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Devido à elevada especialização dos tendões e ligamentos da extremidade distal dos membros dos equinos, estes possuem uma diminuta margem de segurança biomecânica que conduz à elevada incidência de lesões. Sabe-se que as lesões tendinosas e ligamentosas podem colocar em causa o desempenho desportivo do equino, resultando na sua reforma precoce. Depois de uma intensa revisão da literatura, incluindo Smith e

Goodship (2004), Dowling e Dart (2005), Sharma e Maffulli (2005), Dahlgren (2007), Kane e Firth (2009), Smith (2011), entre outros, concluí que existem várias teorias sobre os mecanismos de lesão tendinosa e ligamentosa, mas ainda se desconhece a causa exacta do seu acontecimento. A reparação que se segue é lenta e inadequada, resultando geralmente na formação de um tecido com propriedades estruturais, organizacionais e biomecânicas inferiores ao tecido normal, predispondo a estrutura a recorrência lesional. Os tratamentos convencionais não correspondem às expectativas de mv e proprietários, e não são muitos os estudos que comprovam a sua eficácia terapêutica. Quanto maior for a percepção sobre os acontecimentos envolvidos na lesão e na reparação destas estruturas, maior será a capacidade de desenvolver tratamentos cada vez mais eficazes.

A maioria das afecções tendinosas e ligamentosas possui carácter crónico, devido à fraca capacidade de reparação e à progressiva degenerescência da MEC dos tendões e ligamentos. A degenerescência inicia-se com a interrupção da homeostase que existe entre os processos catabólicos e anabólicos no tecido saudável, culminando numa cascata de eventos moleculares que enfraquecem o tecido. Os factores degenerativos enumerados no trabalho são o stress mecânico, a idade, a taxa de exercício, o diminuto fluxo sanguíneo local e a baixa taxa metabólica destas estruturas. Conclui-se que o avanço da taxa de degenerescência dos tendões e ligamentos é uma consequência inevitável do desporto. Todos estes factos sobre as lesões tendinosas e ligamentosas levaram ao desenvolvimento de terapias regenerativas inovadoras. A aplicação destas terapias tem como objectivo restaurar a estrutura e a função normal dos tecidos lesionados, acelerar os processos de reparação, restaurar a actividade física e evitar a recorrência lesional. Para a compreensão dos seus princípios foi necessário compreender os mecanismos fisiológicos, bioquímicos e celulares inerentes ao processo de reparação dos tendões e ligamentos. O PRP constitui uma terapia regenerativa segura e natural, baseada na concentração de plaquetas e FC a partir de uma fracção de sangue autólogo. Os FC presentes no PRP são segregados pelos grânulos α das plaquetas após uma lesão, sendo o TGF-β, o IGF-1, o PDF, o FGF, o VEGF e o EGF os mais referenciados na literatura médico-veterinária. A actuação sinérgica desta combinação fisiológica de proteínas sinalizadoras resulta na promoção da regeneração tecidular através da regulação do metabolismo celular. Devido à simplicidade dos princípios básicos da terapia com PRP, a sua utilização clínica tornou-se realidade mesmo antes da pesquisa da sua eficácia. É uma terapia versátil que pode ser conjugada com outras terapias, que possivelmente poderão amplificar o seu poder regenerativo. Destas terapias, a principal será o splitting cirúrgico, que para alguns mv é considerado um passo essencial à terapia com PRP. Outras possibilidades enquadram a administração concomitante de MSCs para incluir, além de FC e matriz, uma população celular potencialmente regeneradora. Actualmente já existem várias evidências clínicas e experimentais que viabilizam a utilização da terapia com PRP em lesões musculo-esqueléticas, mas são poucos os estudos clínicos

que comprovam as potencialidades terapêuticas desta terapia nas lesões tendinosas e ligamentosas.

