• Nenhum resultado encontrado

5. A ECONOMIA DOS MUNICÍPIOS ALAGOANOS (1999/2010)

5.2 A macroeconomia dos municípios alagoanos

5.2.4 Considerações gerais acerca do pib municipal

A análise da economia alagoana, utilizando os dados do PIB Municipal, indica que o retrato do período colonial ainda persiste (em partes) em Alagoas. Pautada no setor de serviços, a economia alagoana apresenta traços típicos do circuito inferior da economia, porém o setor agropecuário e industrial não é diversificado, é concentrado, como demonstrado nos dados anteriormente apresentados. (CARVALHO, 2007)

Todavia, se oberva uma busca pela diversificação produtiva, como ressalta Lustosa e Rosário:

Dada a estrutura industrial da agroindústria sucroalcooleira alagoana, são usuais estratégias de diversificação radical e especialização produtiva. A entrada de alguns grupos empresariais das mais distintas atividades, como revenda de automóveis, fábrica de fertilizantes, criação de gado de leite e outros, caracteriza a primeira estratégia. A especialização em açúcar demerara para exportação, aumento da capacidade produtiva nas destilarias anexas à maioria das usinas da região, melhoria na tecnologia empregada na produção industrial e aumento na mecanização do campo, caracterizam a estratégia de especialização produtiva. (2011, p. 35-36)

Destarte, o setor químico, é o segundo mais representativo na economia local, sendo as demais atividades muito limitadas, quando não existentes apenas para a subsistência. Nesse contexto, apenas 10 Municípios concentram quase 70% da riqueza do Estado, tal como ressalta Carvalho: ―Nessas dez localidades, estão concentradas as poucas Indústrias do

Estado, o setor de serviços mais dinâmico, o comércio mais ativo e a agricultura moderna, principalmente voltada para exportação‖ (2007, p. 29).

Pondera-se a afirmação do autor acerca da agricultura moderna, visto que a mesma não é diversificada e é concentrada no setor sucroenergético, o qual vem reduzindo cada vez mais o número de pessoal ocupado no setor. Essa mão de obra que não encontra trabalho no campo tem buscado as cidades polos do Estado63 e dada a pouca diversificação industrial, entram na informalidade ou encontram ocupação no setor de serviços.

Nos Municípios de pequeno porte (até 15.000 habitantes), a situação é mais caótica, visto que é o Governo local o grande empregador e o complemento vêm das transferências federais, repasses constitucionais e contribuições previdências, ou seja, é o setor público e a União os grandes responsáveis pela mola propulsora dessas economias. Observa-se que nesses centros ocorre o fenômeno conhecido como renda sem produção, quando o setor governamental é responsável pela dinâmica econômica da localidade.

Tal diagnóstico é proposto por Gustavo Maia Gomes (2001), o qual indica economia sem produção, aquelas as localidades que quase não produzem para a geração de riquezas. Tal situação é visualizada em Alagoas, com destaque para 26 dos 102 Municípios, os quais estão localizados na mesorregião do sertão, caracterizada por um clima quente e seco (tropical semiárido).

O capítulo mostra um pouco da história e das circunstâncias que deram origem à economia sem produção e mostra, em números, como a renda dessas duas categorias, aposentados e funcionários públicos, constitui, hoje, o mais importante setor econômico do Semi-Árido nordestino. E, também, como o dinheiro recebido pelas prefeituras ajuda a dar vida a uma economia em que o cartão do INSS e a cota do FPM valem infinitamente mais do que todos os pés de mandioca que ali, um dia, já floresceram. (GOMES, 2001, p. 148)

Em geral, os municípios do sertão alagoano são caracterizados como economias sem produção em função da ausência de atividade industrial e agropecuária. A primeira é resultado de um problema nacional. Vale lembrar que o Brasil é, ainda, considerado um país subdesenvolvido, apesar de ―industrializado‖. Industrializado em partes, visto que a imensa maioria da capacidade industrial está concentrada na região Sudeste, de modo que o restante do país ainda é subdesenvolvido e tem o setor primário como sua principal atividade produtiva. A produção agropecuária é inexistente porque a região não dispõe de uma

63 A cidade de Maceió,segundo dados do IBGE, quadruplicou sua população nas ultimas quatro décadas, passando de 242.970 habitantes em 1960, para 932.748 em 2010.

infraestrutura de irrigação adequada e o clima tropical semiárido não favorece a atividade, aliado a monocultura, caso de Alagoas.

