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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento thiagovirgiliodasilvastroppa (páginas 121-126)

Primeiramente deve-se apontar que o presente estudo, por se tratar de uma dissertação de mestrado, apresenta certas limitações devido aos recursos disponíveis e ao prazo disponível para sua realização. Isso implica dizer, por exemplo, que algumas decisões, tais como, a substituição de uma metodologia que abrangeria todos os sistemas (alunos, professores, gestores escolares, pais e comunidade) que, de acordo com a literatura seria mais apta a proporcionar bons resultados em intervenções de violência escolar, por uma metodologia que contemple somente alunos e não seja tão extensa, necessitaram ser tomadas tendo em vista a viabilidade da realização do projeto como um todo. Da mesma forma, houve uma limitação por parte da escola em apoiar e autorizar projetos de longo prazo, tendo em vista que uma preocupação da escola é exatamente cumprir seu calendário e um projeto demasiadamente extenso preocupa a instituição neste sentido, pois os professores precisariam ceder mais aulas e com isso comprometer o programa curricular de cada professor.

O projeto de intervenção foi realizado em apenas quatro turmas, todas de 6º ano do ensino fundamental e de uma mesma escola pública de Juiz de Fora, sendo assim, deve-se apontar que os resultados podem não ser generalizáveis para outros contextos. Além do recorte estabelecido devido à classe escolar e a escola em si, destaca-se também que foram poucos professores/gestores, apenas 10, que fizeram parte da avaliação qualitativa, sendo assim, considera-se também que as respostas estão condicionadas a perspectivas pessoais de cada respondente, o tipo de relacionamento e frequência de contato que eles têm com cada sala em questão. O pequeno número de entrevistados, sendo oito professores e dois gestores, todos de uma única escola pública de Juiz de Fora, também apresenta-se como uma limitação das questões mais gerais sobre a violência escolar, pois apesar da coleta de importantes informações sobre a

temática da violência escolar, os resultados podem não ser generalizáveis para outras escolas e outros contextos.

Ainda como limitação deste trabalho destaca-se o baixo intervalo de tempo decorrido entre as avalições, sejam as entrevistas ou a aplicação da BEVESCO, pois considera-se que caso houvesse um intervalo maior, os respondentes teriam mais tempo para observar a existência de situações de violência escolar e para observar as possíveis mudanças, assim como a BEVESCO poderia detectar mudanças a longo prazo e reduziria um possível viés de repetição da aplicação da mesma. A inexistência também de medidas para avaliar os objetivos proximais (habilidades sociais e senso de pertencimento) também é um fator que deve ser levado em conta, considerando que de acordo com Flay, Biglan, Boruch et al. (2005) é interessante que os programas sejam avaliados nos resultados finais e também nas variáveis mediadoras. Por fim, é importante destacar também que por não se tratar de um estudo experimental, não se pode tecer comentários de relação causa e efeito e, por conseguinte, afirmar a existência ou não da efetividade do programa de intervenção.

Diante da exposição de tais limitações, vale relembrar que a violência escolar é um fenômeno que vem ganhando grande destaque, é considerada como um fenômeno frequente que pode acarretar sérios danos aos envolvidos no processo educacional. Sendo assim, ações de prevenção/intervenção em violência escolar se tornam necessárias para que a escola consista em um ambiente construtivo e saudável podendo cumprir com suas funções educacionais.