O PRP pode ser obtido através dos métodos de aférese e de centrifugação, manual ou automática. Neste momento, existem muitos sistemas de produção de PRP ao alcance do mv e todos apresentam vantagens e desvantagens, mas os métodos de centrifugação são os mais utilizados em MV por serem menos dispendiosos. Até este momento, ainda não se encontra definido um intervalo óptimo para a concentração plaquetária que deverá estar presente no PRP. Sabe-se apenas que uma dada preparação deve possuir pelo menos quatro vezes o valor fisiológico de plaquetas para possuir os efeitos terapêuticos que definem esta terapia, desconhecendo-se o significado da concentração máxima obtida através de alguns dos sistemas comercializados e até que ponto este facto poderá constituir uma vantagem entre os mesmos. Outro problema encontrado na caracterização desta terapia é o facto de ainda não existir uma definição clara da composição celular e molecular do PRP. O PRP pode conter diversas concentrações dos vários elementos figurados sanguíneos, causando discórdia e confusão na interpretação de diferentes estudos, e reafirmando a ideia de que devem ser determinados limites padrão para as concentrações dos diferentes constituintes, de modo a possibilitar a denominação de uma determinada preparação como PRP. Devido à presente incoerência sobre as características técnicas desta terapia, não existem protocolos de preparação nem de administração universais e padronizados. A utilização de um protocolo diferente ou a ocultação do protocolo utilizado, assim como a ocultação da formulação e da composição do PRP, tem tornado muito difícil e até inviabilizado a comparação entre resultados de diversos estudos e ensaios clínicos existentes sobre a matéria. No entanto, já existem estudos sobre a utilização da terapia com PRP em equinos, tais como os de Araújo et al. (2009), Júnior et al. (2009), Carmona et al. (2007) e Prades (2007), que se centralizaram num protocolo que surge repetidamente na literatura sobre o assunto, nomeadamente, o protocolo indicado por Ramírez (2006).

O protocolo de reabilitação é um elemento essencial na recuperação da função atlética do equino. Existem vários protocolos, variando de acordo com a finalidade desportiva do equino, mas, em termos gerais, possuem todos o mesmo princípio básico. No caso da terapia com PRP ainda não foi formulado um protocolo adaptado ao encurtamento das diversas fases da reparação dos tecidos tendinosos e ligamentosos, sendo necessário um controlo ecográfico rígido para maximizar a aceleração providenciada pela terapia, ao mesmo tempo que se evita a recorrência lesional por excesso de carga aplicada no tecido em reparação. Nos casos de sucesso observados não se estabeleceram datas fixas para os controlos ecográficos, sendo alguns efectuados mais precocemente por curiosidade sobre a actuação da terapia com PRP, e outros devido a variáveis relacionadas com os proprietários.

Após observação e participação na sua formulação e administração, concluí que a terapia com PRP se encontra adaptada ao ambiente clínico, e que a técnica manual de obtenção é simples e de execução relativamente fácil, não descurando o conhecimento técnico necessário para conseguir obter um produto estéril e executar a técnica com elevado índice de reprodutibilidade. Através da observação dos casos clínicos e tendo em conta todas as variáveis derivadas dos animais e do próprio tratamento, conclui-se que neste grupo reduzido de animais foi possível obter relativamente bons resultados em lesões tendinosas e ligamentosas com a aplicação intralesional de PRP comparativamente aos resultados descritos por Jorgensen et al. (2011) e McIlwraith (2002) para os tratamentos convencionais. Foram considerados bons resultados tempos de recuperação reduzidos, boas características ultrassonográficas em curtos espaços de tempo, e a possibilidade do equino retornar ao prévio desempenho desportivo com uma menor probabilidade de recorrência lesional.

Existem métodos ultrassonográficos recentes e mais complexos que permitem uma mais fácil caracterização e interpretação da lesão, assim como da sua evolução durante a recuperação. No entanto, a ultrassonografia continua a ser o exame imagiológico ideal para a monitorização da lesão durante a recuperação do animal, de modo a optimizar o seu progresso, contribuindo assim para a minimização da recorrência lesional. Quantificar a imagem ecográfica utilizando a ecogenicidade, FAS e a CSA de uma lesão providencia um meio eficaz para interpretar lesões tendinosas e ligamentosas, e os valores obtidos podem também ser utilizados para classificar a lesão e monitorizar objectivamente o processo de reparação. A classificação categórica das lesões não foi realizada nestes casos clínicos, porque a necessidade de um exame ecográfico rápido e conciso se sobrepôs à necessidade de um exame objectivamente descritivo. Este é um retrato comum na clínica de equinos, onde os mv raramente descrevem de modo extensivo as lesões com que se deparam ao longo da sua prática. Deste modo, mesmo sendo o PRP aplicado em contexto clínico há vários anos, são poucos os estudos que contêm evidências ecográficas concretas da eficácia desta terapia em afecções tendinosas e ligamentosas de equinos, sendo por isso ainda muito pouco utilizada na MV em Portugal. Através da caracterização ultrassonográfica seria mais fácil a interpretação das imagens ecográficas e a sua comparação entre clínicos, e permitiria ao mv reportar os resultados obtidos após aplicação de uma determinada terapia.

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