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A base que atualmente sustenta a maior parte das teorias financeiras está fundada na plena racionalidade dos agentes econômicos. Esta vertente propõe que todos os agentes econômicos são totalmente racionais e que utilizam todas as informações disponíveis da melhor maneira possível. Como conseqüência, espera-se, através destas teorias, que os indivíduos irão escolher as opções ótimas que maximizarão sua satisfação. Os testes para estas premissas mostraram-se contrários as suposições da Teoria Financeira Moderna, mas consistentes à Teoria dos Prospectos, parte integrante das Finanças Comportamentais, corroborando com os inúmeros estudos que demonstram a violação das suposições de racionalidade.

As heurísticas utilizadas para a determinação do nível de tolerância ao risco dos indivíduos e, que supõem uma forte correlação entre as características demográficas e socioeconômicas, não se mostraram significativas neste trabalho. A principal hipótese deste trabalho, que esteve associada à estabilidade empregatícia, mostrou-se significativa no teste t mas não mostrou significativa na modelagem stepwise. A dimensão cognitiva e emocional da tomada de decisão mostrou-se significativa em substituição à tradicional visão da tolerância ao risco.

A emoção e os vieses cognitivos como, a auto-atribuição, excesso de confiança, dissonância cognitiva, efeito ficar de fora, efeito dinheiro da banca e efeito custos já incorridos mostraram-se significativos neste trabalho, denotando características cognitivas e emocionais na tomada de decisão. Características estas que tradicionalmente são negligenciados em estudos de tolerância ao risco.

Considerando-se que o modelo estimado pela regressão atende aos pressupostos básicos, é possível afirmar que, para a amostra selecionada, a emoção (felicidade, tranqüilidade e o entusiasmo) tem uma associação direta e positiva na tolerância ao risco dos indivíduos. Esta associação, que pode ser entendida como o viés da atribuição indevida, corroborando com o que propõem Nofsinger (2001) o qual demonstra que em geral este viés leva as pessoas a se deixarem influenciar indevidamente por sentimentos ao tomar uma decisão financeira. Através deste resultado é possível concluir que pessoas de bom humor fazem julgamentos mais otimistas do que as pessoas de mau humor tendendo a utilizar modos menos críticos do processamento de informações elevando seu nível de tolerância.

O ser humano apresenta uma tendência natural em seguir as decisões do grupo. Este efeito comportamental pode ser observado através do fator Efeito Ficar de Fora. O fator, na amostra selecionada, apresentou uma associação positiva à tolerância ao risco, sendo possível a conclusão de que quanto maior o efeito, maior é a tolerância ao risco dos indivíduos. Este resultado contribui com o que propõem os pesquisadores DeMarzo, Kremer e Keniel das Universidades de Stanford e Duke, os quais confirmaram que o receio da maioria dos indivíduos não é a perda em si, mas o risco de ver suas aplicações terem um desempenho pior que a dos demais investidores. Pessoas e empresas tendem a seguir o comportamento de seus pares porque, ao agir de tal forma, combatem o receio de que os demais possam estar investindo no próximo grande investidor, enquanto que os demais estariam de fora. O Efeito Ficar de Fora é potencialmente danoso, pois, como demonstrado, leva às pessoas a assumirem mais riscos em suas decisões financeiras e, portanto tenderiam a negligenciar sua capacidade de assumirem riscos podendo a levar a danos em seus patrimônios pela exposição indevida aos riscos.

A literatura empírica internacional demonstra que depois de ter realizado um ganho ou um lucro, as pessoas sentem-se inclinadas a assumir riscos maiores. Quem costuma jogar refere-se a isso como o “dinheiro da banca”: após ganhar uma quantia, os jogadores amadores não consideram o dinheiro ganho como deles. Através do resultado da regressão observou-se que, para a amostra selecionada, o aumento deste efeito está associado ao aumento da tolerância ao risco dos indivíduos o que poderia gerar um aumento nas negociações nos mercados, já que os investidores poderiam acreditar que estariam arriscando algo que não seria deles. Esta maior exposição aos riscos poderia negligenciar a capacidade de assunção de risco e possíveis resultados danosos tenderiam a ocorrer à rentabilidade dos ativos dos investidores.

A variável Dissonância Cognitiva mostrou-se direta e positivamente associada à tolerância ao risco. Este resultado pode ser percebido como da natureza humana a dissociação do reconhecimento da culpa dos erros das decisões tomadas pelos indivíduos. Assumir a culpa dos próprios resultados negativos é assumir que foram tomadas as decisões erradas e isto gera um desconforto mental que leva a uma dor psicológica aos indivíduos. Como forma de equilibrar, ou até mesmo de se evitar este desconforto, torna-se mais fácil associar os resultados negativos das decisões a aspectos externos. Foi possível observar nesta pesquisa que, para a amostra selecionada, o não reconhecimento de culpa pelos erros esteve direta e positivamente associado a um maior nível de tolerância ao risco. Este resultado tende a ser prejudicial, visto que ao se evitar

o reconhecimento da culpa pelos erros evita-se a possibilidade de se aprender com os próprios erros, podendo levar aos mesmos erros e aos recorrentes resultados negativos em suas carteiras de investimentos.

