• Nenhum resultado encontrado

Esta pesquisa teve como objetivo verificar o reflexo do processo de internacionalização na aprendizagem organizacional das unidades internas da organização. Embora não seja possível caracterizar a empresa como uma

born global, dado que ela começou o seu processo de internacionalização após

dez anos do início de seu funcionamento, ela não pode ser considerada uma empresa que optou pela internacionalização em função do esgotamento do mercado interno, ou também que tenha nesse início de atividade algum tipo de poder de monopólio no mercado interno. Nesse aspecto, o processo de internacionalização da empresa analisada pode ser considerado um caso típico dos descritos pela teoria tradicional.

Como constatada, a internacionalização seguiu o modelo de Uppsala. Foi, no entanto, observada uma fase adicional, denominada fase de interesse, que está além daquelas tradicionalmente descritas pelo modelo. A fase de

interesse consiste em uma etapa na qual o produto da empresa alcança os mercados internacionais, mas de forma involuntária a qualquer estratégia da empresa. Nesse sentido, a internacionalização é apenas o desdobramento de algumas ações que a empresa utilizou no mercado interno e que possibilitou o alcance de outros mercados. Ou seja, a empresa não tem nenhum controle sobre tal processo.

Corroborando o modelo de Uppsala, a estratégia de internacionali- zação foi incremental, crescente e iniciou por países com menor distância psíquica. Nota-se também que diversas modalidades de internacionalização coexistiam, a exemplo das exportações esporádicas, via representantes e por filial própria. Cabe aqui a ressalva de que estratégias econômicas foram adotadas durante a internacionalização. O exemplo mais claro foi o ingresso da empresa no mercado norte-americano por meio de uma filial própria, sem passar por etapas que exigissem menos comprometimento. Essa opção foi escolhida para evitar que representantes pudessem obter ganhos superiores aos da própria empresa. Isso caracteriza exatamente a abordagem dos custos de transação, na qual a empresa internaliza determinada atividade por conta da possibilidade de ações oportunistas de outros agentes.

Não foi constatada a inserção da empresa em redes. Como visto na lite- ratura, a inserção em redes é atualmente um dos elementos que propiciam e facilitam a internacionalização dos negócios. A ausência da inserção em redes de empresas pode ser explicada por conta da própria fase de interesse, que constituiu um mecanismo involuntário de ingressar nos mercados externos.

Como observado, o envolvimento das unidades internas da empresa no processo de internacionalização foi desigual. Essa desigualdade esteve relacionada com o fato de que nem todas as unidades internas participaram da internacionalização e, daquelas que participaram, o envolvimento ocorreu em fases distintas.

Verificou-se também uma desigualdade da aprendizagem nas uni- dades inseridas na internacionalização. Além disso, foi verificado que a aprendizagem organizacional atingiu diferentes níveis dentro da unidade, por meio da alteração ou adaptação de rotinas e atividades já existentes,

pela constituição de novas rotinas e também pela alteração de várias normas relacionadas às rotinas e atividades. Tais alterações revelam as aprendizagens caracterizadas por single-loop e double-loop.

Por se tratar de um estudo de caso, os resultados não podem ser ge- neralizados a todas as organizações que se internacionalizaram ou estão em processo de internacionalização. Mesmo assim, este estudo corrobora a ideia de que empresas ainda sem grande estrutura e sem domínio no mercado doméstico tendem a se internacionalizar de acordo com a teoria de Uppsala, pois comprometem pouco os seus recursos e minimizam os riscos inerentes a esse processo.

Para trabalhos futuros há a necessidade de utilizar outras abordagens a exemplo da teoria de redes, para melhor compreender tais ligações e inter- -relações entre as unidades internas das empresas e suas filiais durante sua trajetória de internacionalização.

Referências

AGNDAL, H.; CHETTY, S. The impact of relationships on changes in internation- alisation strategies of SMEs. European Journal of Marketing, vol. 41, p. 1.449-1.474, 2007.

ANDERSEN, O. On the internacionalization process of firms: a critical analysis.

Journal of International Business Studies, vol. 24, n. 2, p. 209-233, 1993.

ARGYRIS, C.; SCHÖN, D. A. Organizational Learning: a Theory of Action Perspec- tive. Reading, MA: Addison-Wesley Publishing Company, 1978.

BILKEY, W. J.; TESAR, G. The Export Behaviour of Smaller-Sized Wisconsin Manu- facturing firms. Journal of International Business Studies, vol. 9, n. 1, p. 33-46, 1977. BRANDI, U.; ELKJAE, B. Organizational Learning Viewed from a Social Learn- ing Perspective. Handbook of organizational learning and knowledge management. West Sussex: John Wiley & Sons, 2011.

