É incontestável a alteração dos solos pela ação humana e consequente
degradação. A academia e os centros de pesquisas interessados em solos
mantêm discussões que propiciam alternativas para reverter esse cenário
desfavorável para a vida humana e o meio ambiente. Contudo, a técnica não
respeita o tempo da natureza e a necessidade de discutir sistemas
taxonômicos, solos antropizados e seus desdobramentos para a paisagem foi
essencial para o entendimento de muitas variáveis.
Paranaguá apresenta diversas problemáticas socioambientais, políticas
e jurídicas, correspondendo ao padrão seguido por inúmeras cidades
portuárias que ficam abandonadas, mal cuidadas e com uma população a
mercê de subempregos e sem perspectivas promissoras. Assim, essa área de
estudo requereu a necessidade de ser caracterizada através de uma
discussão sobre degradação ambiental e vulnerabilidade socioambiental para
que a compreensão dos processos vigentes fossem evidenciados.
No presente estudo almejou-se incitar esses percalços através da
apresentação e discussão dos Antropossolos. Pensando nisso, foi possível
com o desenvolver da pesquisa e o auxílio do professor Gustavo Ribas Curcio
uma análise incipiente acerca das implicações socioambientais
desencadeadas pela existência desses solos.
A hipótese do trabalho que, se propôs a comprovar através da
identificação, classificação e caracterização os processos degradativos nos
solos foi cumprida. A análise geográfica socioambiental também foi alcançada
e teve o intuito de chamar a atenção para a possibilidade de proceder a gestão
ambiental e territorial através dos Antropossolos. Os objetivos auxiliaram em
todo o processo, sendo esses essenciais para o entendimento dos limites que
a temática apresentava.
Potencialidades e fragilidades foram encontradas e devem ser
explanadas para comprovar o grande desafio que é trabalhar com essa
temática. Muitas limitações foram encontradas como: a dificuldade em mapear
os volumes antropizados, a ausência de metodologias e do caráter preditivo
dos volumes para traçar um diagnóstico e a ideia equivocada de que iriam ser
encontradas situações habitualmente vistas nos solos naturais. O Manual
Técnico de Pedologia considera técnicas voltadas apenas para os solos
“naturais”, visto que o documento tem sua base nos fundamentos da ciência
pedológica tradicional. Os resultados obtidos nas análises químicas e físicas
dos Antropossolos não serão compatíveis com os resultados obtidos em solos
naturais, confirmando a hipótese de que esses volumes antropizados não
podem ser vistos sob a mesma ótica metodológica dos solos naturais.
E nem mesmo a legislação ambiental que impõe valores permissíveis
para a contaminação dos solos opera em conjunto com as implicações
ambientais dos Antropossolos, Ou seja, existem solos alterados que geram
problemas em diversas esferas (ambiental, social e jurídica) e não há
legislação adequada, técnicos capacitados e nem técnicas para atuar sobre
essas.
Sabe-se que essa ordem dos Antropossolos possui uma extensa
variabilidade espacial e suas classes tanto podem ser encontradas em grandes
porções territoriais (áreas de mineração, aterros sanitários, áreas urbanas)
como em pequenas porções (terrenos baldios, depósitos, canteiros), algo que
ora facilita e ora prejudica o mapeamento.
A escolha da escala de 1:10.000 também não foi satisfatória para o
estudo, pois após o processo de mapeamento compreendeu-se que os
volumes de Antropossolos não seriam representados fidedignamente no mapa
e para solucionar essa limitação seria necessário um mapeamento minucioso
que demandaria tempo e recursos financeiros. Outra limitação está na
descriminação das funcionalidades ambientais desses volumes na escala de
1:10.000, assumindo que esse objetivo não foi completamente cumprido, pois
dentro de uma funcionalidade existem variações para determinados territórios,
demandando um alto nível de estatística e diversas coletas de solos, algo
inviável para o presente estudo.
O mapeamento digital de solos e a Pedometria podem, em parte, suprir
essa necessidade de métodos e técnicas de mapeamento, entretanto, o que
temos hoje ainda é incipiente e não se compara a um documento escrito com
base em uma experiência, como em uma possível 2ª Aproximação dos
Antropossolos. Assim, atualmente fica a cargo do pesquisador encontrar a
melhor opção para atingir seus objetivos na pesquisa com os Antropossolos,
devendo o mesmo se comprometer a divulgar sua experiência a outros a fim de
contribuir e quem sabe sanar com essa lacuna metodológica.
Em relação à classe dos Technosols da WRB (2014), o caráter inédito
no Brasil e os poucos estudos que mencionam suas atribuições dificultaram o
enquadramento de cada classe de solo em razão da ambiguidade de sentidos,
muitas vezes causada pela tradução do documento e conceitos específicos
para outras situações, não encontradas no Brasil. Entretanto, foi possível
conhecer os qualificadores possíveis para os Antropossolos/Technosols assim
como situar a presente pesquisa dentro do estado da arte da temática.
Sobre a “Proposta de Ordem dos Antropossolos - 1ª Aproximação”, de
Curcio et al., (2004) pode-se considerá-la um marco para a ciência dos solos
brasileira, pois, fornece discussões e apresenta enquadramento e
possibilidades nunca antes postas na ciência dos solos. Além da linguagem
acessível e a abertura para possíveis alterações. Contudo, frisa-se a
importância da continuidade da aproximação, uma publicação em nível
nacional, reafirmando o que foi dito acima acerca da necessidade de expertise
nos pesquisadores, nesse caso essa já existe e deve ser utilizada para o
desenvolvimento de trabalhos que com certeza serão admiráveis por sua
função.
O uso do documento de 2004 na área de estudo foi satisfatório em
grande parte do percurso sendo primordial para o término da dissertação as
contribuições da banca de qualificação que supriram diversos hiatos, já citados,
do estudo. As contribuições também incitaram possíveis prognósticos para o
estudo e aplicabilidade dos Antropossolos como uma possível variável para o
calculo do Índice de Vulnerabilidade Socioambiental, a construção de Planos
Diretores e ordenamento territorial e também como um indicador para a
elaboração de cartas de Qualidade Ambiental.
Por fim, foi compreendido que todos esses reveses são possíveis de
serem revertidos através do diálogo e trabalho entre os interessados,
enriquecendo essa temática e gerando mudanças no âmbito socioambiental.
Espera-se que essa dissertação, de caráter exploratório, em vista da amplitude
e possibilidades atreladas aos Antropossolos, contribua para o avanço e
compreensão da importância desses volumes e implicações postas por eles.
No documento
SETOR DE CIÊNCIAS DA TERRA DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
(páginas 103-106)