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Por meio dessa pesquisa, conseguimos constatar que as famílias fazem uso dos gestos caseiros para se comunicarem com os surdos, devido não terem domínio ou nem sequer saberem o básico sobre a língua de sinais. Assim, as limitações nas conversações estão presentes, visto que, os gestos não possuem recursos linguísticos de uma língua que domine os sentidos de todos os léxicos, nesse caso, existem palavras que os pais não encontram significados para gesticulações.

Outro fator, é a incompreensão na construção de sentido dos gestos, os surdos e seus familiares vivenciam situações complexas, quando há a necessidade de criar gestos, que não estão presentes nas conversações diárias, o sentido perceptivo se dá através das sensações e observações particulares do indivíduo.

Esse estudo vem demonstrar que a dificuldade de se comunicar com a criança surda, passa a ser um fator preocupante para os pais e geram muitas inseguranças. Com isso, há o isolamento, a curiosidade em entender o que está acontecendo em sua volta, os olhares perdidos em meio aos movimentos que são observados através da sua identidade linguística, a viso-espacial, a impossibilidade de usar uma língua comum com seus familiares faz com que o sujeito surdo se detenha de dificuldades interacionais, cognitivas, linguísticas e educacionais (Araújo e Lacerda, 2010)

Além disso, os surdos não apreciam a relação comunicativa através de gestos, há a priorização do uso da língua na modalidade viso-gestual, dessa forma, eles preferem a companhia dos amigos surdos, pois fazem uso da mesma modalidade linguística. Assim, os gestos caseiros passam a ser uma necessidade da família e não do surdo.

A língua de sinais é a língua natural da comunidade surda, sendo imprescindível o uso constante em todos os contextos dos surdos, é reconhecida pela Lei 10.436/2006. É

composta por todos os elementos fonéticos e fonológicos pertinentes às línguas orais, as marcações sintáticas são marcadas pelas expressões faciais.

Por outro lado, os gestos caseiros também são realizados através das mãos com ou sem movimento e podem ser feitas em alguma parte do corpo, ou em um espaço neutro. Sendo assim, os gestos caseiros de certa forma assemelham-se à língua de sinais e podem contribuir no processo de aprendizado de crianças surdas que aprendem a língua de sinais na idade avançada. Porém, não expressa sentimento de pertencimento que contribua para o reconhecimento da identidade surda, bem como, a amplitude nos conhecimentos de mundo do sujeito surdo.

Os resultados pressupostos para essa pesquisa foram totalmente alcançados, as famílias fazem uso dos gestos caseiros para se comunicarem, no entanto, não proporciona uma interação que possibilite ao sujeito com surdez uma relação dialógica significativa. Todos os surdos entrevistados sabem libras, aprenderam na escola e fazem uso em alguns contextos, igreja, com amigos surdos e na escola.

Veloso e Maia (2012), afirma que a Língua de Sinais é capaz de expressar, ideias, complexas, abstratas, poéticas e humoradas, comprovando assim, a amplitude de uma língua que garante aos sujeitos surdos a valorização e o reconhecimento linguístico. Seria necessário que houvesse uma relação efetiva e interativa no uso da LS pelos familiares com seus filhos surdos, pois, esse convívio é importante para que a criança construa sua linguagem e torne-se um sujeito pela apropriação da língua.

As informações obtidas através desse trabalho podem contribuir com futuras pesquisas, a saber: As variações dos gestos caseiros no âmbito familiar; A importância da língua de sinais na relação familiar com o surdo. E, um fator muito importante seria proporcionar aos pais o ensino da Língua de Sinais. Essa ação poderia ser promovida pela instituição escolar junto a Secretaria de Educação e contexto familiar do surdo. Assim, estariam proporcionando ao sujeito com surdez o convívio familiar em que as modalidades linguísticas fossem as mesmas.

Concluímos esse trabalho com a seguinte reflexão de Emmanuelle Laborit – “O Voo da Gaivota”. “Os sinais podem ser agressivos, diplomáticos, poéticos, filosóficos, matemáticos: tudo pode ser expresso por meio de sinais, sem perda nenhuma de conteúdo. ”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO A- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DOS PARTICIPANTES

RESPOSTAS DA FAMÍLIA

RESPOSTAS F01 F02 F03 F04

01 Eu estava trabalhando e quando eu cheguei a

mulher (esposa do seu Américo) falou que ele estava com problema, que problema era? Era problema de surdez, ela chamava ele, e ele não olhava para ela, né? Com aquilo eu fiz uma pesquisa também, chamei ele, ele não me olhou, eu tive que passar para a frente dele, tornar a chamar de novo para ele olhar na minha cara, ele estava surdo.