O presente trabalho constatou, através de entrevista feita a dez professores ou gestores escolares de uma escola pública de Juiz de Fora, várias caraterísticas da violência escolar segundo a percepção dos mesmos. Dentre elas, a alta frequência de

situações de violência escolar a ponto dela ser considerada por alguns como parte do cotidiano escolar; grande diversidade de ações (como por exemplo, brigas, ameaças, violência verbal e danos ao patrimônio); uma ampla gama de fatores ditos pelos professores como motivadores da violência escolar, onde a família dos alunos foi a categoria mais citada; a busca do diálogo com os alunos e familiares/responsáveis como forma de lidar com a violência escolar; as dificuldades encontradas para lidar com tal fenômeno, com destaque para a falta de tempo no dia a dia dos professores diante de uma rotina cansativa e repleta de atividades e funções; e, por fim, a indicação dos mesmos que não se sentem preparados para lidar com a violência escolar. Apesar da pequena amostra de respondentes e da especificidade da mesma, o que impede com que sejam tecidos comentários a respeito da validade externa, esses achados acima citados devem reforçar a busca, o desenvolvimento e a implementação de programas de intervenção na temática de violência escolar.

Sobre os resultados referentes à implementação de um programa de intervenção em violência escolar com base no desenvolvimento das habilidades sociais e do senso de pertencimento, cabe relembrar que, devido à ausência de um desenho experimental, não se pode tecer conclusões de causa e efeito, ou seja, estabelecer a efetividade do programa realizado. Entretanto, tem-se que destacar que os resultados encontrados são motivadores, pois através das aplicações da BEVESCO antes e depois da intervenção assim como as entrevistas realizadas nestes dois momentos com professores e gestores escolares, constatou-se que no momento pós-intervenção existia uma menor frequência das situações de violência escolar nas quatro turmas de 6º ano.

As entrevistas pós-intervenção também apontaram, em linha gerais, mudanças positivas em relação aos alunos e situações de violência escolar, ao comportamento dos mesmos, a melhora nos relacionamentos interpessoais e a adoção de práticas mais

saudáveis e civilizadas. Portanto acredita-se que este trabalho possa contribuir para fomentar programas de intervenção na temática da violência escolar com base no desenvolvimento das habilidades sociais e no senso de pertencimento. Cabe relembrar que surgiram declarações de respondentes que elogiaram o atual projeto de intervenção e fizeram apontamentos, tanto específicos à esta intervenção quanto mais gerais, que indicavam a importância da utilização de vídeos e atividades lúdicas com os alunos, apoio à trabalhos de intervenção e a solicitação do apoio das faculdades para/com as escolas públicas, além da indicação de que o atual projeto de intervenção poderia durar mais tempo e retomar as atividades em outro semestre.

O presente trabalho apresenta-se como um passo inicial, limitado, com uma restrição de duração, à um pequeno número de turmas e em uma única escola, entretanto considera-se que conseguiu atingir seus objetivos e apresenta resultados motivadores que incentivam a busca por um ambiente escolar mais saudável. É necessário que mais propostas sejam elaboradas e implementadas tendo como foco não somente os alunos, mas também os outros atores escolares. De forma complementar, sabe-se das dificuldades inerentes à estudos experimentais e longitudinais com intervenções para a temática, mas cabe destacar que estas pesquisas devem ser motivadas por permitirem que se discuta claramente sobre a efetividade das intervenções a partir da exploração da relação de causa e efeito.

Considera-se que os professores/gestores, como importantes atores no processo educacional, também devem ser foco de programas de intervenção, para que estes possam ser capacitados para reconhecer, lidar e prevenir possíveis situações de violência escolar. Entende-se que um importante fator para o manejo deste fenômeno seja exatamente as ações voltadas tanto para alunos quanto para a família dos mesmos e os professores/gestores, pois acredita-se, assim como apontado por Matos (2015) que

educar para a não-violência, incentivando a tolerância e o respeito pelos outros, é uma condição necessária para a democracia e para a diminuição dos atos violentos, sendo assim, esta deve ser uma tarefa contínua da família, da escola e da comunidade como um todo. Neste rumo, acredita-se que bons resultados possam ser alcançados, possibilitando a redução do fenômeno da violência escolar e atingindo assim a promoção da saúde e bem-estar, possibilitando que a escola cumpra sua tarefa na educação dos alunos em um ambiente saudável para todos.

No documento thiagovirgiliodasilvastroppa (páginas 121-126)

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