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Este trabalho permitiu ao autor aprofundar o conhecimento referente ao ensino de Geologia, em especial nos trabalhos de campo, bem como à prática dos professores da disciplina de Geologia Introdutória, no Curso de Geografia. As diversas possibilidades de trabalhos de campo parecem ainda estar distantes da prática da maioria dos professores que, optam por atividades ilustrativas influenciados pela própria formação. As atividades desse tipo têm alguma importância didática, mas outras formas de pensar o campo podem fazer parte do cotidiano desses professores.

Entre os professores da disciplina de Geologia Introdutória entrevistados, há um consenso de que as atividades de campo são fundamentais no processo ensino- aprendizagem em Geografia. Não obstante, esses professores apresentam, em sua maioria, uma visão ainda tradicional de ensino nos trabalhos de campo, colocando-se como centro das atividades, dando poucas oportunidades para o aluno desenvolver seu raciocínio, suas investigações e desconsiderando os seus conhecimentos prévios. Deste modo, a formação do professor e sua titulação não determinaram diferentes maneiras de agir, já que a totalidade dos professores desenvolve atividades de campo de uma forma muito semelhante. Tais procedimentos refletem uma abordagem tradicional do processo de ensino, já visto anteriormente.

“A relação professor-aluno é vertical, sendo que um dos pólos (o professor) detém o poder decisório quanto à metodologia, conteúdo, avaliação, forma de interação na aula etc. Ao professor compete informar e conduzir seus alunos em direção a objetivos que lhes são externos, por serem escolhidos pela escola e/ou pela sociedade em que vive e não pelos sujeitos do processo”. (MIZUKAMI, 1986:14)

A citação reflete a realidade observada nas instituições pesquisadas, onde o professor geralmente desconsidera os conhecimentos prévios trazidos pelos alunos, considerando-os sem condições de elaborar seus próprios conhecimentos.

A visão de ensino tradicional dos professores é comprovada neste trabalho quando observa-se:

a) A preferência em realizar as saídas de campo após o conteúdo visto em sala de aula, considerando o aluno como um ser passivo, incapaz de criar seus próprios conhecimentos;

b) As saídas de campo ilustrativas, onde o professor exerce papel centralizador e o alunos comportam-se como espectadores;

c) A predominância do tema “rochas e minerais” nas saídas de campo, em detrimento de outros aspectos naturais;

d) A preparação do aluno para a saída, demonstrando a preocupação que o aluno confirme no campo o que aprendeu em sala de aula.

Se na prática de campo houve semelhanças entre os professores, pôde-se evidenciar duas visões distintas quanto ao modo de pensar a disciplina e seu papel no curso: a visão do professor geólogo que busca associar o conteúdo à realidade do futuro profissional geógrafo, mas espontaneamente, não manifestou preocupação com o futuro professor de Geografia; e a visão do professor geógrafo, que transpõe para a disciplina os conceitos da ciência geográfica, o espaço, a relação sociedade-natureza, ao mesmo tempo que valoriza a sua própria prática enquanto professor.

As diferenças entre os profissionais geólogos e geógrafos:

1. A preocupação maior dos professores, principalmente os geólogos, que são em sua totalidade mestres ou doutores, é com o bacharelado em detrimento da licenciatura. Em seus depoimentos, a quase totalidade dos professores, não manifestaram espontaneamente a preocupação com o futuro professor de Geografia;

2. Os geólogos são práticos e vêem no aluno o futuro profissional. Já os geógrafos apresentam uma preocupação mais relacionada aos objetivos da Geografia, entre eles a relação sociedade-natureza, paisagem e espaço.

Não obstante, existem também semelhanças:

receptor de informações;

2. A finalidade da saída de campo é verificar o conhecimento que foi transmitido em sala de aula;

3. O professor prepara o aluno para a saída de campo fornecendo-lhe os subsídios necessários para que, ao chegar no campo, já saiba o que vai encontrar;

4. A visão por parte do professor em relação ao conteúdo fundamental para o aluno, não é compatível quanto o conteúdo trabalhado em campo.

