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A democracia participativa no interior do Conselho Municipal de Saúde é formal, sob o ponto de vista da efetividade. Por razões que ficaram evidentes pela análise dos registros de reuniões.

É interessante a atuação da COMSAÚDE pela transparência e publicidade de suas reuniões. É melhor que outros sistemas de decisão sobre a pauta das reuniões em outros conselhos, onde a mesa diretora decide a inclusão dos temas e mesmo quando esses são propostos durantes reuniões ordinárias do conselho. A comissão concede abertura à participação e explanação dos assuntos, mas é uma estrutura que se soma ao trabalho inerente a comissão, aparentemente sobrecarregado o único funcionário designado para dar suporte ao andamento dos trabalhos. Mas é mais um verniz democrático, pois o conselho como um todo é disfuncional.

O primeiro ponto é a falta de estrutura da secretaria. Houve demora na substituição do único funcionário que a SMS fornece para os trabalhos do conselho. O resultado foi a desorganização da secretaria executiva do conselho que não elaborou várias atas, conforme resposta oficial, e ainda houve desorganização dos arquivos de gravações das sessões. É sintomático que em uma das sessões o próprio presidente do conselho reconheça a precariedade dos arquivos. Infelizmente, também sob a questão da transparência, o órgão sai prejudicado.

A secretaria executiva tem outras funções, além da administrativa. Conforme demonstrado, cabe a esta fornecer suporte técnico, de comunicação, protocolo e outros. Da leitura das resoluções do CNS, depreende-se tratar de uma equipe, coordenada por pessoa treinada para a função. Pontualmente, conselheiros reclamaram do atraso das pautas e da desorganização da secretaria, porém não foram além disso, sempre conforme os registros. Faltou cuidado também com o site do conselho, que não dispõe de mais informações sobre as comissões formadas, nem listas de presença e ainda disponibiliza materiais desatualizados.

Item do Plano Municipal de Saúde, a revisão da legislação é outra providência a ser tomada. Há a questão da responsabilidade legal pela homologação das resoluções e do encaminhamento daquelas cujo veto foi rejeitado em plenário, que está enviesado tanto na lei como no regimento interno. É primordial alinhar a legislação local com a federal, como foi feito com a questão da eleição do presidente do conselho. A revisão está nos planos de saúde, mas não foi executada no período analisado. Essa revisão poderia contemplar a falta de regulamentação do reembolso de despesas de viagem dos conselheiros, que redundou num problema administrativo sério.

esforço, principalmente dos representantes dos usuários, por conta da disposição em formar e participar das comissões temáticas. A dificuldade aparece mesmo no momento de analisar documentos técnicos, para os quais deveriam contar com assessoria do próprio município ou contratada. Há orçamento próprio para esse tipo de despesa, como há material gratuito na internet que pode subsidiar uma capacitação. As informações constantes destes manuais podem oferecer segurança aos conselheiros por serem bastante didáticos e de linguagem acessível. Essa falta de capacitação do conselheiro é responsável, adicionalmente, pela falta da proposição de normas e recomendações dirigidas ao Poder Público. Pode faltar, inclusive, por parte dos conselheiros a visão da complexidade e a importância da função que desempenham.

A participação do secretário ou de representantes do gestor na mesa diretora não constitui um problema. É natural ao representante do gestor defender o ponto de vista do governo e seu conhecimento e poder traz assimetria perante a representação do conselho. Falta à representação popular, justamente, conhecimento para fazer frente às demandas oficiais. Pelos exemplos selecionados, é observável a condução da reunião por parte do gestor, que delimita tempo e encaminha a votação de modo mais favorável ao governo.

O esvaziamento da representação popular na transição interna do conselho e na gestão municipal tem como causas prováveis a falta de preparo das lideranças comunitárias e as falhas estruturais do conselho municipal de saúde. Esses pontos são determinantes para a falta de capacitação que leva ao empobrecimento do debate e a prevalência do posicionamento governamental. A falta de resultados e de decisões que impactem positivamente a política municipal de Saúde e sejam consolidadas a partir de discussões democráticas do CMS é também fator de desmobilização.