BUCKLEY, P. J. The Uppsala model of internationalization: a comment. In: AN- DERSON, U.; HOLM, UManaging the Contemporary Multinational. UK: Edward Elgar Publishing Limite, 2010.

BUCKLEY, P. J.; CASSON, M. The future of the multinational enterprise. London: MacMillan, 1976, p. 116, Vol. 34.

BUCKLEY, P. J.; CASSON, M. C. Analyzing foreign market entry strategies. Ex- tending the Internalization Approach. In: Journal of International Business Studies, vol. 29, p. 3, 1998.

CAVUSGIL, S. On the internationalization process of firms. European Research, n. 8. 1980.

CHILD, J. Strategic Choice in the Analysis of Action, Structure, Organizations and Environment: Retrospect and Prospect. Organization Studies, vol. 18, n. 1, p. 43-76, 1997.

CORTEZIA, S. L. D. Internacionalização e aprendizagem: um estudo sobre as micros e pequenas empresas da indústria do software do Estado do Rio Grande do Sul (Brasil). São Leopoldo: Unisinos, 2007.

COVIELLO, N. E. The network dynamics of international new ventures. Journal

of International Business Studies, vol. 37, n. 5, p. 713-731, 2006.

CYERT, R. M.; MARCH, J. G. A behavioral theory of the firm. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1963.

DANIELS, J. D.; RADEBAUGH, L. H. International business: environments and

operations. London: Prentice Hall International, 2001.

DIBELLA, A. J.; NEVIS, E. C. How organizations learn: An integrated strategy for building learning capability. San Francisco: Jossey-Bass, 1998.

DUNNING, J. H. Trade, location of economic activity and the MNE: A search for an eclectic approach. In: OHLLIN, B.; HESSELBORN, P. O.; WIJKMAN, P. M. (Eds.).

The International Alocation of Economic Activity. London: Macmillan, 1977. p. 395-418.

DUNNING, J. H. Toward an eclectic theory of international production: some empirical tests. Journal of International Business Studies, vol. 11, n. 1, p. 9-31, 1980. DUNNING, J. H. The Globalization of Business. London: Routledge, 1993.

EGELHOFF, W. G. How the Parent HQ Adds Value to an MNC. Management

International Review, vol. 50, p. 413-432, 2010.

EISENHARDT, K. M. Building theories from case study research. Academy of

Management Rewiew, vol. 14, n. 4, p. 532-550, 1989.

ELANGO, B.; PATTNAIK, C. Building capabilities for international operations through networks: A study of Indian firms. Journal of International Business Studies, vol. 38, n. 4, p. 541-555, 2007.

ERIKSSON, K. et al. Effect of Variation in Knowledge Accumulation in the Inter- nationalization Process. International Studies of Management and Organization, vol. 30, n. 1, p. 26-44, 2000.

FLEURY, A.; FLEURY, M. T. L. Aprendizagem e inovação organizacional: as experi- ências de Japão, Coréia e Brasil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997.

GHERARDI, S. Organizational Learning: The Sociology of Practice. Handbook of or-

ganizational learning and knowledge management.West Sussex: John Wiley & Sons, 2011.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

HAN, S. H. et al. Causes of Bad Profit in Overseas Construction Projects. Journal of

construction engineering and management, vol. 133, n. 12, p. 932-943, 2007.

HILAL, A.; HEMAIS, C. A. O processo de internacionalização na ótica da escola nórdica: evidências empíricas em empresas brasileiras. Revista de Administração

Contemporânea, vol. 7, n. 1, p. 109-124, 2003.

HSU, C.; PEREIRA, A. Internationalization and performance: The moderating effects of organizational learning. Omega, vol. 36, n. 2, p. 188-205, 2008.

JOHANSON, J.; MATTSSON, L. G. Interorganizational Relations in Industrial Systems: A Network Approach Compared with the Transaction-Cost Approach.

International Studies of Management & Organization, vol. 17, n. 1, p. 34-48, 1987.

JOHANSON, J.; MATTSSON, L. G. Internationalization in Industrial Systems: A Network Approach. In: HOOD, N.; VAHLNE (Org.). Strategies in Global Competi-

tion. London: Wiley, 1988.

JOHANSON, J.; VAHLNE, J. E. The Internationalization Process of the Firm. A Model of Knowledge Development and Increasing Foreign Market Commitments.

Journal of International Business Studies, vol. 8, n. 1, p. 23-32, 1977.

JOHANSON, J.; VAHLNE, J. E. Commitment and opportunity development in the internationalization process: A note on the Uppsala internationalization process model. Management International Review, vol. 46, n. 2, p. 1-14, 2006.

JOHANSON, J.; VAHLNE, J. E. The Uppsala internationalization process model revisited: From liability of foreignness to liability of outsidership. Journal of Inter-

national Business Studies, vol. 40, n. 9, p. 1.411-1.431, 2009.

