• Nenhum resultado encontrado

PARTE I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Capítulo 4: Tradução e Adaptação dos Itens do Teste

4. Considerações finais

Em síntese, podemos afirmar que o teste TVIP, em sua totalidade, abrange itens com graus de dificuldades diferentes o que é desejável neste tipo de testes avaliando capacidades ou competências. Essa variabilidade nos níveis de dificuldade dos itens garante a sensibilidade, da fidedignidade e validade dos resultados no teste, aspectos que analisaremos no capítulo seguinte.

Logicamente que, em termos de aprofundamento da investigação e do valor para a prática clínica deste teste, e partindo da análise do nível de dificuldade dos itens, seria interessante discutir alguns aspectos como a existência de algumas crianças que falharam a resolução, ora na primeira ora na segunda aplicação do teste.

Um dado relevante nesta análise mais refinada do melhor e pior funcionamento métrico de alguns itens e inclusive na apreciação do maior e menor acordo entre a avaliação da dificuldade pelos professores e a dificuldade sentida pelos alunos, passa por uma análise atenta da qualidade da representação gráfica dos itens. Como referimos, o nosso trabalho centrou-se na tradução dos itens para o português e não questionamos a representação gráfica. Verificando agora estes dados, podemos aceitar que alguns itens permitem-nos uma constatação de que não se encontram bem representados pelas figuras propostas no teste (veja-se, por exemplo, os itens: 28 e 58)

Nestes casos, sugerimos uma análise mais precisa dessas figuras (o que não é objetivo deste estudo), nomeadamente recorrendo à reflexão falada com crianças destas idades, solicitando-lhes que nos descrevam o que estão vendo em cada figura. Uma análise qualitativa dos itens deste tipo, incidindo agora nas gravuras, pode ser objeto de futuros estudos. Inclusive, podemos solicitar o apoio de pessoas adultas pensando no formato dos objetos que melhor representam certos vocábulos no cotidiano das crianças. Um “móvel”, por exemplo, pode ter uma representação gráfica que pode perfeitamente diferenciar uma criança de alta renda de outra de baixa renda, tudo dependendo do “móvel” que se está considerando.

Ainda relacionado às observações entre as respostas das crianças nas duas aplicações, lembrando que há um intervalo de seis meses entre as aplicações, os resultados de cerca de metade dos itens apresentam estabilidade nas respostas. Ao mesmo tempo, observamos também um aumento da competência lexical das crianças, ao constatarmos que houve itens que apresentaram aumento com a idade, sugerindo que são itens válidos para futuras investigações da competência lexical. Dados que indicam a evolução lexical são vistos na resolução dos itens móvel e acariciar, pois houve um aumento de respostas corretas, apontando que o crescimento do vocabulário das crianças, decorre da aprendizagem de novos verbos e substantivos, o que nos sugere em futuras investigações qualitativas, observarmos o conteúdo trabalhado em sala de aula, pois poderá ter favorecido este aumento, servindo também como um indicador da competência lexical. Por outro lado, os itens em que as crianças falham nas duas aplicações (itens 51 e 53, por exemplo) são susceptíveis de reordenação já que a sua disposição não nos parece adequada às idades das crianças. O desenvolvimento de futuras investigações, juntamente com a ampliação da amostra a outras regiões do Nordeste, poderá subsidiar com nova informação relevante para uma adequada

hierarquização dos itens assegurando uma maior validade da prova, sobretudo quando a metodologia da sua aplicação exige uma boa hierarquização dada a instrução de se parar a sua aplicação após um conjunto de insucessos consecutivos no pressuposto de que a criança não resolve mais itens posteriores em virtude da sua maior dificuldade.

A apreciação da discrepância entre as respostas dos professores e das crianças apontam para itens em que há concordância de opiniões, uma unanimidade entre as respostas, assegurando confiança quanto ao seu nível de dificuldade. Contudo, em alguns outros itens observa-se uma relativa ou acentuada dispersão de valores, como é o caso dos itens com um nível intermediário de dificuldade nas apreciações dos professores. A maior diferenciação entre as opiniões dos professores sobre a dificuldade e as respostas das crianças frente aos itens justifica a ponderação de outro tipo de variáveis, que não apenas cognitivas e linguísticas em futuros estudos.

Referimo-nos, por exemplo, à possível interferência de variáveis sócio-culturais. Com efeito, podem os professores nas suas respostas estarem apenas a reportar-se às crianças da sua turma, o que, sendo a amostra formada em escolas públicas e particulares, pode haver aqui logicamente uma diferença estabelecida quanto a esse aspecto. Nesta linha de preocupações uma investigação qualitativa dos resultados poderá definir aspectos relacionados às questões socioculturais, que influenciam a aquisição do vocabulário pelas crianças, o que não deixa de ser uma linha de pesquisa muito importante em termos do impacto das variáveis sociais no desenvolvimento cognitivo e linguístico das crianças.

Colocadas todas as dificuldades anteriores, e não escondendo as próprias limitações encontradas, importa que, em síntese, destaquemos os aspectos positivos que também existiram nos dados obtidos e que atestam qualidades métricas do teste TVIP. Os dados obtidos sejam com base nas respostas das crianças seja com base na percepção

da dificuldade pelos professores, através da análise da mediana, apontam uma adequação do teste à avaliação das competências de linguagem das crianças na faixa etária investigada (crianças entre 5 e 7 anos). Alguns itens são assumidos como muito fáceis e outros como muito difíceis, situando-se a grande maioria em valores de dificuldade intermediária, como é desejável neste tipo de testes. Com efeito, é importante existir sempre alguns itens muito fáceis para diferenciar crianças com baixa habilidade, e ao mesmo tempo inserir também alguns itens muito difíceis na base dos quais se podem discriminar os sujeitos com maior habilidade na competência avaliada. Como sugestão para futuros estudos é interessante ver a qualidade das gravuras, o motivo por que em alguns itens se verifica maior oscilação de acertos entre um teste e um reteste, além de tentar entender porque em alguns itens a opinião dos professores e a dificuldade dos alunos foram tão acentuadas. Sendo possível pensar-se num teste mais reduzido quando apenas se pretende cobrir 3 anos de idade, uma nova versão do teste poderá ser facilmente obtida retirando os itens considerados nada difíceis ou pouco difíceis já que constituem metade dos itens neste nosso estudo. Um teste com um menor número de itens, desde que adequadamente constituído, poderia facilitar a sua aplicabilidade, tornando-a mais rápida e evitando, desta forma, que as crianças fiquem cansadas ou desmotivadas durante a sua realização.

No capítulo que se segue serão apresentadas as análises e discussões dos resultados a partir das análises estatísticas selecionadas. A partir dos resultados na prova de vocabulário receptivo (TVIP) e o desempenho das crianças nas outras provas de competência lingüística e cognitiva poderemos apreciar com maior detalhe os dados da pesquisa.

Documentos relacionados