Portanto, qual a dinâmica destes municípios? Quase nenhuma, já que a produção de bens é muito reduzida. Gomes (2001) mostrou que os municípios do sertão são dependentes da renda dos aposentados e dos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), por não haver capacidade de arrecadação própria, já que é praticamente inexistente a produção local. Esses últimos, segundo o autor supracitado, representam cada vez mais uma nova classe média na região. Além dos aposentados, os possuidores de renda são os funcionários públicos, pagos com a receita do FPM. O problema é que este contexto vem se prolongando ao longo do tempo.

Até a década de 1970, o governo federal contribuía com a renda desses municípios como forma de investimento. Nos anos subsequentes, mudou gradativamente para mais despesa com pessoal, previdência e assistência. Nos municípios do agreste e do leste alagoano esta perspectiva assistencialista se combinou com a produção agropecuária, alcançando nível razoável de renda. No sertão, por outro lado, isso não foi combinado com nenhum tipo de produção em escala mínima mensurável.

Em síntese, [...] o processo de reestruturação dos gastos públicos não financeiros – menos investimento e mais despesas com pessoal, previdência e assistência – que, apesar de ter ocorrido em todo o Brasil, teve importância especial para o Nordeste e, ainda mais, para o Semi-Árido. Isso porque, no país, tomado em conjunto, o crescimento tardio do Estado de Bem-Estar Social, em grande medida feito às expensas do investimento público (e, portanto, configurando uma compra do presente, vendendo o futuro), significou a montagem (ou a expansão) de um aparato assistencialista que encontrou em funcionamento uma economia real, adicionando- se a ela. Já no Sertão nordestino, em contraste, a universalização das aposentadorias rurais e a expansão do emprego público de produtividade duvidosa nos municípios adicionou-se praticamente a coisa nenhuma, pois a economia agropecuária local, que nunca fora grande coisa, já se achava, então, em plena decadência e não havia qualquer outro setor econômico de peso equivalente lhe sucedendo. Nessas condições, o novo Estado na verdade criou, no Semi-Árido, uma nova economia, cujo fundamento é a apropriação de rendas produzidas em outras regiões. (GOMES, 2001, p. 158)

O caráter assistencialista do governo federal incentivou uma epidemia de criação de municípios em todo o Brasil. Embora tenha começado no período militar, o processo se intensificou no governo democrático com a constituição de 1988, que facilitou a criação de municípios independente da viabilidade fiscal ou econômica, como demonstrado anteriormente.

De acordo com os dados colhidos por Gomes (2001), entre 1984 e 1997 observou-se a criação de 240 municípios na região nordestina do sertão, no qual 115 apresentavam uma população menor que 5000 habitantes. No âmbito nacional, nesse mesmo período o número de municípios subiu de 4102 para 5507.

Em termos reais, o valor transferido para estes municípios é muito reduzido. É suficiente apenas para manter minimamente os órgãos públicos funcionando através do pagamento de salários. Enquanto as despesas administrativas correspondem a totalidade dos gastos, o dispêndio de caráter social e investimento produtivo é nulo. Como consequência, se propaga no tempo a manutenção do status quo, caracterizado pela miséria e falta de perspectiva dos moradores.

Estes municípios, os do sertão alagoano (ou nordestino) em especial, precisam de um programa de desenvolvimento direcionado para a sua realidade já que nem a agropecuária é capaz de ser colocada em prática de forma natural.

Em suma, além do estado de Alagoas ter razoável nível de dependência dos repasses aos estados (FPE), observa-se que os municípios alagoanos, principalmente os do sertão, são inteiramente dependentes da federalização da economia, como veremos no próximo capítulo.

Porém, na contramão das pequenas cidades, geralmente do semiárido, estão as de porte médio, como é o caso de Arapiraca. Segundo a análise, entre 1999/2010 a cidade foi diminuindo a participação do setor primário em sua economia e tornou-se um Município pautado no setor de serviços. Tal fenômeno é observável in loco na cidade, que possui grandes redes varejistas, escolas, clínicas médicas, bancos e demais empresas que trazem dinâmica a localidade, tornando-a o principal polo econômico do agreste alagoano.

Já Maceió foi se desenvolvendo como centro econômico do Estado e só vem ganhando mais protagonismo nos últimos anos. Tradicionalmente concentradora de renda e população de Alagoas, o Município cresceu ainda mais entre 1999/2010, com destaque para a maior participação no setor de serviços. Porém, sem dinâmica suficiente para absolver o grande contingente de trabalhadores que migram para a cidade, a econômica informal vem crescendo fortemente na localidade, bem como fatores negativos, como a violência urbana e a devastação ambiental.