JOHANSON, J.; WIEDERSHEIM, P. The internationalization of the Firm – Four Swedish Case Studies. The Journal of Management Studies, vol. 12, n. 3, p. 305-323, 1975.

JONES, M. V.; COVIELLO, N. E. Internationalization: conceptualism and entre- preneurial process of behavior in time. Journal of International Business Studies, vol. 36, n. 3, p. 284-303, 2005.

LEVITT, B.; MARCH, J. G. Organizational learning. Annual Review of Sociology, n. 14, p. 319-340, 1988.

MACHADO-DA-SILVA, C. L.; Seifert, R. E. Ambiente, recursos e interpretação organizacional: um modelo para análise de estratégias de internacionalização. EN- CONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 2004, Atibaia. Anais… Atibaia, MG, n. 3, 2004.

MADHOK, A. Revisiting multinational firms’ tolerance for joint ventures: a trust- -based approach. Journal of International Business Studies, n. 37, p. 30-43, 2006. PETERSEN, B.; PEDERSEN, T.; LYLES, M. A. Closing knowledge gaps in foreign markets. Journal of international business studies, vol. 39, n. 7, p. 1.097-1.113, 2008. PENROSE, E. T. The theory of the growth of the firm. 3. ed. Oxford; New York: Oxford University Press, 1995.

POZZOBON, D. M.; SCHIMIDT, C. M. Internacionalização sob a ótica das teorias econômicas: análise das abordagens praticadas pelos frigoríficos brasileiros. Congresso

da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Rio Branco,

AC, 46, 2008.

PRASHANTHAM, S. Toward a knowledge-based conceptualization of interna- tionalization, Journal of International Entrepreneurship, vol. 3, n. 1, p. 37-53, 2005. PROBST, G. J. B.; BÜCHEL, B. S. Organizational Learning. UK: Prentice Hall, 1997. REID, S. Firm Internationalization. Transaction Costs and Strategic Choice. Inter-

national marketing review, vol. 1, n. 2, p. 45-56, 1983.

SCHWEIZER, R.; VAHLNE, J.; JOHANSON, J. Internationalization as an entrepre- neurial process. Journal of International Entrepreneurship, vol. 8, n. 4, p. 343-370, 2010. SENGE, P. The leader’s new work: building the learning organization. Sloan Man-

agement Review, vol. 32, n. 1, p. 7-23, 1990.

Simon, H. A. Administrative Behavior: a study of decision-making processes in ad- ministrative organizations. New York: Free Press, 1945.

SZAPIRO, M.; ANDRADE, M. Internacionalização em arranjos e sistemas de MPME – NT 1.8. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001.

TESCH, R. Qualitative Research: Analysis Types & Software Tools. Bristol, PA: Falmer Press, 1990.

VAHLNE, J. E.; SCHWEIZER, R.; JOHANSON, J. Overcoming the Liability of Outsidership-The Challenge of HQ of the Global Firm. Journal of International

Management, vol. 18, n. 3, p. 224-232, 2012.

VERA, D.; CROSSAN, M.; APAYDIN, M. A Framework for Integrating Organiza- tional Learning, Knowledge, Capabilities and Absorptive Capacity. Handbook of orga-

nizational learning and knowledge management.West Sussex:John Wiley & Sons, 2011.

VERGARA, S. C. Projetos e relatório de pesquisa em administração. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

VERNON, R. International investments and international trade in the product cycle.

Quarterly Journal of Economics, n. 80, p. 190-207, 1966.

VERSIANI, A. F. O aprendizado organizacional na internacionalização de empresas: caso

na indústria calçadista brasileira. São Paulo: USP, 2006.

VISAAK, T.; FRANCIONI, B. Serial nonlinear internationalization in practice: a case study. International Business Review, vol. 22, n. 6, p. 951-962, 2013.

WELCH, C. L.; WELCH, L. S. Re-Internationalization: Exploration and Concep- tualization. International Business Review, n. 18, p. 567-577, 2009.

WILL, A. J. Organizational Learning during Internationalization: Acquiring Local Institutional Knowledge. Working Paper, 2009. Disponível em: <http://crgp.stanford. edu/publications/working_papers/Javernick-Will_Organizational_Learning_du- ring_Interntlztn_WP0046.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2013.

WILLIAMSON, O. E. Markets and Hierarchies: Analysis and Antitrust Implications. New York: Free Press. 1975.

WORD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics. 2012. Disponível em: <http://www.wto.org/english/res_e/statis_e/its2012_e/its2012_e.pdf>. Acesso em: 5 jan. 2013.

YIN, R. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad. Daniel Grassi. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

Recebido em: 1º/2/2013 Aceite final em: 25/9/2013

Documentos relacionados