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Na presente pesquisa, buscamos analisar as metáforas linguísticas (veículos) e situadas utilizadas para a conceptualização de “corpo fitness” e do processo para se atingi-lo e, a partir delas, as metáforas conceptuais a elas subjacentes. Além disso, buscamos identificar os

frames de “corpo fitness” e os frames de “conquista do corpo fitness” e como tudo isso

contribui na argumentação em prol da “conquista do corpo fitness” e o estilo de vida nele inserido.

As metáforas linguísticas (veículos) e as metáforas situadas encontradas nas análises nos mostraram uma conceptualização do processo de conquista do corpo fitness em termos de guerra, competição e caminho. A partir disso, as metáforas conceptuais sugeridas foram:

ENTRAR EM FORMA É GUERRA; ENTRAR EM FORMA É JOGO; ENTRAR EM FORMA É CAMINHO.

Com base nesses resultados, podemos retomar a ideia de Aristóteles (2005) ao afirmar que, ao desviar uma palavra de seu sentido ordinário, ela ganha maior realce, o que envolve, emocionalmente, quem a lê e, por consequência, faz a pessoa se identificar com o que é divulgado. Como sugere Carvalho (2009), a metáfora tem um potencial persuasivo ao criar um elo entre a razão e a emoção. Ela nos faz acreditar que tudo aquilo que está sendo divulgado tem uma motivação bastante racional e que, por isso, faz sentido agir daquela forma ou adquirir aquele produto para se conquistar determinado objetivo.

Como sugere Van Dijk (1998, p.8), a ideologia é a base das representações sociocognitivamente compartilhadas por um grupo. Ela permite às pessoas, como membros de um grupo, organizarem a multiplicidade de crenças sociais de acordo com cada caso, diferenciar o que é bom ou ruim, certo ou errado, e agir de acordo com isso.

Ademais, o uso da metáfora ajudaria, segundo Charteris-Black (2004), no desenvolvimento dessas ideologias por ter poder motivador e persuasivo. A metáfora serviria como uma ferramenta para de maneira quase imperceptível influenciar as ações e pensamentos de quem as recebe e, de acordo com Goatly (2007), causar um impacto emocional. A escolha de determinadas palavras para uma certa situação irá influenciar quem

as recebe a interpretar o que é dito de uma forma e não de outra, pois, como sugere Goatly (2007), a ideologia está em nossa mente, bem como em nosso discurso.

Com isso, podemos dizer que as metáforas são empregadas como recurso persuasivo e, assim, colaboram para trazer seguidores, curtidas e, também, vender ideias, opiniões e produtos. Sendo assim, no contexto de nossa pesquisa, a metáfora colabora para a divulgação e ascensão do mercado fitness. Como sugerem Lakoff e Johnson (1980, p.142), a metáfora pode ter um efeito de retroalimentação, guiando nossas futuras ações, de acordo com ela. Metáforas podem, assim, ser apropriadas, porque sancionam ações, justificam inferências e nos ajudam a estabelecer metas.

Podemos acrescentar ainda que “as condições socioculturais contemporâneas permitem (re)pensar, estrategicamente, o corpo como instrumento poético de uma atividade performática espetacularizada, que o exibe como troféu, conquista, portanto, desejo”(GARCIA, 2005). As imagens dos corpos das instagrammers fitness são contempladas e vistas como a vitória na guerra e na competição e como a chegada ao destino que todas querem alcançar. Apesar das fotos postadas nos corpora não conterem metáforas, nos frames analisados, elas estariam no nível do destino, da meta. As musas seriam a materialização do que suas seguidoras buscam, um corpo capaz de lhes trazer felicidade e autoestima: um troféu.

Raras são as referências ao bem estar e saúde. Os inimigos, adversários e obstáculos atrapalham o emagrecimento e, quando se consegue o corpo fitness, a felicidade e o equilíbrio seriam quase que instantâneos. Em outras palavras, o bem estar e a saúde são atrelados a essa imagem do corpo fitness (corpo que muda de acordo com a moda e a cultura) e, por isso, não são explicitados. Esse corpo perfeito (fitness), assim, reitera a propaganda e ideologia do próprio mercado (GARCIA, 2005).

Figura 12: Corpos fitness

Como limitação da pesquisa, podemos mencionar a decisão de não analisar as imagens e, assim, não explorar a multimodalidade das postagens, o que parece natural uma vez que a rede social escolhida tem essa característica como essencial. Essa escolha se deve ao fato de as imagens relacionadas às postagens serem bastante parecidas (fotos das autoras com seus corpos fitness) e, por isso, intercambiáveis. Além disso, como já argumentado anteriormente, todas as imagens estão articuladas ao objetivo da guerra e do jogo (o “corpo-troféu) e ao destino final do caminho a ser percorrido.

Outra limitação foi a escolha por somente uma edição de um “desafio” para se entrar em forma e algumas postagens específicas de pessoas consideradas famosas na rede social

postagens na edição do desafio escolhido e da necessidade de se analisar uma por uma manualmente. Reconhecemos, no entanto, que um corpus com maior número e diversidade de postagens poderia levar a resultados mais robustos.

Apesar disso, acreditamos que a presente pesquisa tenha colaborado para o estudo da teoria da Metáfora no discurso ao ter como foco o uso da metáfora em uma rede social bastante popular na sociedade atual e, mais especificamente, em um contexto em voga, o mundo fitness. Cremos ter contribuído para uma melhor compreensão crítica deste tema, que consideramos ideológica e culturalmente muito relevante no contexto da sociedade contemporânea ocidental. Ademais, por ser um assunto amplo que permite muitos enfoques, o que foi explorado nesse trabalho pode e deve ser estudado e aprofundado por outros ângulos e abordagens metodológicas. Exemplo disso seria a investigação da argumentação com foco na multimodalidade da rede social estudada e em outras que têm a multimodalidade como característica. As possibilidades são, portanto, múltiplas e promissoras.

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