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O estudo realizado nos permitiu refletir sobre a questão da interdisciplinaridade, esse fenômeno contemporâneo, que conforme os autores aqui abordados, trata-se de um conceito ainda em construção, principalmente quando falamos em atuação interdisciplinar na prática profissional.

O desafio para a atuação na prática interdisciplinar no âmbito da Política de Assistência Social, mais especificamente nos CRAS de Abaetetuba, consiste em construir uma nova linguagem que possa ser comum aos especialistas oriundos de diferentes disciplinas, que possibilite um entendimento mútuo sobre as concepções iniciais e a articulação de uma caminhada que permita a cada um aceitar o desenraizamento provocado por problemáticas diferentes da sua, em nossa compreensão essa linguagem pode ser proposta pela própria política pública, já que é em torno dela que estes profissionais coexistem.

Para isso implica-se o desenvolvimento de um movimento dialógico entre psicólogos e assistentes sociais com a política de assistência, direcionada para a produção de conhecimento a partir das experiências acumuladas na prática destes profissionais ao longo da história desta política e mais precisamente a partir da nova PNAS/SUAS.

Portanto o trabalhar de forma interdisciplinar, exige do profissional uma reflexão epistemológica sobre a concepção de ser humano e de mundo que fundamenta a produção do conhecimento coletivo. Isto é, Assistentes Sociais e Psicólogos passam a ser os agentes responsáveis pela (re)produção da Assistência Social enquanto uma instituição social que, como política pública, vem buscando superar a perspectiva assistencialista, clientelística, de caridade e de ações desarticuladas com as demais políticas sociais (saúde, educação, trabalho e previdência social). Devendo romper também com as relações de trabalho precarizadas, flexíveis, fragmentadas e descontinuadas, a partir de lutas permanentes articuladas com sua classe. (EIDELWEIN, 2007)

Para esta autora, os profissionais da Assistência Social tem uma tarefa importantíssima, além do seu trabalho dever estar voltado para a perspectiva da superação do assistencialismo, clientelismo e caridade, devem também militar por garantias de seus direitos enquanto trabalhadores buscando romper com condições de trabalho precarizante, fragmentados.

No caso do trabalho desenvolvido por Assistentes Sociais e Psicólogos nos CRAS de Abaetetuba, percebemos diversas situações que impossibilitam esta luta, principalmente a questão do vínculo temporário de trabalho, que além de não garantir estabilidade, reflete

diretamente na atuação junto aos usuários dos CRAS, com ações descontinuadas e pouco articuladas com a realidade perpetuando aquelas ações pontuais tanto combatidas por estes profissionais.

Não romper com estas condições de trabalho consiste em mais um desafio que influenciam negativamente para a implementação de uma prática criativa e inovadora direcionada para a ação interdisciplinar.

Outros obstáculos que também foram percebidos durante este estudo podem estar dificultando a ação interdisciplinar, dentre eles podemos citar: condições físicas precárias dos locais de trabalho; ausência de um projeto de capacitação, formação continuada e ausência de realização de concurso público e de plano de carreira, cargos e salários para estes profissionais; número de profissionais trabalhando nos espaços sendo inferior ao determinado pela NOB-RH/SUAS, acarretando a sobrecarga daqueles que assumem a execução dos trabalhos nos CRAS.

Apesar de uma aparente satisfação percebida durante a análise dos questionários percebe-se também a ausência de relatos de ações inovadoras e criativas. A prática fica estritamente atrelada as orientações macros, formuladas nos documentos da nova PNAS, esta questão pode estar ligada a outro obstáculo o da formação destes profissionais que ainda é tradicional e fragmentada.

Além das determinações particulares da PNAS e especificidade enfrentadas nos CRAS de Abaetetuba, existem determinações universais que atingem estes profissionais em qualquer área de atuação como a questão ética, principalmente aquelas propostas pelos Conselhos Profissionais também podem ser considerados como obstáculos para a atuação interdisciplinar, pois muitas vezes limitam esta atuação através da publicação de código de ética e resolução que reforça uma atuação profissional individualizada, gerando dúvidas sobre a atuação junto a outros profissionais, sempre utilizando do discurso de “preservar a profissão” acaba limitando o fazer dos profissionais restringindo a possibilidade de se estabelecer parcerias e troca de experiências sob pena de punição.

