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As análises realizadas até aqui mostram que o significado da Didática, atualmente, reitera a existência dos avanços da área nas suas construções teórico-práticas, apesar dos paradoxos encontrados neste estudo. A atuação do profissional docente de ensino superior tende a ser mais incisiva quanto à prática pedagógica reflexiva nos cursos de formação de professores.

Os discursos dos sujeitos desta pesquisa, nos momentos das entrevistas e das observações na sala de aula, estavam impregnados da época histórica, das culturas e da classe social de pertencimento, as quais lhes emprestam as significações constitutivas dos conceitos e das percepções que atribuíram às categorias envolvidas nas questões referentes à Didática.

Estes atores pedagógicos-sociais são seres significantes. Suas palavras, seus gestos não podem ser entendidos encerrando-os em si mesmos, porque foram contextualizados no presente, no seu espaço geográfico e no seu momento histórico, em que eles emergiram, além de situar os projetos que estão inscritos para o futuro, porque as relações entre este conjunto de fatores refletem-

se na constituição do seu modo de ser, pensar e agir sobre o mundo e, conseqüentemente, na e sobre sua prática pedagógica.

As concepções estruturadas pelos docentes envolvidos, sobre o significado da Didática na formação do profissional docente, nesta investigação, estão dentro de perspectivas que privilegiam algumas linhas pedagógicas referentes aos seus valores, saberes, conhecimento, em relação a outras. O resultado desta forma de olhar a Didática como sendo menos ou mais valorizada é proveniente dessas concepções.

As percepções e as concepções destes sujeitos se encontram inevitavelmente contaminadas pelo filtro da linguagem, do gênero, da classe social, das concepções pedagógicas. Enfim, pela posição e condição que cada um ocupa no contexto de relações e pela ordem social capitalista. Os docentes e a própria instituição se encontram diante do desafio de construir outras formas mais amplas e flexíveis de conceber e perceber as diferenças pedagógicas, permitindo uma (re)significação da Didática, visando a construção de um novo profissional docente.

Faz-se necessário, também, discutirmos o fortalecimento do sujeito, em termos de situarmos, enquanto construtor do seu conhecimento. O reconhecimento dos vários fatores e narrativas que norteiam sua atual condição, descortinando as reais causas das negações das identidades e a problemática enfrentada pelo campo didático, situa-se como um dos objetivos prioritários para a formação da prática educativa. Portanto, a assimilação de uma Didática privilegiada, seus conhecimentos e seus avanços e a preparação para as

exigências técnicas, passam a ser questionados como principal fator para a formação do professor.

Desse modo, faz-se necessário abrir espaços que estimulem o enriquecimento do docente, constituído como sujeito de suas experiências, pensamentos, desejos e afetos. O enriquecimento destes indivíduos requer estruturas democráticas que favoreçam e estimulem estes intercâmbios culturais, didáticos, diversificados, nos espaços existentes. Proporcionar o espaço de trocas entre sujeitos supõe, ao mesmo tempo, a liberdade pessoal e o desenvolvimento destes, enquanto profissionais docentes, que irão contribuir com a emancipação de indivíduos, grupos e sociedades.

Neste sentido, a formação de profissionais docentes, voltada à questão do significado da Didática, necessita ser permeada pela realização de seminários, pelo estabelecimento de grupos de estudos, pela produção de trabalhos voltados para integração de grupos, por discussões sobre as questões da área de Didática, e por pesquisas e estudos voltados para as identidades docentes com fins de identificar como os discentes se reconhecem em suas identidades. Ainda, deve abrir espaço para discutir a questão da identidade do professor, seu autoconceito e auto-estima, resgatando sua relevância social, seu valor e poder de transformação, enquanto educador, e a importância que representa na vida pessoal e profissional das pessoas e da sociedade. Estes e outros aspectos são possíveis caminhos para a superação das problemáticas que identificamos neste estudo.

A reflexão empreendida, neste trabalho, não conduz a uma conclusão, mas antes de tudo, abre novas perspectivas, considerando-a como

ponto de partida para futuras pesquisas que, utilizando os pressupostos aqui explicitados, possam encaminhar um repensar e um redimensionar das questões educacionais e sociais em perspectiva com o significado crítico da Didática que pretende uma formação docente mais justa diante das diferenças educacionais.

É urgente continuarmos trazendo esta discussão para o espaço educativo. Por excelência, a universidade tem sido ocupada por indivíduos oriundos das mais diversas culturas que precisam, na academia, desenvolver autonomia e pensamento crítico. Uma forma de repensarmos e reestruturarmos as atividades docentes voltadas para esta proposta é inserirmos, na formação dos professores, uma perspectiva de intelectuais transformadores, com posicionamento pedagógico crítico em face das políticas vigentes, contrapondo-se àquela formação restrita ao papel de instrutores e técnicos que mantêm o status quo. Aqui vale exaltarmos Pimenta (2002), quando declara, que “[...] a renovação da Didática terá por base os aspectos pedagógicos [...]” (p. 48).

Isto significa desenvolvermos uma posição de formador crítico frente às ideologias vigentes que suprimem a capacidade dos sujeitos se constituírem, enquanto agentes históricos de resistência, que lidem com a diferença numa perspectiva de construção de alianças, de sonharem junto e de uma solidariedade que transcenda as posturas condescendentes de forma a se pensar num futuro diferente para a Didática em prol da humanidade: “Cabe, então, à Didática buscar formas de mediação entre os conhecimentos construídos pelas teorias de aprendizagem e as atividades escolares dos alunos” (CALDEIRA e AZZI, 2002, p.103).

Os professores precisam se unir em busca de novos ideais, de novos desafios, mas, acima de tudo, de condições políticas, econômicas e sociais, para que esses conhecimentos didáticos assumam novos significados, pois

[...] o caráter multidimensional e contextualizado da Didática exige que ela seja continuamente repensada à luz dos novos desafios que a sociedade e a educação apresentam para construção da democracia e de uma cidadania plena, consciente e crítica (CANDAU, 2002, p. 94).

Nas últimas considerações deste trabalho, fica claro que a reflexão realizada por Candau (2002) no texto “Da Didática fundamental ao fundamental da Didática”, quando questionou, após vinte anos de “A Didática em questão” se “[...] não estaria já superada essa discussão? [...]” (Ibid., p. 75). A descoberta da autora, após depoimentos de alunos e alunas de diferentes licenciaturas, motivações e reações dos professores, foi a evidência de um significado da Didática, ainda, numa perspectiva instrumental. Isso permitiu, na época, e nos permite, também hoje, terminado, provisoriamente, este estudo,

afirmar que esta é ainda a visão dominante nas representações dos profissionais da área do papel da Didática e que existe uma enorme distância entre a reflexão acadêmica sobre o tema e as necessidades, as inquietudes e as expectativas dos professores (Ibid., p. 76).

Fica explícito que a discussão sobre essa questão é atual e não foi superada. Mesmo com relevantes avanços e com boas intenções dos docentes de ensino superior, o significado da Didática na formação do profissional docente está, ainda, um pouco distante de superar o caráter normativo e disciplinador.

A importância do registro das palavras de Pimenta (2002), para finalizarmos este trabalho, fortalece a nossa posição como pesquisadora, no tocante “tomar o ensino de Didática na formação de professores como objeto de pesquisa pode se constituir em caminho fértil na ressignificação da Didática [...]” (p. 67).