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Consoante se depreende da leitura do presente trabalho, o objetivo atual da responsabilidade civil é de reparar o mais amplamente possível o prejuízo sofrido pela vítima. Essa função, em virtude de possuir sustentáculo constitucional, há de ser utilizada como parâmetro também nos casos de danos extrapatrimoniais, apesar de não ser facilmente alcançada.

De toda sorte, o sistema aberto de quantificação dos prejuízos não materiais se mostrou inepto, no direito brasileiro, a assegurar a fixação de indenizações que cumprissem tanto uma função efetivamente reparatória do dano, quanto preventivo-punitiva. Contudo, a alternativa escolhida pelo legislador para sanar esse problema não foi a mais adequada. Em verdade, evidencia-se inconstitucional.

Registre-se que o rol de critérios positivado na primeira parte do art. 223-G da CLT (caput e incisos I a XII), ao vincular o magistrado à análise de fatores do caso concreto, representa um avanço no que tange à problemática da quantificação do dano extrapatrimonial, evitando decisões extremamente arbitrárias ou precedentes excessivamente díspares entre si.

O erro foi, em seguida, na segunda parte do dispositivo em questão, estabelecer valores limite à verba indenizatória, não deixando quase nenhuma margem de discricionariedade ao julgador para majorar ou reduzir o quantum de acordo com as circunstâncias fáticas de cada caso submetido à sua apreciação.

Conclui-se que esse tabelamento é parcialmente conflitante com a Constituição Federal, que prevê no art. 5º, V e X, a garantia à indenizabilidade plena do ofendido, proporcionalmente ao agravo sofrido. Previsões genéricas contidas em lei infraconstitucional, como é o que se verifica no caso em estudo, violam de maneira contundente essa garantia constitucional, uma vez que é impossível ao legislador prever todas as hipóteses possíveis de condutas que geram o dever de indenizar, e, por conseguinte, assegurar que os valores pré- estabelecidos serão sempre adequados para reparar o dano.

O que se percebe, portanto, é um grande retrocesso em relação à garantia da indenização plena, pecando o legislador ao adotar um sistema de valoração há muito considerado incompatível com a ordem constitucional vigente.

Com efeito, nos parece que o método do arbitramento equitativo, que vem obtendo cada vez mais adeptos na jurisprudência brasileira, se revela como um sistema muito mais apropriado para o momento da valoração da indenização. A uma porque, em sua

44 primeira etapa, são consideradas decisões pretéritas de casos semelhantes, o que atenderia à necessidade de uniformização da jurisprudência nesse assunto; a duas, porque oportuniza ao magistrado determinar um quantum indenizatório que seja suficiente para assegurar a reparação integral da vítima, mesmo quando se encontre diante de casos que apresentem diversas singularidades, assegurando que os valores constitucionais relacionados à dignidade da pessoa humana sejam plenamente garantidos.

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