Compreender, portanto quais são os desafios da prática interdisciplinar enfrentados por profissionais de serviço social e psicologia nos Centros de Referência de Assistência Social do município de Abaetetuba-PA, conforme estabelece a nova Política Nacional de Assistência Social, não é tarefa fácil, principalmente se enumerarmos a quantidade de obstáculos por eles enfrentados.

Superar as condições precárias de relações de trabalho, tanto no que diz respeito ao vínculo com a PMA, quanto às condições físicas e materiais dos espaços, passando pela

necessidade de implementação de gestão voltada a qualificação e valorização dos recursos humanos que atuam na Política de Assistência Social, parece-nos um caminho necessário a ser percorrido pelas equipes dos CRAS de Abaetetuba para o alcance da interdisciplinaridade.

Introduzir portanto, a atuação interdisciplinar na Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004), por meio do Sistema Único de Assistência Social - SUAS, mais especificamente nos Centros de Referência da Assistência Social, é tornar este espaço público também voltado para garantia de direitos, tanto dos usuários desta política quanto para a garantia de condições dignas de trabalho dos profissionais e continuidade dos serviços com qualidade conforme as diretrizes estabelecidas oficialmente.

Não só em âmbito local, mas nas determinações da política como um todo, e envolvendo, para isto as organizações de classes, os conselhos profissionais, entre outras instâncias de militância e de luta por melhores condições de trabalho.

Superar os problemas relacionados à formação profissional que geralmente é fragmentada, tradicional e disciplinar e ainda no caso dos psicólogos muitas vezes direcionada para a prática clínica e individualizada, também é necessário. Conforme coloca Freitas (1996) “nos cursos de psicologia, professores e alunos desconhecem, na sua maioria, as condições concretas em que vivem a maior parcela de nossa população”. E acrescenta, “para se contribuir com uma vida psicológica mais saudável é necessário que o trabalho a ser desenvolvido ultrapasse a esfera do individual e do particular” (FREITAS, 1996 p. 76).

Esta pesquisa não teve a intenção de esgotar seu objeto de investigação, mas sim, torná-lo menos obscuro e permitir que novas questões sejam levantadas a partir das reflexões aqui propostas permitindo uma nova série de questionamentos.

Desenvolver esta pesquisa no Programa de Pós-graduação em Serviço Social foi de grande importância para compreender que a questão da interdisciplinaridade vai além da atuação prática profissional entre psicólogos e assistentes sociais e não se trata apenas de um conceito, ela também permite uma ação crítica e reflexiva, sobre a formação profissional, sobre a relação com os usuários, com os colegas de trabalho e com a própria política pública.

Teorias, métodos e metodologias favorecem, contribuem, melhor possibilitam a construção de saberes e ações que permitam alcançar o compromisso social das profissões em questão, lutar por melhores condições de vida através da garantia de direitos sociais, civis e políticos a partir dos quais se possa chegar à distribuição e não à concentração da riqueza social.

Realizar esta pesquisa, portanto permitiu refletir que muitas vezes nos condicionamos a vislumbrar a ação profissional desatrelada da ação política nela inerente,

vendo desta forma podemos chegar a uma atuação profissional interdisciplinar, onde é possível compreender que esta é uma “necessidade de mercado”, mas também é uma possibilidade de garantir direitos não só aos usuários dos serviços, mas também aos trabalhadores, tendo consciência de que psicólogos e assistentes sociais fazem parte da classe de trabalhadores que vivem do seu trabalho.

Por fim, ressaltamos que esta pesquisa não finaliza aqui, pois esta apenas teve a intenção de abrir caminhos que precisam ser aprofundados e desvendados no âmbito do trabalho interdisciplinar nos CRAS, observar se este se trata de uma possibilidade real ou apenas uma utopia? Se o trabalho interdisciplinar é realmente o melhor a ser desenvolvido nos CRAS ou se existem outras formas mais adequadas? Essas são apenas algumas das muitas inquietações que podemos levantar, amadurecer e investigar no futuro.