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CAPÍTULO II – A TERRITORIALIDADE/TERRITORIALIZAÇÃO COMO FUNDAMENTO DA AÇÃO CONCRETA DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do trabalho buscamos fazer uma análise acerca da lógica de territorialidade e territorialização e sua importância para tratar a vulnerabilidade social. Para tanto, no primeiro momento, apresentamos um breve panorama das condições sociohistóricas contemporâneas que influenciam a vida humana; também foi feito um recorte no modo em que se desenvolve o sistema econômico nos moldes capitalistas, pois através disso foi possível identificar as expressões que geram as vítimas da questão social em seu âmbito político, econômico e cultural. Por meio dessa discussão atentamos e trabalhamos a categoria de pobreza e a categoria de vulnerabilidade social como provocação da questão social e para a emergência da ação Estatal frente ao aprofundamento da questão social e agudização da desigualdade de classes.

Como ação e resposta do Estado frente aos rebatimentos da questão social, trouxemos a proteção social constitutiva da política de assistência social, destacando, ainda, a influência e a defesa dos ideais neoliberais contemporâneos incorporados nas instituições e na prática dos assistentes sociais, principalmente no que tange à ação do Estado, o que evidencia um cerceamento do trabalho profissional na defesa dos direitos sociais da classe trabalhadora. Evidenciamos também que há no trabalho, por meio do salário, uma crença advinda da classe trabalhadora, de possibilidade de acesso à cidadania, o que demonstra a importância de se estar inserido no mercado de trabalho.

Delimitamos, com base na PNAS, o público que constitui população usuária da Política de Assistência Social e quem são “os vulneráveis”, com o objetivo de direcionarmos as situações de vulnerabilidades para dentro de sua conformação territorial. Constatamos que a pobreza eleva o nível da vulnerabilidade social, pois está associada às oportunidades a que os indivíduos têm acesso, uma vez que essas oportunidades vêm da família, da comunidade, do Estado e também do território no qual o indivíduo trava as suas relações sociais para sua sobrevivência. Dessa forma, o território deve ser lugar de política pública, deve oferecer oportunidades de acesso à cidadania.

Na sequência, trouxemos o debate do território em suas dimensões e em seus diferentes recortes, potencialidades e fragilidades, enquanto categoria de “território usado”. Um espaço que possibilita diferentes usos, a vida, a moradia, as relações sociais

78 de poder e solidariedade, a união do espaço físico associado à identidade do indivíduo e a história do local construída com base na dinâmica da vivência humana, ou seja, o chão que possibilita o exercício da cidadania. Ele é considerado pela PNAS (2004) como um elemento-chave para efetivar a proteção social. No entanto, ele só irá oportunizar o acesso à cidadania quando é estudado e, sobretudo, quando o levantamento de dados sobre o território, feito pelos profissionais do CRAS, levar em consideração as particularidades dos díspares territórios e quando o mesmo for levado em consideração pelos sujeitos que operacionalizam a política de assistência social.

Em seguida, abordamos a territorialização como elemento fundante da assistência social, pois a mesma possibilita a oferta de serviços mais próximos à população, abrindo o leque para as possibilidades de romper com as políticas fragmentadas. Analisamos também a categoria de territorialidade em seus níveis individual e coletivo, pois a mesma consiste uma estratégia de influência e controle sobre o território com o objetivo de manter a ordem, através de regras, para organizar as relações de convivência. Logo, ela está vinculada às pessoas e relacionada ao modo como estas fazem uso do espaço, da terra, bem como a forma como dão significado ao lugar em que ocupam no espaço enquanto sociedade, e suas relações de poder na dinâmica social, ela reflete a aquilo que se vive no território.

Assim sendo, seguimos o trabalho discorrendo sobre as vantagens dessa lógica de território e territorialidade e sobre a importância de o assistente social atuar pautado nesta perspectiva, pois a mesma se põe indispensável para o fazer profissional e também é de suma importância para alcançar a proteção social, logo, para o trato da vulnerabilidade social. Assim sendo, abre-se a discussão sobre o Serviço Social, dando ênfase ao trabalho do CRAS e do assistente social, uma vez que perspectiva de território ela possibilita a interpretação e problematização da história no campo das políticas sociais, no campo do trabalho e no campo da questão social, favorecendo o desenvolvimento do trabalho do assistente social e do trabalho dos sujeitos sociais responsáveis pela elaboração das políticas públicas.

Dessa forma, enfatizamos que cabe ao CRAS buscar no território o diagnóstico que evidencie o que pode levar as famílias às situações de risco e, consequentemente, de vulnerabilidade social, uma vez que é o território que materializa as expressões da questão social. Dessa forma, a perspectiva de território é fundamental para a prevenção dos riscos e da vulnerabilidade social, sendo de suma importância que o assistente

79 social conheça o território através de suas estruturas de oportunidades, identificando onde são formadas as redes formais e informais que acabam tendo o poder de fortalecer as famílias que estão desprotegidas das situações de risco e vulnerabilidade, e também conhecer as fragilidades da política oferecida pelo Estado no território em questão.

Assim sendo, quando o profissional conhece o lugar onde os indivíduos moram, ele consegue identificar elementos eficazes ao tratamento da vulnerabilidade social, podendo, assim, traçar estratégias de atendimento dentro da Política Nacional de Assistência Social para as demandas sociais trazidas ao seu cotidiano de trabalho nos CRAS. Este conhecimento possibilita a construção de estratégias metodológicas que permitam ao mesmo chegar àquelas pessoas, sabendo como levar a proteção social às pessoas que residem nesses territórios, e que requerem proteção social. Dessa forma, o assistente social deve articular as pessoas ao seu território, para identificar as vulnerabilidades e, assim, mobilizar os recursos disponíveis, potencializando a eficiência da política pública a partir do conhecimento da demanda que é compreendida no quotidiano das pessoas.

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