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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Agora é hora de retomar os objetivos iniciais e realizar o balanço do percurso trilhado. Momento também, de olhar para mim mesmo, o aprendiz, se aventurando nos caminhos desconhecidos da pesquisa, agora, mais maduro, porém, ainda com muitas lacunas e inquietações, com novos horizontes à sua frente e ansioso pelo porvir.

Nosso primeiro objetivo era “analisar o cenário atual da educação e dos direitos humanos”. Entendemos ter atingido este objetivo, pois realizamos um panorama geral sobre o cenário, discursando brevemente sobre a educação, sobre os direitos humanos, trazendo alguns dados relevantes para nossa reflexão. Chegamos ao entendimento de que, apesar de o Brasil assinar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, estamos distantes de garantir de forma universal o acesso aos mesmos.

Muitos de nossos direitos ainda vistos como privilégios de alguns. Enquanto houver injustiça social e econômica, e uma política que não se concretiza, ainda veremos trabalhos como o projeto PAI, que busca assegurar, ainda que não universalmente, os cuidados básicos das crianças e jovens.

Nosso segundo objetivo era “cartografar processos educativos que ocorrem na ONG Açãoamor, procurando identificar em sua prática, relações com os direitos humanos”. Durante cerca de doze meses estivemos semanalmente na instituição, acompanhando, ouvindo, interagindo, trabalhando e vivendo intensamente o dia-a-dia do projeto, auxiliando naquilo que pudemos, mas mais do que isso, sendo afetados pelas experiências que conhecemos, que presenciamos, que vivemos e cartografando o percurso.

Oportunidade ímpar esta, de estar inserido em uma instituição e conseguir olhá-la de dentro, sofrendo das dores e das belezas que ali existem. Esta imersão, reconhecemos ser possível através da cartografia, que apesar de ser um método ad hoc, mostra seu rigor acadêmico em diferentes oportunidades.

O último objetivo era “identificar as potencialidades presentes na experiência educativa em curso no campo dos direitos humanos”. Apesar das

dificuldades enfrentadas pela ONG, bem como as diferentes limitações existentes, conseguimos observar diversas potencialidades nesta experiência em curso. Com certeza este projeto mostra que é possível trabalhar de forma humanizada com as crianças e que para isso é necessário se ter amor e carinho para com elas. Assumir a responsabilidade sobre suas vidas, afinal, conforme Arendt,

A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum. (ARENDT, 2007, p. 247).

Os monitores carregam consigo um grande desejo de auxiliar as crianças a superarem suas dificuldades, a crescerem saudáveis, a explorarem e desenvolverem suas potencialidades, a superarem seus limites, a se reinventarem a cada dia que passa.

Nesta cartografia vimos que alguns direitos são garantidos dentro da “Terra do Nunca”, como por exemplo o direito a saúde, através do trabalho realizado pelos médicos e pela assistente social que sempre busca amparo do Serviço Único de Saúde (SUS) para problemas que não podem ser resolvidos dentro do ambulatório presente na ONG, vimos o direito à educação garantido através das matrículas realizadas nas escolas municipais e estaduais presentes em Alumínio, bem como o serviço educativo prestado pela ONG que visa fortalecer os vínculos. O direito ao cuidado através da atenção dispendida pelos trabalhadores da instituição a estas crianças que ali frequentam.

Entendemos que estes direitos são de fato direitos humanos e que devem ser respeitados também fora do território da ONG. Infelizmente estes ainda não são direitos universais, mas vimos que esta experiência pode servir de inspiração para fazermos diferente, para lutarmos pelo direito a ter direitos, para nos munir de esperança e irmos à luta.

Devemos sim ir à luta para que estes direitos se tornem universais, visto que aqueles 14,5% da população paulista ainda se encontram em estado de vulnerabilidade social, ou seja, 6,7 milhões de pessoas. Sendo assim, necessitaríamos de aproximadamente 74.445 ONGs Açãoamor para dar conta

de garantir alguns dos diversos direitos humanos a que toda população deve ter acesso. Quando pensamos nisso, vemos que este não é o papel das Organizações não Governamentais, este papel, é do Estado. Por isso, devemos exigir dele, políticas públicas que garantam estes direitos de forma universal.

Gostaria de ressaltar a luta daquela criança que teve sua perna amputada e que lutou com todas as suas forças para viver, sua luta, suas lágrimas, seu exemplo me auxiliou muito na reta final desta pesquisa, obrigado por me deixar fazer parte de sua vida e por compartilhar tudo o que compartilhou comigo.

Também ressalto nosso pesar, pois fomos acometidos por uma perda, Dona Nancy que era monitora de bordado faleceu no início do ano, uma perda grande para a Açãoamor, mas sabemos que está agora em um lugar iluminado e feliz.

A primeira etapa do meu percurso como aprendiz de cartógrafo se finaliza neste momento, mas sei que ainda há muito por vir. Esta pesquisa me abriu os olhos para outras situações, para outros locais, para outras questões. Minhas reflexões tendem a aumentar e quem sabe um dia, desencadeará novas pesquisas e novos percursos para serem cartografados.

Passear pelas flores

Moacyr Camargo Vamos crianças, lindos caminhos,

Coloridos, flores, brancas, Amarelas, flores azuis

Vamos passear pelas flores Até o arco-íris

Vamos crianças lindos caminhos Coloridos, flores, brancas

Amarelas, flores, azuis

Vamos passear pelas flores Até o arco-íris

Voam os pássaros borboletas Beija-flores beijam as flores Em um riozinho bem rasinho

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