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Diante de todo o exposto ao longo deste trabalho, cheguei à conclusão de que a resposta para o meu problema de pesquisa talvez não seja exatamente o que eu imaginava quando o formulei. A relação entre a violência contra as mulheres e o Direito à moradia não é necessariamente como eu imaginava. Para relacionar esses dois temas, primeiramente, é preciso entender que a violência contra a mulher é um fenômeno generalizado que atinge todas as mulheres, porém, apesar de o ser, essa violência possui causas, consequências e desdobramentos diferentes para cada interseccionalidade, pois essa violência é sentida de forma diferente entre mulheres brancas e negras, pobres e ricas.

Ainda, a violência contra as mulheres não necessariamente terá o seu fim na luta por moradia. Pelo contrário, a luta pelo direito à moradia pode ser uma das consequências que uma situação de violência de gênero pode ter e, nesse caso, o ingresso da mulher na luta por direito à moradia acaba sendo uma forma de emancipação da mulher, pois é ali, na luta, onde ela encontra a sua verdadeira emancipação. Dessa forma, a relação que concluo ser a existente entre a violência contra a mulher e o Direito à moradia é de que este acaba por ser uma forma de luta e emancipação da mulher do ciclo de violência sofrido. Através da luta por moradia a mulher encontra sua independência e seu lugar na sociedade. Seu lugar como sujeito de direitos, como ser humano autónomo capaz de lutar para ver efetivadas suas garantias mais básicas.

A violência contra as mulheres, portanto, configura uma grave violação de Direitos Humanos, que pode ter como uma de suas possíveis consequências o ingresso da mulher na luta pelo Direito à moradia, que é um direito atualmente considerado como um direito social, mas que também é abordado por alguns doutrinadores como um direito fundamental.

E o Direito à moradia também está, de fato, intimamente ligado à noção de dignidade da pessoa humana, o que faz todo sentido, visto que, morar com dignidade é essencial para que todo ser humano viva nas cidades e tenha acesso aos seus direitos fundamentais mais básicos. O Direito à moradia, portanto, sendo enxergado numa perspectiva ampla, ao meu ver, além de meramente um direito social, é um direito fundamental humano. Nesse sentido, os movimentos sociais de luta por moradia assim como os movimentos de mulheres exercem um papel crucial para o fortalecimento da luta e resistência coletiva. Quando se luta com o movimento, não há só a perspectiva de um indivíduo, mas de toda uma coletividade.

É muito importante ainda ressaltar a importância que as Universidades exercem em ambos os temas, com seus projetos de pesquisa e extensão que auxiliam movimentos sociais

que lutam por moradia e também pelo combate à violência contra as mulheres. Através das Universidades, esses movimentos podem encontrar assessoria técnica que muitas vezes não é concedida ou o é de forma ineficiente pelo Estado, assim como essas mulheres podem obter oportunidades de capacitação, orientação e estudo não somente para si mesmas, mas também para seus filhos.

A violência contra as mulheres possui muitas faces. O seu desdobramento na luta pelo Direito à moradia é apenas uma delas e, sem dúvidas, é através da busca por esse direito que muitas mulheres se emancipam da sua figura de cuidadora para possuidora e detentora do lar. E mais além, é através dessa luta que essas mulheres passam a entender que podem ir muito mais além de serem meras donas do lar, para serem do lar, das ruas, do trabalho e, principalmente, donas do seus próprios corpos e da sua própria liberdade. E isso sim, traz a sua verdadeira emancipação.

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