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Tipo de público

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os museus possuem vínculo com o turismo enquanto fenômeno desde seu nascedouro. As primeiras viagens realizadas com fins de estudo tinham como ponto principal a visita a museus e galerias de arte marcam essa relação. Na contemporaneidade, observa-se o turismo de massa, cada vez mais distante dos atrativos turísticos clichês, tais como praias e shoppings centers, e próximo da composição de pacotes turísticos compostos por museus.

Embora ainda existam particularidades no processo de turistificação dos museus, é necessário que essas instituições entendam as necessidades que desse público, sobretudo no que diz respeito aos serviços turísticos e ao atendimento. Cabe ressaltar que essa relação precisa ser recíproca, assim como os museus precisam pensar esses espaços para o turismo, é necessário que esse público, e todo o trade turístico, entendam as peculiaridades dessas instituições.

Sabe-se, contudo, que as instituições museológicas têm recebido cada vez mais o público turista e a forma como estes são recebidos impacta na experiência da viagem e no imaginário turístico do destino. Para tanto, o presente estudo concentrou-se em identificar os aspectos de hospitalidade presentes no Museu Histórico Nacional. Baseado nos tempos e espaços estabelecidos por Camargo (2005), a metodologia de análise diferenciou-se das que frequentemente são utilizadas para avaliar a hospitalidade das cidades e atrativos. Neste trabalho foi utilizada a análise da imagem de turistas que frequentaram o MHN no período dos Jogos Olímpicos Rio 2016, em que o Museu foi inserido no Boulevard Olímpico, abrigando a Casa México.

Para análise dos resultados, levou-se em consideração o espaço público, por se tratar de uma instituição pública, e os tempos receber, hospedar, alimentar e entreter; e para estabelecer signos para identificar a hospitalidade nas fotografias, foram utilizados os conceitos de Grinover (2006), a saber, acessibilidade, legibilidade e identidade.

Como resultado da pesquisa observou-se que as fotografias, em sua maior parte, foram registradas no tempo Receber (Camargo, 2005) e as dimensões acessibilidade e identidade foram marcantes para os respondentes.

Com relação à acessibilidade tangível, as fotografias pouco representaram os signos dessa dimensão, o que pode estar ligado ao fato de que os respondentes não necessitarem de nenhum tipo de acessibilidade física para vivenciar o espaço. A acessibilidade intangível foi expressa pela presença de crianças nas fotografias e da programação das exposições para todos os públicos, bem como o espaço de convivência gratuito promovido pela Casa México.

A legibilidade do local apareceu nas fotografias, representada pelos signos de sinalização bilíngue e legendas contextualizadas. Essa dimensão não foi tão marcante, o que pode indicar falta de sinalização em alguns pontos do museu ou pontos a serem revistos, como o caso da fila. Esta fotografia remete a uma situação de inospitalidade, ainda que houvesse outros elementos que indicassem hospitalidade. A presença de idosos na fila revela a falta de legibilidade do Museu ao não sinalizar uma fila preferencial ou a ausência de acessibilidade decorrente da falta de infraestrutura (ou estudo de capacidade de carga) para comportar tamanho público, por exemplo.

A identidade do Museu Histórico Nacional foi representada pela arquitetura e pela entrada da instituição. As bandeiras marcam a trajetória política desde a chegada dos portugueses, as enormes palmeiras e o acervo indicam e reforçam a identidade do MHN para os turistas.

A instituição, segundo os resultados obtidos, pode ser considerada um hospitaleira, acessível em termos intangíveis e com identidade forte. No entanto, deve-se ter cuidado com aspectos como a lotação de público. O museu precisa estar atendo ao estudo de capacidade de carga para identificar se é capaz de comportar um público como o recebido no período dos Jogos Olímpicos e quais medidas podem ser tomadas para seu devido acolhimento. E, além disso, outro fator a ser estudado é a sinalização, que, embora tenha sido considerada hospitaleira, pudesse também estar presente em outros locais.

Como premissa desta pesquisa acreditava-se que o olhar do turista era influenciado pelo sentimento de hospitalidade ou hostilidade, e que o reflexo dessa percepção transpareceria nas fotografias dos turistas. De fato, percebe- se nas fotografias analisadas que os turistas buscam enquadrar aquilo que

parece hospitaleiro ou, como se lhe parecer hostil também é fotografado, mas não de forma a guardar como recordação, e sim como base para possíveis reclamações. Observa-se isso no caso da fotografia da fila de entrada no Museu, que aparecia em primeiro plano.

Deve-se ressaltar sobre a dificuldade da coleta de dados ao utilizar a metodologia da análise da imagem baseada nas fotografias tiradas por turistas. É um processo dificultoso em que o pesquisador depende do respondente e, sobretudo, requer cuidados relacionados à ética da imagem.

Contudo, notou-se que, embora haja produção acadêmica consistente nas áreas da hospitalidade, da museologia e do turismo, não se identificaram estudos que tivessem analisado esses temas de maneira convergente. Para além disso, poucas são as produções que estudam o campo segundo tal abordagem, o que confere a esta pesquisa um primeiro passo rumo aos estudos do turismo, museus e hospitalidade.

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