Os resultados obtidos não podem ser automaticamente assumidos para toda a existência do CMS, principalmente a descrição da desorganização da secretaria executiva. O ponto é, para resumir, que no biênio analisado a falta de estrutura, aliada à falta de preparação dos conselheiros impediu o conselho de produzir os efeitos desejados e esperados do controle social. Como não surpreende encontrar dificuldades na aplicação do controle social, contudo, para além do jogo de pressões desigual, nesse caso, pesa não somente o distanciamento do gestor para as atividades do conselho, mas a grande desorganização encontrada com o comprometimento da transparência. E cabe aos conselheiros exigirem condições adequadas para o exercício de suas funções estatuídas como de grande relevância pública.

Embora em grande medida seja de responsabilidade do gestor as condições de funcionamento do conselho, o conhecimento das normas e regras de funcionamento do SUS e

a competência da função de conselheiro está acessível. Existe um excesso de expectativa depositada sobre o governo. Para além de esperar iniciativas estatais visando preparar melhor os membros do Conselho, os mesmos podem e devem buscar as informações que lhes permitirão exercer sua função satisfatoriamente e resistir ao jogo de pressão do Poder Executivo. O material existente na internet é farto e a linguagem facilita a compreensão. Os conselheiros têm ainda a opção de recorrerem a assessoria técnica tanto oficial como independente.

Pela análise conjuntural, sequer se trata da “cidadania regulada” conforme conceito elaborado por Wanderley Guilherme dos. Santos (1979) e lembrado por Carvalho (2002) por ser restrita pelas limitações políticas. Não há a necessidade de cercear a participação de modo ostensivo, ao contrário, se concede a liberdade de opinião e a livre manifestação pois a falta de estrutura e de capacitação faz a contenção da atuação popular. Apesar dos mais de 25 anos de existência do Conselho Municipal de Saúde, o órgão não conta com um grupo amadurecido o suficiente para o jogo político interno e mesmo para transmitir uma atuação segura para um novo grupo. Ao contrário, percebeu-se no biênio analisado um esvaziamento e aumento do absenteísmo no segmento popular o que poderá trazer consequências para as novas composições do conselho se não houverem iniciativas para a construção de um controle social real.

A função de conselheiro na área de Saúde, assim como deve ser nas demais, é algo complexo. Não basta aos representantes populares serem eleitos e frequentarem as reuniões. O trabalho exige dedicação e disposição em se capacitar, na ausência de cursos oficiais. É evidente que o problema não se restringe ao grupo analisado, mas vem das próprias fileiras dos movimentos populares. Em certa medida, é possível extrapolar o resultado para o próprio amadurecimento desses movimentos no município. O histórico de movimentos populares na cidade não conseguiu superar velhos problemas como a mobilização e a formação e o conselho analisado apresenta as deficiências identificadas na literatura, como a qualidade da representação e a dificuldade de mobilização.

Insulado pela burocracia, o Poder Público não vê isso como problema e torna legítima suas ações cumprindo moderadamente o estatuído em lei. Então a solução ou virá dos próprios movimentos populares ou não virá de lugar nenhum. O problema é ambos os lados considerarem que algo está acontecendo, quando não está, mas o prejuízo, neste caso, não é do governo municipal.

encontrados problemas de funcionamento, falta de organização, estrutura precária, falta de informações, votações apressadas, absenteísmo, processos éticos contra conselheiros e o afastamento do presidente. O retrato dos dois últimos anos do CMS não é bom, o que não significa haver um melhor desempenho nos anos anteriores. Caso contrário, é preciso repensar essas estruturas. O CMS não deixará de existir por conta da previsão legal, mas existir e não cumprir adequadamente suas funções deixa uma lacuna que poderia estar bem ocupada pelo controle social.

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