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Este trabalho contribui para a literatura empírica sobre o desequilíbrio regional brasileiro, ao analisar, no período pós-Plano Real, o desempenho econômico de cada região do País em termos do crescimento pró-pobre e do bem-estar social. Os principais resultados apontam que, tanto em relação à renda familiar quanto à renda do trabalho e aos níveis de bem-estar social provocados por estas rendas, as regiões brasileiras encontram-se divididas em dois grupos distintos: um, de renda alta e maiores níveis de bem-estar social, formado por Centro-Oeste, Sudeste e Sul; outro, com níveis baixos de renda e de bem-estar, reunindo Norte e Nordeste, com aproximação recente do Nordeste em relação ao Norte. Outra evidência relevante é que, em termos da redução da pobreza, o grupo de renda mais alta teve desem- penho muito superior ao outro grupo, o que mostra a dificuldade das regiões Norte e Nordeste de estabelecerem um padrão de crescimento favorável aos indivíduos mais carentes.

O desempenho em relação à redução da pobreza é sensível à estrutura e ao funcio- namento do mercado de trabalho, dado que a renda salarial é o maior componente da renda familiar. Assim, outra contribuição dessa pesquisa é decompor a renda do trabalho em indicadores de mercado. Nessa direção, os maiores impactos nas taxas de crescimento da renda do trabalho em todas as regiões foram devidos ao aumento da taxa de participação de trabalhadores nas famílias e, principalmente, aos acréscimos na produtividade das pessoas ocupadas. Em relação à produtividade, os impactos positivos foram causados pelo aumento da escolaridade e os negativos pelos retornos de educação.

Com relação à análise dos subperíodos, de 1995-2002 e de 2002-2006, os resul- tados foram díspares. No primeiro período, a magnitude dos impactos negativos foi superior a dos positivos e, dessa forma, houve perda de produtividade. Dessa maneira, ficou evidente o ganho de escolaridade, mas ficou claro também que a capacidade das pessoas de transformarem uma dada educação em renda foi menor que o aumento nos anos de estudo desses indivíduos. No que se refere ao período mais recente, os ganhos de escolaridade apresentaram taxas próximas àquelas do período anterior; porém, as taxas de retorno da educação foram muito superiores, notadamente a partir de 2003. Além disso, verificou-se uma melhor redistribuição dos retornos educacionais entre as famílias. Esses ganhos em educação provocaram também impactos positivos no bem-estar social, caracterizando o crescimento da renda do trabalho como pró-pobre em todas as regiões do País.

Uma extensão natural desse estudo é a obtenção de condicionantes para os di- ferenciais de produtividade entre trabalhadores nas diversas regiões do Brasil. A

separação de trabalhadores entre pobres e não pobres, por área censitária (zona urbana, metropolitana e rural), por classe educacional, por faixa etária ou mesmo por setores econômicos – de acordo com suas atividades – pode ser requerida. A estrutura educacional familiar também pode ser um importante caminho, como observam Ramos e Reis (2008), que, a partir de estimativas próprias, afirmam que “o diferencial de rendimentos entre dois trabalhadores com 6 anos de escolaridade, o primeiro com pais que alcançaram 8 ou mais anos de estudo e o segundo com pais que chegaram a 3 anos de estudo ou menos, é de aproximadamente 12%. No entanto, caso os dois trabalhadores citados possuíssem 15 anos de escolaridade, o diferencial estimado seria de aproximadamente 56%.

Outro ponto a ser explorado é a forma como o mercado de trabalho de cada região busca e remunera trabalho qualificado. Ramos (2006), por exemplo, conclui que o comportamento dos retornos de educação se deve em grande parte à natureza das mudanças na oferta e demanda por qualificação no âmbito do mercado de trabalho. Na mesma direção, Andrade e Menezes-Filho (2005) mostram que, embora haven- do redução na proporção de pessoas com baixa escolaridade na força de trabalho do Brasil, a demanda relativa por trabalho qualificado e intermediário não cresceu

entre 1981 e 1999.2 Esses estudos, a despeito de suas relevâncias para a compre-

ensão do papel da educação como redutor de desigualdades, são realizados para o Brasil e, desta forma, não contribuem para a discussão no contexto regional. Assim, as estimativas por regiões também se constituem em extensões interessantes dessas pesquisas.

Além das questões dos condicionantes, é muito importante que novos estudos res- saltem aspectos qualitativos do serviço de educação praticado em cada região do País, pois a dificuldade que as pessoas têm de transformar educação em renda depende do tipo de educação recebida, cuja qualidade se revela no mercado de trabalho. Nesse aspecto, também são fundamentais novas pesquisas que procurem quantificar os diferenciais de retorno da educação técnica profissionalizante vis-à- vis à educação tradicional, cujo acesso ao nível superior ocorre via vestibular, além de outras formas de escolarização como os treinamentos em línguas estrangeiras e informática. Mais um ponto extremamente relevante é a participação do Estado como provedor de educação, principalmente nos níveis mais elementares do ensino, como apontam Sachsida et al. (2004). Segundo estes autores, “uma pessoa de baixa renda e com pouca escolaridade não estaria propensa a investir em educação, pois teria de suportar um custo muito alto gerado pelo baixo retorno até que o investi- mento se tornasse atrativo”.

2 Seria interessante, como extensão a esta pesquisa, a ampliação do período analisado para a década de 2000, abrangendo a recuperação do mercado de trabalho no Brasil a partir de 2003.

Portanto, promover políticas públicas baseadas em grandes investimentos no setor de educação, dotando a prestação de serviços neste setor de alta qualidade, parece ser o caminho mais indicado para redução das desigualdades intra e inter-regional, tanto no sentido da renda como na aproximação do bem-estar social. Dessa for- ma, uma acentuada expansão do sistema educacional que aumente a igualdade de oportunidades deverá reduzir as diferenças geradas na educação e reveladas poste- riormente no mercado de trabalho, fazendo com que o processo de crescimento da renda salarial ocorra num padrão que reduza as desigualdades, o chamado cresci- mento pró-pobre.

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