PASCHOALE (1984:5244) relata uma experiência em um debate sobre ensino de Geologia de Campo. Um dos professores participantes faz a observação de que para ele a importância do campo era clara, pois quando ensinava o que é uma dobra, por exemplo, desenhava-a primeiramente na lousa; e, posteriormente, iam todos ao campo ver exemplos de dobras. Paschoale pede a palavra e questiona-o: “Professor, este aí que desenhou a dobra, como foi que ele aprendeu a dobra? Se foi por outro que também lhe desenhou uma, como foi que este aprendeu? Será que não houve alguém que primeiro viu uma dobra e a desenhou depois? Paschoale faz outra indagação: “O que será que estamos ensinando: os fenômenos ou a representação dos fenômenos?”.

Os fatos descritos, anteriormente, demonstram a importância dos trabalhos de campo e, mais ainda, a importância de um trabalho de campo centrado no aluno, bem como na construção do seu conhecimento, portanto um trabalho de campo investigativo. Pode-se considerar que trabalhos de campo sem investigação confundem-se com informação, sem grandes transformações na abordagem tradicional do processo de ensino.

Esta postura tradicional dos professores, associada a um trabalho individual nas suas respectivas disciplinas, prejudica o aluno, que deve juntar os diferentes conteúdos das várias disciplinas e fazer as interrelações. Nos depoimentos dos professores, percebeu- se a dificuldade de interrelação entre os diferentes campos de conhecimento da Geografia, predominando o conhecimento compartimentado, principalmente nas universidades públicas, onde a estrutura é mais complexa e predominam profissionais titulados.

A dicotomia existente nos cursos de Geografia é um grande impedimento às atividades interdisciplinares em trabalhos de campo. Essa dicotomia é acentuada nas grandes universidades, onde a especialização (mestrado ou doutorado) predomina e os professores, além de lecionarem disciplinas nas quais são especializados, realizam também pesquisa. Os departamentos de Geografia aparentam ser subdivididos em dois departamentos independentes: Geografia Humana e Geografia Física.

Em geral, a pesquisa e os trabalhos com os alunos são realizados isoladamente, não havendo integração entre as disciplinas físicas e humanas. Os professores tendem a apresentar uma visão mais direcionada a sua especialização, encontrando, muitas vezes, dificuldade em realizar, na prática, as interrelações. Portanto, a visão global do objeto de investigação é prejudicada por causa de uma visão compartimentada e que reforça uma concepção tradicional de ensino.

As entrevistas demonstraram que o geólogo apresenta algumas vantagens ao lecionar a disciplina de Geologia Introdutória, principalmente no que se refere ao conhecimento do conteúdo e sua relação com a atividade profissional do geógrafo. Mas, quando se analisam o incremento à interdisciplinaridade e a valorização da atividade docente do futuro geógrafo, o professor geólogo demonstra carências. Nestes aspectos, os geógrafos apresentam uma visão mais lúcida. Portanto, um dos desafios que a ciência geológica deve transpor é a necessidade de se discutir a inserção de disciplinas pedagógicas e humanísticas nos cursos de Geologia.

A disciplina carece de reflexão e reformulação na maioria das instituições. Tal reformulação deverá contar com a participação de ambos os profissionais, geólogos e geógrafos, que juntos podem discutir os problemas relacionados à disciplina e buscarem soluções que permitam uma maior integração entre as duas ciências.

Cabe aqui salientar uma proposta de trabalho onde há preocupação de uma fundamentação teórica e prática, tanto para o futuro geógrafo como para o geólogo, que teve início no Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas em 1998: os três primeiros semestres são comuns nos cursos de Geologia e Geografia. Os

resultados desta proposta de curso poderão ser analisados a partir da qualidade dos profissionais que a instituição irá formar.