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6 – A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAOPEBA

7.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Diante do que se observou da visão dos autores, e da revisão das legislações, verifica-se que as legislações sobre assuntos ambientais até a década de 1980 eram temáticas e pontuais às necessidades de proteção do meio ambiente. Tratavam, principalmente, dos meios de ordenação dos usos dos recursos ambientais, preventivamente ao seu esgotamento na natureza. Juntamente com essas leis, foram criados diversos órgãos, também estanques,

que, trabalhando isoladamente, não conseguiram construir uma visão sistêmica sobre o meio ambiente. A partir da Lei Federal no 6.938/81 e da CF/88, começou-se a tentativa, em meio a um mosaico institucional já constituído, de construir um sistema ambiental de políticas públicas, com objetivos, princípios e instrumentos próprios. A questão dos recursos hídricos manteve-se sob a égide do Código das Águas, no aguardo da criação de um SINGREH, conforme orientado pela Constituição. Tal sistema chegou com a Lei Federal no 9.433, de 08 de janeiro de 1.997, que traz como diretriz a integração com o SISNAMA.

Pode-se confirmar que a PNMA e a PNRH possuem singularidades e similaridades entre si. A diferença entre o contexto histórico, político e social, bem como entre as circunstâncias da criação das políticas de meio ambiente e recursos hídricos certamente teve influência sobre as suas características: a primeira, quiçá, ainda sob o reflexo da ditadura militar e no cenário da transição da velha para a nova República é caracterizada pelo enaltecimento dos instrumentos de comando e controle; e a segunda, já incorporando as novidades da democracia realçadas pela Constituição de 1.988, traz consigo um princípio bastante inovador, da gestão participativa.

A PNMA foi moderna para a sua época, por abrigar em si praticamente todos os recursos ambientais, vistos antes de maneira fragmentada: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, mar territorial, solo, subsolo e elementos da biosfera. Suas características, entretanto, continuaram voltadas para o caráter regulador. Também, várias Políticas Públicas que tratavam separadamente um ou outro recurso ambiental foram mantidas em vigor, como o Código Florestal e o Código Minerário.

A CF/88 valorizou a importância do meio ambiente e das águas, destacando sua característica de “bem público”, o que revogou a existência de “águas particulares”, como permitia o Código das Águas de 1.934. A CF/88 indicou a responsabilidade da União para a formulação de uma Política Nacional de Recursos Hídricos, que começou a ser discutida desde então, quando já se reconhecia a necessidade de integrá-la à PNMA, conforme se verificou na visão de alguns autores.

Os instrumentos da PNMA e da PNRH são bastante próximos em seus objetivos, com destaque para o Licenciamento Ambiental X Outorgas, o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos X Sistema de Informações sobre Meio Ambiente, e as penalidades comuns em ambos os sistemas, representando os instrumentos de comando e controle. O exercício dessas ações de comando e controle demanda da existência e do embasamento nos instrumentos de planejamento, para os quais tiveram destaque as ligações entre: Enquadramento das Águas X Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

Enquadramento das Águas X Zoneamento Ecológico Econômico X Plano Diretor de Recursos Hídricos X Criação de Áreas Protegidas. Quanto aos instrumentos econômicos, percebeu-se destaque dos autores para a cobrança pelo uso da água, que, por ser indutora do uso racional do recurso hídrico, induz à adoção de tecnologias mais limpas ou menos consuntivas, e interage com vários instrumentos de planejamento e regulação quantitativa e qualitativa das águas.

As ações desenvolvidas no estado de Minas Gerais para a implementação das políticas de meio ambiente e recursos hídricos, as quais refletem na bacia hidrográfica do rio Paraopeba, indicam uma priorização da implantação de instrumentos de comando e controle. Essa constatação se faz pelo fato de terem sido implantados em todo o estado os instrumentos de licenciamento ambiental, outorga de uso de recursos hídricos, sistema integrado de informações ambientais, e a fiscalização ambiental. Os instrumentos de planejamento, ainda estão sendo construídos para o estado e para as bacias hidrográficas. Todavia, conforme observado nas visões de muitos autores é imprescindível que haja instrumentos de planejamento guiando os demais. Isso porque muitos desses instrumentos, principalmente os Planos Diretores de Recursos Hídricos, e o Enquadramento das Águas trazem as metas de qualidade das águas, intermediárias e final, que por sua vez são metas de qualidade para o território da bacia hidrográfica.

A implementação de instrumentos dessa natureza, elaborados de modo participativo, e com uso do seu raciocínio nos órgãos gestores, bem como nas instâncias colegiadas com funções normativas e deliberativas, como as URC, os CBH, o COPAM e o CERH, facilita o encontro de um caminho para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável. No sentido desse compromisso com o estabelecimento de metas, cabe destacar a intenção do IGAM, de desenvolver o Enquadramento das águas em todas as UPGRH, o que se torna um potencial paradigma para a integração das políticas em Minas Gerais.

Nota-se, ainda, que funções relacionadas com a gestão das águas, como a pesca (um de seus múltiplos usos) e o saneamento são compartilhadas entre os órgãos do SISEMA, o que implica em uma interação também no âmbito institucional, necessária ao cumprimento dos objetivos das três agendas.

Outro destaque a se fazer é a baixa integração das abordagens cultural, social e ecológica dentro do contexto de meio ambiente e de desenvolvimento sustentável. A falta dos instrumentos de planejamento leva a um modelo de meio ambiente orientado por visões técnicas e pontuais, e de caráter utilitarista sobre os recursos ambientais. É necessário também

considerar o meio ambiente no seu sentido intrínseco, e reconhecer a importância da adoção de indicadores biológicos e de variáveis sociais para a aferição da qualidade ambiental.