendo determinantes na temperatura superficial dos corpos.

A refletância solar é a propriedade radiante mais estudada, tanto no Brasil quanto em outros países. Diversos pesquisadores já comprovaram que o uso de revestimentos externos de alta refletância favorece o desempenho térmico de edificações em regiões com clima quente. Quanto à emitância térmica, há um número menor de pesquisas explorando a sua influência no desempenho térmico das edificações.

Os estudos a respeito de materiais frios demonstram que esse termo não trata necessariamente de novos materiais, mas

sim da classificação de determinados revestimentos (de alta refletância e emitância) dentro de um conceito. Demonstram ainda que esse conceito não está bem consolidado, pois não há uma delimitação de valores de refletância e emitância para que determinado revestimento possa ser chamado de “frio”. A questão da alta emitância mostra-se como o ponto menos discutido nas pesquisas. Os revestimentos chamados de frios nas referências analisadas diziam respeito a revestimentos brancos ou tintas coloridas de alta refletância na parcela do infravermelho-próximo do espectro solar. Estas últimas sempre apresentavam maior refletância total que as tintas convencionais de mesma cor, porém não apresentavam emitância mais elevada. Apenas com isso poder-se-ia avaliar que a vantagem no uso dos revestimentos frios está baseada em sua maior refletância, e não necessariamente em sua emitância. No Brasil, o estudo dos materiais frios ainda está em fase inicial.

Observou-se que o uso de revestimentos com alta refletância é indicado apenas para regiões de clima predominantemente quente (com maior necessidade de resfriamento), pois pode gerar uma maior necessidade de aquecimento nos locais de clima frio. Para atender a demanda de regiões com clima temperado, algumas pesquisas têm desenvolvido os materiais termocrômicos, capazes de mudar de cor, de forma reversível, de acordo com diferentes faixas de temperatura. Tais materiais ainda não estão disponíveis comercialmente para uso na construção civil e não foram encontradas pesquisas a esse respeito no Brasil.

Destaca-se ainda a importância da manutenção periódica das superfícies para a obtenção do desempenho térmico esperado. A exposição das superfícies às intempéries e à poluição atmosférica pode provocar a redução da sua refletância. Alguns fatores podem provocar uma deterioração irreversível, sendo necessário considerar a renovação do material de revestimento. Porém, as pesquisas analisadas demonstraram que a simples limpeza das superfícies foi capaz de recuperar consideravelmente sua refletância. Isso indica que a consequência mais frequente da exposição natural dos revestimentos é o acúmulo de sujeira, que escurece a superfície, e pode ser solucionado com a limpeza periódica. Por esse mesmo motivo, as superfícies mais claras foram mais impactadas pela exposição natural que as mais escuras.

Todas as pesquisas sobre degradação dos materiais relatadas nesta revisão analisaram o efeito da degradação natural na refletância das superfícies, porém apenas duas delas (SYNNEFA et al., 2006; 2007b) verificaram também a emitância. Ambas concluíram que a degradação influenciou diretamente na refletância, porém não teve impacto na emitância dos revestimentos. Nenhum dos estudos verificou a relevância da emitância no processo de degradação dos materiais, ou seja, se há diferença na intensidade da degradação de superfícies com maior ou menor emitância. Tal questionamento ocorre, pois superfícies com alta emitância seriam mais suscetíveis à condensação e, consequentemente, sofreriam biodeterioração mais rapidamente.

Verificou-se também que quase todos os estudos que analisaram as propriedades superficiais dos materiais em edificações, ou modelos computacionais, restringiram sua aplicação à cobertura. Apenas uma das pesquisas analisou todo o envoltório (SHI; ZHANG, 2011). Nenhuma das pesquisas analisou individualmente o impacto das propriedades superficiais dos materiais de revestimento das paredes externas.

A análise das diversas pesquisas relatadas indica que para obtenção de um melhor desempenho térmico em edificações, considerando a escolha das propriedades radiantes dos materiais de revestimento, é preciso avaliar a necessidade referente ao clima do local. Os estudos referentes ao Brasil vêm considerando prioritariamente o desconforto por calor, e muitas vezes negligenciando o desconforto por frio presente em muitas cidades. Sendo assim considera-se essencial a definição de um método para seleção dos valores de refletância solar e emitância térmica de revestimento mais indicados para edificações nas diferentes realidades climáticas brasileiras.

3 MÉTODO

Esta pesquisa consistiu na realização de duas etapas de trabalho:

1. Procedimento experimental, onde foram medidas e analisadas amostras de materiais de revestimento de diferentes refletâncias e emitâncias, pelo período de um ano. Com o estudo experimental foi possível caracterizar as superfícies através de sua refletância e emitância e analisar o comportamento de revestimentos que podem ser usados no envoltório de edificações. Medições de temperatura superficial das amostras foram utilizadas para verificar a confiabilidade de simulações computacionais. O experimento também indicou o efeito da degradação natural nas propriedades superficiais das amostras, permitindo uma análise do seu desempenho a longo prazo.

2. Definição e aplicação de um método de análise por simulação computacional, onde um modelo de edificação, com variações em seus materiais de revestimento, foi analisado para os diferentes tipos de clima brasileiros. As simulações computacionais permitiram analisar o impacto do uso de revestimentos com diferentes valores de refletância e de emitância no desempenho termo-energético de um modelo de edificação.

A seguir são descritas detalhadamente essas etapas do trabalho, com os procedimentos e técnicas adotados.