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CAPÍTULO V PROPOSTA METODOLÓGICA PARA GESTÃO DE RECURSOS

5.1 Considerações Gerais

A abordagem de um dado tema, transformando aspectos da realidade e do mundo em um “problema cientifico”, é uma passagem crucial na atividade do cientista. O saber cientifico difere dos demais saberes porque possui regras próprias, especificas, para apreensão da realidade, não se confundindo de modo imediato com ela, nem com qualquer outra forma de conhecimento sobre o mundo. Neste sentido, os fatos e ocorrências da realidade não são, para o saber cientifico, dados imediatos, cuja apreensão e o reconhecimento sejam idênticos. Eles precisam da elaboração, trabalho intelectual que retira do mundo os produtos que, transformados, gerarão a matéria-prima do conhecimento.

Muitos conceitos utilizados quotidianamente por especialistas de diversas áreas, principalmente quando atuando no planejamento e execução de projetos que intervêm na realidade social, apresenta distorções quanto a elaboração de propostas e/ou recomendações no tocante as mesmas, principalmente porque adotam metodologias não seqüências, nas quais as propostas concebidas ficam isoladas dentro do contexto da problemática desenvolvida e por serem pontuais e desconexas acabam impedindo a execução de metodologias integradas, onde as variáveis de áreas distintas do conhecimento possam agir de forma interconectada.

Este capítulo tem como finalidade integrar e discutir os dados obtidos neste trabalho, com base no conhecimento físico da região da bacia do rio Jardim. A discussão sobre o meio físico será focada na gestão ambiental, em particular nos recursos hídricos superficiais e subterrâneos.

Repensar a organização do espaço geográfico requer, acima de tudo, não priorizar a análise das partes, mas sim a totalidade. A revisão das formas geográficas, ao mesmo tempo que se reorganizam os seus conteúdos, significa repensar cada região e buscar soluções locais, a partir da potencialidade de cada lugar e de suas regiões vizinhas, partindo de fluxos de solidariedade espacial.

Hoje a técnica ao intensificar seu domínio sobre a natureza tem provocado uma intensa e radical mudança no andamento dos sistemas naturais; logo, ao se pensar na cultura humana redimensionando os processos naturais e assim dialeticamente revendo posturas sociais, percebe-se como o meio social e o meio físico estão interconectados.

Dentro dessa perspectiva é possível evidenciar que uma das características do planeta Terra é a interdependência das partes que formam o conjunto. A conexão é geral, de forma direta ou tênue, sendo impossível compreender qualquer aspecto isolado sem referência a sua função como parte do conjunto do mundo.

A percepção dessa dialética remete a quando, ao se produzir uma segunda natureza, o homem passa por novos fluxos sistêmicos e por novas dinâmicas. A interconectividade, que estrutura os sistemas constitutivos do espaço geográfico, toma assim, uma dinâmica que integra o social ao natural, que por sua vez liga-se com as reações naturais nos sistemas locais e muitas vezes externos.

A nova organização espacial, dimensionada pelo processo de globalização que estrutura os territórios nacionais e as regiões de acordo com as suas especificidades, transforma cada vez mais o planeta em um sistema interconectado. Gera-se, assim, um sistema único que pela sua inerente interconectividade integra natureza e sociedade em todos os subsistemas globais; dessa forma, constrói-se uma nova totalidade a partir dos processos que dinamizam o sistema mundo, levando a natureza em todas as suas escalas a sofrer as conseqüências evolutivas dessa dinâmica. Nesse contexto, as escalas locais e globais se integram e, dessa forma, o processo evolutivo, derivado dos diferentes vetores e fluxos em rede, faz da evolução ecológica do planeta um só mecanismo, no qual se integram as conseqüências do modelo produtivo à dinâmica global.

O meio técnico, entre outros fatores, dispõe-se de maneira a reestruturar o espaço- tempo de acordo com a sua magnitude. É por isso que regiões que possuem modelos técnicos mais harmonizados com seu meio natural tendem a contribuir menos para a geração de fluxos que provoquem desordem. É nesse sentido que cada lugar, sendo pensado como um subsistema, representa-se como um conjunto de variáveis que dão vida a essa região, onde,

dependendo de cada estágio técnico, ocorrerá também uma organização do espaço geográfico específica, que se atrela ao modo como se dinamiza o tempo local.

