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Considerações finais

No documento Vol. 4 No. 2 (2019): Design and Activism (páginas 74-76)

A composição visual das cidades retrata as relações existentes en- tre os sujeitos e o ambiente em que vivem, ambiente este que, apesar de apropriado pelo marketing e pela propaganda, vem sendo repetidamente questionado pela arte de rua. Diante da privatização das áreas públicas e a dificuldade de reconhecimento da produção poética (por exemplo a Lei da Cidade Limpa), essas manifestações artísticas e populares utilizam as ruas como espaços de expressão (Ferreira e Kopanakis 2015), o que apon- tam a sua dimensão ativista.

Assim, partindo do pressuposto do espaço urbano enquanto um sis- tema de objetos e de ações (Santos 2006), que se oferecem a nossa percepção enquanto visualidade, Argan (2005) propõe uma apropriação da imagem pela cidade, e desta maneira, a sua constituição enquanto imagens. “A mu- dança mais profunda que marca a busca de um conceito adequado de cultu- ra visual é precisamente a ênfase no campo social do visual, nos processos cotidianos de olhar e ser olhado” (Mitchell 2017, 186), em uma reciproci- dade de influências, entre leitor e imagem. Em um processo iterativo, cada indivíduo constitui seus valores simbólicos e se transforma pela vivência, engendrados pelas narrativas que os atingem, os habitam e transbordam na imaginação. Com essas reflexões emerge a importância da contribuição dos artistas e suas produções no processo de apreciação e reflexão da cidade.

68 Arte de rua: objetos-resistência

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Recebido: 10 de março de 2019. Aprovado: 10 de abril de 2019.

1 O projeto Santas Mulheres teve início no primeiro semestre de 2018, durante a pesquisa de mestrado de Ágatha Moraes, a partir de séries fotográficas realizadas com mulheres e do acervo pessoal de santas ca- tólicas. As fotografias são manipuladas em softwares gráficos e impres- sas em variados tamanhos. Tem sido coladas na cidade de Campinas em forma de lambe-lambe e como adesivos.

2 As primeiras impressões em cartazes sugiram por meio da xilogra- vura em meados do século X. No Renascimento o artista Saint Flour cria o primeiro cartaz manuscrito, e posteriormente com a litografia e a cromolitografia os cartazes ganharam diversas cores. Os cartazes estão presentes em movimentos artísticos, tais como cubismo, art noveau, futurismo, dadaísmo, surrealismo, entre outros. O cartaz é considerado um meio midiático, muitas vezes utilizado como suporte para a publici- dade e a propaganda (Abreu 2011).

69 Regina Barbosa, Gilbertto Prado *

Regina Barbosa é docente dos Bacha-

relados em Negócios e Design de Moda da Universidade Anhembi Morumbi, Bacharel em Negócios da Moda com Habilitação em Design de Moda, Mestre em Design pela Universidade Anhembi Morumbi e Doutoranda em Design pela mesma. Ministra as disciplinas ligadas às visualidades e à expressão por meio do Desenho e demais expressões plás- ticas bidimensionais além de orientar projetos interdisciplinares e Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC). É coor- denadora de criação do Lab Mod.AR, projeto de extensão do Bacharelado em Design de Moda da Universidade Anhembi Morumbi, coordenando o desenvolvimento dos Projetos Pérola (com o Hospital Pérola Byington) e The Sea Between Us (com o Royal Melbour- ne Institute of Technology).

<reginabarbosaramos@gmail.com>

ORCID: 0000-0003-4225-3957

Resumo O presente artigo apresenta a prática do yarnbombing como tomada de posição e responsabilidade do(s) praticante(s) sobre o espaço em que vi- ve(m). Essas intervenções urbanas acontecem a partir da re-territorialização dos atos anônimos e domésticos dos trabalhos de agulha que se estendem so- bre o espaço público, em que grupos constroem discursos e possíveis diálogos com o público, de forma lúdica e palpável, por meio do craftivismo, forma de ativismo que se utiliza destes instrumentos, materiais e técnicas tão fami- liares. Questiona-se, portanto se, ao explodir, uma bomba de fios traz como impacto o enredamento entre a mensagem de quem lança a bomba, a leitura de quem é atingido por ela e os efeitos sobre a paisagem.

Palavras chave Yarnbombing, Craftivismo, Espaço urbano, Trabalhos de agulha.

A bomb was launched: Reflections on reasons and effects of yarnbombing

Abstract The following article presents the practice of yarnbombing as an action of taking position and responsibility of the practitioner(s) over the space where one lives in. Those interventions happen considering the re-territorialization of the anonymous and domestic acts of needlework that extend themselves over the public spaces, in which groups build discourses and possibilities of dialogue with the public, in a both playful and palpable way, through familiar tools, techniques and materials. It is questioned if, when it blows up, a bomb made of yarn brings with it as an impact the tangling between the message that the bombers want to send, what is read by those who were hit by it and the effects on the landscape. Keywords Yarnbombing, Craftivism, Urban space, Needlework.

Uma bomba lançada:

No documento Vol. 4 No. 2 (2019): Design and Activism (páginas 74-76)