Aos três anos, [..] depois dela ter pegado a febre. Ela estava com nove meses, aí com três anos que nós descobrimos que ela estava com problema de surdez.

[...]criança de um ano né, até dois anos a gente vê que já quer falar. Mas ela não falava[...]aí eu fui percebendo que tudo era com sinal, se ela queria água, ela mostrava com o caneco, se queria comer ela mostrava com gesto, aí eu fui percebendo né? “Essa menina é surda”

Eu descobri aos seis meses [...] ela já nasceu surda e muda.

02 Só gestos. [..] para ele tocar a mão, primeiro

ele olhava para a gente pedindo permissão, né? Ele olhava a gente fazia aquele sinal que não podia, não era adequado para tocar a mão naquilo, e até hoje muita coisa, até para ele sair... às vezes para fazer alguma coisa, primeiramente ele olha para a gente, para ver se a gente vai fazer dizer sim ou não. Se a gente faz o sinal não pode, “não pode”.

Difícil, foi muito difícil, eu achava que ela tinha a língua “pregada”, que ia demorar para falar, ela apontava para as coisas. Só com três anos que descobrimos que ela era surda. Depois, eu fui mostrando as “coisas” para ela e dizendo o nome, eu não sabia como dizer em gesto o que era aquilo. Foi difícil.

Foi muito trabalho que eu tive [...] eu fazia de tudo para ela não chorar, porque ela não escutava para ouvir se a gente estava agradando né, prometendo alguma coisa...foi muito difícil.

Era bem difícil no

começo, a partir de um

ano, ela mesma

começou a mostrar com os gestos caseiros, se doía o ouvido ela falava, a cabeça, barriga, a perna, tudo assim.

03 Olha, a surdez ela é uma deficiência,

inclusive ele recebe um benefício, através dessa surdez dele né?

É uma deficiência. É sim, uma deficiência.

[...]é uma deficiência, porque a gente vai num canto, olha ela tem prioridade em certos lugares que a gente vai, se for fazer um documento, ela tem prioridade, qualquer coisa.

Olha, eu acho que eles são exemplos para muitos que falam e ouvem [...]eu fico é muitas vezes tocada com a inteligência que eles têm, que o que fala e ouve não tem.

04 Não Não Não Não

05 Seria bom, eu saberia conversa melhor com

ele, conversaria mais. Seria mais fácil, até conversaria com os amigos dele que é surdo.

Aqui tinha um professor que vinha dá aula[..]eu ainda fui tentar aprender, mas era muito difícil. Sim, tenho vontade de aprender. Eu fico curiosa para saber

o que eles estão

conversando.

Não. Parece que é difícil né? Queria não. Sim. Mas a Libras não é

fácil. Já tentei aprender, mas não consegui.

06 Só os sinais (gestos) Normal, conversando assim

com gestos caseiros. [...] nem tudo ela entende, as vezes eu tenho que explicar

várias vezes até ela

entender.

É com os gestos caseiros, se eu for sair de casa. Aí se eu sair de casa, se eu fizer o sinal para ela, ela entende, eu faço o gesto para ela olhar as minhas coisas, para ela trancar a casa, tudo isso ela entende. Aí se a senhora chegar e perguntar de mim, ela sabe dizer para onde é que eu estou, para onde eu não estou. Cada pessoa da família ela criou um gesto para dizer quem é, e todo mundo sabe aqui.

É os gestos caseiros, todos usamos os gestos caseiros

07 É muito difícil a gente conversar Ele, ele aqui

dentro de casa, “amodo” que está com uma revolta, sai de manhã vai para o colégio, quando 11:30 ele está em casa, aí ele almoça, aí quando ele não tem aula de reforço né, acaba de almoçar e “tchun”, vai para o quarto dele, ele abaixa o mosquiteiro dele, pode ser o solzão que tiver.... Aí quando ele sai lá de baixo quatro horas, 04 e trinta as vezes já comprei pão, o café está pronto (o café da tarde é ele que faz) ele só merenda, quando sai daqui é só de uma vez, vai para a

Converso, converso. Mas tem coisa que nem ela, nem eu entendo (risos).

Não, é pouco. Ela não gosta muito de conversar, só o necessário.

bola quando ele chega é dez horas ou onze horas da noite.

APÊNDICE- FOTOS COM AS FAMÍLIAS

Foto: 01Família 01- Fonte: coleta de dados Família 02- Fonte: coleta de dados

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