Cada subsistema é, assim, uma totalidade com características espaço-temporais próprias, em que a sociedade e a natureza constituem uma só dinâmica devido a sua inerente interconectividade. Assim, buscar organizar cada subsistema, ou região, por meio de modelos técnicos mais harmônicos em relação à natureza, significa redefinir os espaços e as estruturas internas de cada sistema, redefinindo as formas-conteúdo.

O conjunto de ações que são aplicadas dentro da bacia hidrográfica de forma planejada e contínua, gera uma forma de organização peculiar ao ambiente, pois embora ações semelhantes sejam introduzidas em áreas diferentes, os estudos do meio físico possibilitam uma configuração ao território diferenciada por bacia hidrográfica. A gestão também deve englobar os diversos usuários no processo de planejamento e execução das ações, gerando uma maior descentralização das idéias e expansão dos objetivos dentro da ótica de gerenciamento.

Dentro do processo de gestão de recursos hídricos é importante conceber uma metodologia que seja eficiente e satisfaça as necessidades da demanda levando em consideração as possibilidades de oferta da bacia hidrográfica. Este processo de concepção metodológica deve salientar também a integração das reservas hídricas com todo o contexto ambiental e caminhar de forma conjunta às ações governamentais implementadas no território da bacia.

O gerenciamento sistêmico dos recursos hídricos pressupõe a unificação dos instrumentos básicos de gestão: Plano de Recursos Hídricos, Enquadramento dos Corpos d’água, Outorga, Cobrança e Sistemas de Informações de Recursos Hídricos. É necessária a adoção de uma uniformização de critérios, da construção e atualização de um banco de dados disponíveis e de uma rede geral de informações e dos procedimentos que serão adotados de forma sistemática.

A descentralização através da criação de unidades regionais de gerenciamento deverá ser institucionalmente fortalecidas por uma unidade central, localizada na sede do órgão gestor.

É necessária à implantação de uma política única, com detalhamentos específicos de cada recurso natural, ou senão pelo menos uma atualização conceitual da Política Ambiental e da Política de Recursos Hídricos de forma uniforme o que irá permitir uma adoção do mesmo tipo de procedimento nas políticas locais e uma sistematização das ações adotadas na gestão ambiental do território. Para que a descentralização das ações e as especificidades regionais

sejam tomadas como parâmetros no processo de gestão é essencial a elaboração de um plano de gestão ambiental.

A forma mais eficaz de elaboração de um plano de gestão ambiental ou planejamento ambiental é a integração de informações do meio físico e antrópico e a elaboração de estudos e execução de planos através do setor público e da sociedade, agindo de forma conjunta e considerando as representações espaciais da bacia hidrográfica. Desta forma o planejamento ambiental pode ser definido como o processo de gestão do espaço. Este processo visa organizar a atividade sócio econômica no espaço, respeitando suas funções ecológicas de forma a promover o desenvolvimento sustentável.

Um entrave nas várias propostas metodológicas de gestão integrada de recursos hídricos, é que estas contemplam em determinados casos o meio físico e trabalham sobre uma vertente de dados quantitativos e outras são apenas discutidas no seu plano teórico sem um embasamento técnico substancial capaz de otimizar os conceitos formulados e apresentar uma aplicabilidade real para os mesmos.

Na avaliação dos aspectos importantes para adoção de uma metodologia de gestão integrada dos recursos hídricos o primeiro passo é atribuir uma homogeneidade no âmbito legislativo, implementando as respectivas legislações de recursos hídricos em todas as Unidades da Federação. Esta legislação também deve estar condicionada a Legislação Ambiental, pois como discutido a gestão de recursos hídricos está inserida num processo de gestão ambiental.

Um ponto que merece ser abordado é a integração da gestão dos recursos hídricos superficiais, subterrâneos e costeiros. Apesar de uma legislação satisfatória para consolidação desta diretriz, na prática são adotadas estratégias difusas e que percorrem um caminho paralelo, ocasionando uma heterogeneidade de ações.

Neste capítulo serão apresentados os conflitos potencias da área de estudo, considerando os conflitos já existentes; as práticas de gestão, onde serão listadas e discutidas as soluções e mitigações de conflitos potencias e impactos sobre os recursos hídricos; e apresentada uma proposta de gerenciamento cuja discussão ressalte a importância da integração das variáveis do meio físico e sócio econômico, a importância do conhecimento da disponibilidade e das demandas atuais e futuras, a definição da vocação da bacia, através de metodologias como o zoneamento, e a apresentação de dados que possibilitem uma maior ênfase a necessidade de organização de usuários de recursos hídricos.

5.2 Compreensão do meio físico como suporte à tomada de decisão e planejamento de

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