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Ao realizar este estudo, observou-se que, com a Lei Complementar nº 135/2010, assegura-se a efetividade do § 9º do art. 14 da Constituição Federal, o que representa conquistas importantes, tendo em vista a busca por melhores costumes políticos do Brasil, os quais podem ser alcançados, de uma forma mais eficiente, ao se analisar a vida pregressa dos candidatos, protegendo, assim, a moralidade e a probidade administrativa no exercício dos mandatos políticos.

Convém frisar, que essa importante busca pela moralização da política brasileira, tendo como pilar principal a existência de representantes verdadeiramente compromissados com o interesse coletivo, passa por um aspecto fundamental, o pensamento da sociedade brasileira.

Esse pensamento, muitas vezes determinado por necessidades básicas, como a alimentação, fazem com que sejam verificados atos condenáveis realizados pelos candidatos e, de consequência, pelos eleitores, como a troca do voto por benefícios diversos, que variam desde cesta básica a dinheiro em espécie.

O eleitor precisa ter a consciência de que o ato de vender seu voto traz, de regra, um benefício momentâneo e individualizado, por outro lado, o ato de votar pode acarretar prejuízos coletivos e por um longo período.

Necessário se faz, também, que o eleitor conscientize-se de que, mesmo os partidos sendo os detentores dos mandatos e possuidores de ideologias gerais, conforme seus programas, não se deve promover terrorismo contra candidatos de determinados partidos, só pelo fato de os integrarem.

Esse terrorismo político existente no Brasil prejudica a sociedade como um todo, pois, muitas vezes, candidatos mais preparados politicamente, de boa índole e com maior experiência administrativa que seus concorrentes não são eleitos.

Em relação mais diretamente aos pontos aqui analisados, pode-se concluir que, apesar de polêmicos, não vislumbra-se, no entendimento do autor, óbices realmente

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significativos e fundamentados aos dispositivos analisados.

Por exemplo, no que se refere ao afrontamento ao princípio da Presunção de Inocência, parece claro que o mesmo refere-se à esfera penal, o que levaria, para a caracterização de inelegibilidades, a não obrigatoriedade de condenação transitada em julgado. Além disso, ainda que se restasse comprovada a possibilidade de aplicação do referido princípio ao direito eleitoral, entende-se que deveria haver a supremacia do princípio da proteção à moralidade das candidaturas, em decorrência, dentre outros motivos, do fato deste último princípio proteger a coletividade e a Administração Pública contra maus representantes.

Já em relação ao questionamento acerca da aplicação da LC nº 135/2010 com base em decisões prolatadas antes da entrada em vigor da referida lei. Pode-se afirmar, a partir do que foi analisado, que o melhor entendimento parece ser o de concordar com a aplicação da Lei da Ficha nos casos mencionados, pois o que é analisado é a condição do pretendente ao cargo no momento do registro de candidatura. Além disso, deve-se ressaltar que inelegibilidade não assemelha-se à pena, pois esta é uma sanção, enquanto aquela trata-se de uma medida protetiva.

Dessa forma, entende-se que não se pode aplicar o princípio da irretroatividade da lei penal no tempo, visto que a Lei da Ficha Limpa trata fundamentalmente de casos de inelegibilidade, ou seja, não é considerada uma lei penal.

Sobre a aplicação da Lei Complementar nº 135/2010 já nas eleições de 2010, que para os críticos seria uma afronta ao princípio da anterioridade eleitoral (art. 16 da Constituição Federal), não se vislumbra, a partir do analisado na realização do presente trabalho, que esse conflito aconteça, tendo em vista que a Lei Complementar não promove desequilíbrio ao processo eleitoral, pois a mesma relaciona-se a todas as candidaturas, as quais serão amplamente analisadas.

Deve-se destacar, também, que apesar da Lei da Ficha Limpa ter sido sancionada em 2010, a previsão de criação por Lei Complementar de novas hipóteses de inelegibilidades para proteger a probidade administrativa e a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato já está estabelecida desde 1994, com a Emenda Constitucional de Revisão nº 4/1994.