O viés da auto-atribuição, como demonstrado anteriormente, apresenta duas vertentes, pelo auto-reforço e pela auto-proteção. A auto-proteção tem origem semelhante à variável anterior, já que se evita a associação da culpa do erro ao tomador de decisão. A diferença básica é a de que o erro, neste caso, está associado a circunstâncias imprevisíveis o que diminuiria a dor psicológica pela assunção da decisão errada. Esta variável apresentou-se positivamente relacionada ao risco, o que oportuniza a conclusão de que, para a amostra selecionada, um maior efeito está associado a uma maior tolerância ao risco e, assim como no efeito anterior, assumir novos riscos sem ao menos aprender com os antigos erros poderia levar a persistentes resultados negativos.

O fator da Auto-Atribuição apresentou uma relação positiva à tolerância ao risco, indicando que quanto maior o efeito deste viés, maior é a tolerância ao risco. Este viés talvez seja o mais danoso, pois leva aos indivíduos a acreditarem que têm uma capacidade superior ao que efetivamente têm. Esta crença, conforme demonstrada na literatura, leva a um maior nível de autoconfiança e a um menor nível de atenção aos detalhes e, conforme demonstrado nesta pesquisa, a um maior nível de tolerância ao risco. Esta crença de poderes pessoais superiores, aliada à desatenção aos detalhes e a um maior nível de tolerância ao risco é particularmente preocupante, pois poderia levar a decisões equivocadas, na alocação de ativos.

O viés do excesso de confiança apresentou uma relação significativa e positiva em relação à tolerância ao risco nesta pesquisa. Este resultado corrobora com Nofsinger (2001) demonstrando que indivíduos que apresentam autoconfiança excessiva subestimam o nível de risco que assumem. Desprezar os riscos que se assume pode levar a escolhas com nível de risco indesejado, desconsiderando, desta forma, a capacidade que se tem para assumi-los, bem como a uma possível dor psicológica de se ver que os resultados obtidos são inferiores ao esperado. Este viés deve, preferencialmente, ter um mínimo de influencia na gestão da riqueza sob a pena de prejuízos oriundos das escolhas potencialmente enviesadas.

Elmiger e Kim (2003) demonstraram que o risco é uma associação de perigo com oportunidade (Risco = Perigo + Oportunidade). Neste trabalho estas duas variáveis apresentaram uma correlação baixa (-0,165), porém significativa (0,000). Os indivíduos, selecionados na

amostra, percebem o risco como oportunidade, associando-se esta visão a um maior nível de tolerância ao risco. Esta associação positiva à tolerância ao risco não é boa, nem ruim, para os resultados de seus ativos, trata-se de uma forma diferente de se ver o risco. Porém nesta pesquisa, os indivíduos deram um peso excessivo à visão de oportunidade, desfazendo-se da visão de perigo (esta variável não se mostrou significativa na modelagem stepwise), que potencialmente está associada as suas decisões, indicando uma tendência natural destes indivíduos em se desfazer da visão do risco como perigo.

O materialismo, pela necessidade de se consumir objetos caros, mostrou-se positiva e significativamente associado à tolerância ao risco. A literatura empírica demonstra que o significado popular de materialismo envolve noções de possuir ou conseguir o melhor. Esta necessidade implicaria em um maior nível de tolerância ao risco. De forma análoga à visão de risco como oportunidade, a visão materialista não é prejudicial aos resultados dos ativos. O dano potencialmente se dará quando se perde a visão do objetivo pelo qual se assume o risco. Assumir risco somente pelo desejo de um novo nível de riqueza sem parâmetros ou objetivo fim ao dinheiro poderá levar aos indivíduos a assumirem cada vez mais riscos sem a percepção do potencial de risco associado à suas decisões. Já a aversão á divididas, pela necessidade de se juntar antes de se gastar, mostrou-se positivamente relacionada à tolerância ao risco fato que, assim como as demais variáveis citadas, também pode ser danosa pela restrição de oportunidades de investimentos.

De acordo com as teorias econômicas tradicionais, as pessoas deveriam levar em conta custos e benefícios presentes e futuros ao tomar suas decisões, desconsiderando os custos passados. No entanto temos uma tendência natural de evitar esta dissociação principalmente se há a necessidade de se reconhecer os erros associados à decisão do passado. Este viés mostrou-se positivamente associado à tolerância ao risco o que pode gerar resultados indesejados à medida que se mantém investido tempo e ativos que consistentemente tem se mostrado com prejuízos. A decisão de se manter os ativos com prejuízo mostra-se como uma proteção natural à dor associada ao reconhecimento de decisões erradas, mas inconsistente com riqueza dos ativos.

Na procura pela resposta ao problema de pesquisa foi possível se observar que decisão financeira é influenciada por vieses que influenciam positivamente na tolerância ao risco. Talvez o recado mais significativo deste trabalho possa ser interpretado pela necessidade de

autoconhecimento para a minimização de tais efeitos na tomada de decisão financeira, a fim de se evitar a riscos potencialmente danosos pelo não atendimento da capacidade de se assumir riscos.

Como sugestões para futuras pesquisas, é possível citar a investigação dos possíveis inter- relacionamentos entre estas variáveis, especialmente a dimensão emocional que, consistentemente, tem se mostrado na literatura como fator intimamente relacionado à tomada de decisão, assim como é possível citar a ampliação para diferentes amostras.

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