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Este estudo nos mostra que, além da carga excessiva de trabalho, outras questões sociais e culturais influenciaram para o surgimento da doença destes pacientes. O contexto social em que os entrevistados se encontram no que tange a história de trabalho infantil ou adolescente precoce e decorrente da baixa escolaridade, trouxe pouca oportunidade de escolha do tipo de trabalho que poderiam exercer, ficando à mercê de trabalhos mais penosos física e psicologicamente. Da mesma forma o fato de a maioria dos adoecidos serem do sexo feminino demonstra um fator cultural das questões de gênero relacionadas ao trabalho: a dupla ou tripla jornada de trabalho, os encargos das tarefas domésticas e as típicas “profissões femininas”

acabam por eleger as mulheres ao sofrimento por LER/Dort.

Com relação às causas das LER/Dort na visão dos trabalhadores deste estudo, estes parecem perceber as raízes de sua doença na sua história de vida laboral, entretanto quando questionados sobre possíveis formas de prevenção suas respostas trazem à tona a forma como o trabalho influencia suas vidas, incorporando em si a responsabilidade na prevenção da doença. Entretanto em algumas respostas podemos vislumbrar outros painéis de o trabalhador tomando consciência de outras interferências além de sua própria culpabilização: da organização do trabalho que controla os ritmos e cargas de trabalho, bem como da organização social evidenciada no papel dos sindicatos como fomentadores de ambientes saudáveis nas empresas.

Contudo a questão de maior importância que se impõe no discurso desses trabalhadores é a violência no ambiente de trabalho, com os constrangimentos e ameaças constantes fazendo os trabalhadores executarem suas tarefas com medo, sem diálogo com os colegas, tornando o ambiente de trabalho nefasto ao invés de ser um local de promoção da saúde dos trabalhadores. Nesse contesto as LER/Dort não aparecem como um problema, mas sim como um sintoma da construção social do mundo atual, em que o trabalho é o fator principal na estruturação da identidade do indivíduo, sendo moldada sob aspectos de violência, competitividade e desrespeito.

Em contrapartida reforçar os coletivos de trabalho e os mecanismos de cooperação no trabalho poderiam gerar ambientes mais saudáveis para construção da identidade e cidadania das pessoas.

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EXPOSIÇÃO AO AGROTÓXICO