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Considerações finais

No documento Três casos de baços supranumerários (páginas 59-66)

Vê-se, pelo trabalho de síntese que acabo de efectuar, serem numerosos os casos de baços supra- numerários registados desde longa data por diferen- tes anatomistas. Na verdade, algumas destas obser- vações são muito curiosas, pois que, em uma delas o número de baços supranumerários se eleva a 400 no mesmo indivíduo (obs. de Albrecht), e em outra, a de Rosenmúller, que diz ter encontrado só cinco indivíduos sem baços supranumerários em oitenta cadáveres dissecados. O tamanho varia desde o de um grão de milho miúdo ao de um ôvo de galinha. Alguns anatomistas tentam explicar a formação des- tes pequenos baços supranumerários por um traba- lho de profunda divisão em lobos, que possivel- mente se afastaram do órgão principal. Sobre este trabalho de profunda divisão e no aparecimento irregular das cesuras e fissuras dá-nos Parsons (33) no "Journal of Anatomy and Physiology,,, 1904, Vol. xxxv, pág. 416, sob a epígrafe "On the no-

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tches and Fissures of the spleen and their meaning,,, um excelente trabalho, onde interpreta as cesuras e fissuras como um remanascente de uma primitiva lobulação do baço, como a que se encontra nos rins, fígado e pulmões dos animaes inferiores. Sobre este assunto acrescenta Parsons: "Eu interpreto-as como um desenvolvimento secundário causado pela compressão da víscera, cujo crescimento foi impedido pela tracção exercida em certos pontos. E este facto tem a sua razão de ser, se aten- dermos ao que nos diz a anatomia e embriologia comparadas,,.

A existência dos baços supranumerários pode admitir ainda outras explicações. Assim, os baços supranumerários que se encontram junto ao hilo, como no terceiro caso que apresento (V. fig. m), podem ser interpretados como projecções de pe- quenas porções de tecido esplénico, que se pedicu- lizaram com conexões somente, com os vasos san- guíneos; outros, os que se encontram disseminados pelo peritoneu, grande epiploon e no ligamento pan- creático-esplénico, podem, muito provavelmente, ser tomados como restos de tecido supra-renal, ou então, como restos de tecido mesoblástico desti-

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nado a formar o órgão principal. Estes restos po- dem-se ainda subdividir e acantonar em outros ór- gãos. Allbutt and Rolleston (34) referem que Biggs descreveu um baço supranumerário na cauda do pâncreas. Se os baços supranumerários se subdi- videm na sua superfície, podem, subsequentemente, formar tumores capsulados num órgão. Desde que o lobo esquerdo do fígado e o baço se encontrem em contacto durante a vida fetal, pode muito bem acontecer que um baço supranumerário se torne di- vidido ou implantado na superfície do fígado. Factos deste género não teem sido observados, segundo Rolleston, embora em 1828, Berard insinuasse que os angiomas do fígado eram restos enquistados de substância esplénica.

Alguns anatomistas dizem que os baços supra- numerários são mais frequentes na infância, mas Cruveilhier afirma o contrário, dizendo que no adulto, são de mais difícil observação, por causa da acumulação da gordura. Jolly, segundo Rolles- ton, diz que em 80 autópsias de indivíduos de menos de 60 anos, encontrou baços supranume- rários em 20, ou seja na proporção de 1 para 4, sendo mais frequentes em idades avançadas.

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O que parece, de facto, é que eles se tornam mais evidentes nas crianças, mas não são realmente mais frequentes.

Se no decorrer duma esplenectomia, estes pe- quenos baços supranumerários ficam, podem, por hipertrofia compensadora, substituir e impedir os sintomas que ocasionalmente se seguem à extir- pação dum órgão como o baço.

Facto idêntico se observa com as cápsulas supra-renais.

No rato, por exemplo, a extirpação das supra- renais não é seguida de morte, devido à existência de cápsulas supra-renais acessórias. Nos animais em que estas não existem, como por exemplo na cobaia, a ablação das cápsulas é sempre mortal.

A hipertrofia compensadora dos baços supra- numerários, nos casos de esplenectomia, não é de estranhar, pois facto idêntico se dá, por exemplo, com os rins. Todos os tratadistas (35) mencionam a hipertrofia compensadora do rim são, obser- vada em seguida a uma nefrectomia. Esta hiper- trofia compensadora observa-se também num dos rins, quando o outro está altamente compre- metido.

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ERRATAS

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