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Convém frisar, no entanto, que o presente trabalho não abordou o tema de forma aprofundada, até mesmo por tratar-se de uma lei recente, ainda carente de um maior estudo e, de consequência, de entendimentos jurisprudenciais totalmente pacíficos. Portanto, é necessário observar que a Lei da Ficha Limpa provavelmente continuará a ser debatida por longo período.

Ressalte-se, ainda, que mesmo que a Lei Complementar 135/2010 não acabe com os problemas da política no Brasil, ela certamente promoverá uma melhora na qualidade dos representantes políticos e, de consequência, poderá refletir positivamente em melhorias para a sociedade, no que se refere à prestação de serviços públicos.

Sobre essa possível melhora na qualidade dos representantes, pode-se afirmar que durante as eleições de 2010 a lei já apresentou alguns resultados, tendo em vista que um bom número de pretendentes a cargos políticos tiveram seus registros de candidatura indeferidos com fulcro na Lei da Ficha Limpa.

Observe-se, também, que alguns políticos possuidores de vida pregressa negativa não chegaram nem mesmo a tentar conseguir o deferimento do registro de candidatura, pois tinham a consciência de que seriam barrados pela nova lei.

Outro fato interessante a ser observado aconteceu com alguns candidatos, com ênfase aos pretendentes ao Poder Legislativo, que tiveram os registros de candidatura indeferidos, mas que puderam ser votados, resguardados por recursos. Alguns desses candidatos, antes da eleições, eram considerados fortes pretendes, todavia ao se desenrolar o período eleitoral, verificou-se aumento de rejeição aos mesmos, pois muitos eleitores passaram a comentar que não votariam em candidatos “ficha suja”, já que ainda estavam pendentes de julgamento, o que acabou gerando uma certa desconfiança e o temor de “perder o voto”, caso esses candidatos fossem confirmados como indeferidos. Com isso, alguns desses anteriormente favoritos, obtiveram uma votação bem abaixo do esperado.

Casos como os acima comentados, ocorreram em decorrência dessa nova norma, a qual é o objeto de estudo deste trabalho. Dessa forma, entende-se que, embora alguns questionem dispositivos da Lei Complementar nº 135/2010, não se presume algo de diferente a dizer, quanto ao objetivo da mesma, que não seja o de enaltecer essa busca pela

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moralização das candidaturas que a nova lei propõe.

Todavia não se deve pensar que a Lei da Ficha Limpa acabará com todos os problemas da política brasileira, como a corrupção, pois os mesmos são de grande complexidade e estão enraizados na estrutura política e administrativa deste país.

Porém, deve-se procurar observar a Lei da Ficha Limpa como o caminho a ser seguido para a conquista da tão sonhada moralização política, pois não se pode mais deixar que políticos indignos de representar a sociedade brasileira procurem se guarnecer a partir da aplicação de direitos fundamentais como o da presunção de inocência.

Deve-se observar que os políticos inescrupulosos ao se defenderem utilizam-se de todos os argumentos possíveis, além de se fazerem de verdadeiras vítimas. No entanto, no momento em que deveriam proteger os interesses da coletividade, esses mesmos políticos esquecem do papel social que deveriam exercer e acabam apropriando-se indevidamente de seus mandatos com o único objetivo de se beneficiar, através de práticas as mais condenáveis possíveis, como a negociação de recebimento de recursos monetários em troca de uma votação para aprovação de determinada matéria.

Convém frisar, ainda, que, se é exigido idoneidade moral para concorrer ao cargo de conselheiro tutelar ou, até mesmo, para partiticar de muitos concursos públicos, parece mais que razoável e sensato a exigência de que os representantes políticos possuam vida pregressa compatível com a responsabilidade de um mandato eletivo.

Impende salientar, todavia, que não se pretende, com os argumentos acima relatados, promover uma generalização de que toda a classe política atual é corrupta e não deveria representar a sociedade.

Por fim, cabe deixar um alerta de que ainda existe muito a ser feito, mas com a ajuda de normas jurídicas como a Lei da Ficha Limpa e, principalmente, com a ajuda e participação ativa de cada cidadão brasileiro, a política neste país será formada por representantes mais dignos de seus mandatos e que os exerçam para quem de direito, o povo.

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