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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento T ESTE DEP FISTER ED (páginas 119-124)

Os resultados significativos, do ponto de vista estatístico, viabilizaram compreender alguns aspectos sobre os instrumentos projetivos ora usados, Pfister e DFH, e sobre a surdez em si. A análise qualitativa dos resultados psicométricos possibilita uma compreensão dos grupos e dos elementos que compões as duas técnicas. Deste modo, o presente estudo permitiu constatar que:

Os resultados do Pfister, neste trabalho, evidenciam traços de ansiedade em surdos quando comparados com ouvintes e que os surdos apresentam boa estruturação cognitiva. Embora os ouvintes tenham demonstrado estrutura mais sofisticada que os surdos. A diferença de estruturação cognitiva também foi verificada entre os surdos, de modo que os oralizados teriam estrutura cognitiva mais sofisticada que os de comunicação total, que teriam organização mais elaborada que os bilíngües.

Ao considerar esses resultados é preciso atentar-se para presença de ansiedade, pois ela é encontrada em diferentes quadros psicopatológicos e é um sinal de alerta muito importante. No trabalho com os surdos é preciso que se atente a essa característica tomando-se os devidos cuidados para não considerar a ansiedade como cristalizada nesse grupo. Ademais, o fato de indicarem boa estruturação cognitiva é um fator positivo até mesmo para lidar com a ansiedade descrita.

Esses resultados suscitam novas indagações. Haveria uma causa para diferenças na estruturação cognitiva e ansiedade? Elas seriam intrínsecas a surdez ou se dariam por vivencias ao longo da vida? As dificuldades de comunicação da criança surda ao tentar estabelecer as redes sociais e lingüísticas podem interferir nisso? Qual a influência de fatores genéticos, familiares e etiológicos nesses dados? Diante dessas informações, qual o

papel do psicólogo e dos demais profissionais que trabalham com surdos? Todas essas são questões merecedoras de estudos e reflexões.

Ainda falando sobre a utilização do teste de Pfister para surdos, vale destacar que não foi realizada a análise de fórmula cromática, mas que seria interessante se pesquisas futuras considerarem esse indicador. A fórmula cromática leva em conta o grau de estabilidade nas escolhas e a amplitude, isto é, abertura aos estímulos.

Diferindo-se do Pfister, o DFH-Koppitz (1976) não diferenciou os grupos de surdos e ouvintes nos indicadores emocionais nem no nível de maturidade mental. Entretanto, tal como o Pfister, mostrou-se eficaz na comparação dos grupos de surdos de acordo com o modelo educacional em que estão inseridos. A presença dos indicadores transparência somente em comunicação total, braços colados ao corpo somente em bilíngües, três ou mais figuras espontaneamente desenhadas e nuvens aumentado nos grupos de surdos de comunicação total e oralizados em relação aos bilíngües evidenciou diferenças entre os grupos que foram condizentes com as teorias sobre surdez.

A presença do indicador transparência em surdos de comunicação total, associada a característica de ansiedade, reforça o cuidado que se deve ter com este grupo, pois indica que o aproveitamento dos recursos cognitivos está influenciado pela compreensão limitada da realidade e interação precária. Além disso, a presença de três ou mais figuras desenhadas indica a sensação de estarem perdidas num ambiente escolar e de fato isso pode ocorrer com as crianças surdas oralizadas e de comunicação total desse estudo. Todas estudam em escolas públicas, cujas salas de aula tem como característica ter muitos alunos.

Os resultados das duas técnicas na comparação dos surdos corroboram entre si e coadunam com os relatos dos comportamentos das crianças surdas durante a aplicação dos

testes. Destaca-se, entretanto as diferenças em relação à estruturação cognitiva e ansiedade evidenciada no teste de Pfister e ausente no DFH.

O DFH-Sisto e o DFH-Koppitz não diferenciaram aspectos cognitivos entre surdos e ouvintes. Acredita-se, deste modo, que surdos e ouvintes se assemelham nesses aspectos, concordando com os estudos mais recentes sobre os aspectos cognitivos de surdos.

Ademais, as correlações encontradas entre Pfister e DFH evidenciam alguns indicadores em ambos instrumentos que avaliam os mesmos traços de personalidade. Entretanto, há um número relativamente reduzido de correlações e por vezes houve indicadores emocionais, tal como a cor preta no Pfister, que se relacionaram com diversas variáveis do DFH.

A combinação freqüente de determinadas variáveis contribui com a idéia de que um indicador não pode ser analisado isoladamente. No uso cotidiano dos instrumentos, destaca –se a importância de considerar o conjunto de indicadores do teste e o contexto de avaliação como um todo. Do mesmo modo, conforme já mencionado, as técnicas projetivas devem ser analisadas, em pesquisa, de acordo com um conjunto de elementos, formando constelações de indicadores, que possibilitem uma compreensão integral do sujeito. Sugere- se, por tanto, que em pesquisas futuras correlacionem-se os agrupamentos de indicadores que meçam um mesmo traço de ambos os instrumentos.

Neste estudo, faltou fazer as análises de juízes para codificação independente, que permitiria verificar a fidedignidade dos instrumentos. As pesquisas de fidedignidade tem sido bastante relevantes e permitem afirmar a confiabilidade do instrumento, sendo muito importante quando se trata das técnicas projetivas. Além disso, faltou usar instrumentos e análises que avaliassem a adequação das técnicas projetivas que foram usadas.

A validação dos instrumentos para determinados contextos é muito importante, conforme mencionado no capítulo 1. Quando se trata de populações que possuem déficits esse panorama se torna mais grave e quando falamos em surdos, cujas limitações lingüísticas são evidentes, a perspectiva de instrumentos adequados ficam escassas. O fato das técnicas usadas nessa pesquisa serem não verbais e possuírem características lúdicas, reduz a associação com o ambiente escolar, facilitando a aproximação com os surdos.

No que se refere aos modelos educacionais, cada qual possui suas vantagens e desvantagens. Nota-se que os grupos diferenciaram-se em relação aos indicadores, tanto emocionais do DFH como de estruturação cognitiva no Pfister. Isto contribui para a idéia de que há diferenças advindas do modelo ao qual a criança foi exposta.

Não é papel do psicólogo sozinho recomendar qual a política educacional mais adequada, pois além dos aspectos emocionais e cognitivos essa indicação requer um estudo fonoaudiológico e lingüístico das reais possibilidades de cada criança surdas. Cabe sim ao psicólogo e a todo profissional que lida com surdos preocuparem-se com todas essas questões para proporcionar uma formação completa aos surdos.

Contudo, verificaram-se evidências de validade convergente entre o teste de Pfister e o Desenho da Figura Humana. A partir do presente estudo sugerem-se novas pesquisas que venham a contribuir com mais evidências de validade e fidedignidade dos instrumentos, bem como é importante que sejam feitos novos estudos com instrumentos não verbais para surdos, tanto dos aspectos emocionais como cognitivos. Lembrando que as instruções, quando na língua do surdo, não podem ser facilitadas, pois o potencial para aprendizagem e compreensão deve ser considerado o mesmo.

Além disso, essa pesquisa só faz sentido para a população alvo a partir do momento que os psicólogos começarem a usar essas técnicas para favorecer a avaliação e prognóstico dos surdos.

No documento T ESTE DEP FISTER ED (páginas 119-124)

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