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Grupo 2 (Experimental) Composto por trinta e um pacientes que

6.1 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS:

A utilização dos aparelhos funcionais não é recente, desde o fim do século XIX vinha-se amadurecendo a idéia de que a mudança da postura mandibular, sua protrusão com um “salto da mordida”, poderia resultar na correção da más oclusões Classe II de Angle.88,147

Em 1910, ao unir os aparelhos removíveis de contenção superior e inferior, em uma posição mandibular protruída, Andressen3 verificou a possibilidade de reverter recidivas de más oclusões de Classe II, que haviam sido tratadas com aparelhos fixos e elásticos inter- maxilares. Esse autor passou a ser considerado o pai da técnica de Ortopedia Funcional dos Maxilares, embora inicialmente acreditasse apenas em efeitos dento-alveolares do aparelho. A visão muscular dos efeitos do aparelho de Andressen foi exposta por Häulp,68 e a associação desses autores levou a modificações nesse aparelho para aumentar os espaços funcionais para a língua, denominando-o de Ativador. 4

Com o advento da segunda guerra mundial, de 1939 a 1945, dois fatores foram decisivos na expansão do uso dos aparelhos funcionais. Em primeiro lugar, houve uma imediata escassez de materiais metálicos no sítio da guerra, a Europa, dificultando a confecção dos aparelhos fixos que eram, até então, largamente utilizados. Os europeus foram forçados à pesquisa de novas técnicas para o tratamento das más oclusões, implementando o uso dos aparelhos ortopédicos funcionais.68 Por outro lado, houve uma diminuição no fluxo de conhecimento que estava sendo gerado pelas pesquisas na Europa, especialmente na Alemanha e países por ela invadidos ou anexados, impossibilitando pesquisas simultâneas na América do Norte sobre os aparelhos funcionais. Nos Estados Unidos optou-se por maiores investimentos na pesquisa da ortodontia convencional com aparelhos fixos, iniciada por

Angle e desenvolvida por seus alunos, derivando amplo número de desenhos e técnicas.163,171

No pós-guerra, o Ativador estava em pleno uso na Europa que estava sendo reconstruída, e a partir de sua idéia original, novos autores propuseram novos desenhos de aparelhos bimaxilares baseados no Ativador. O Bionator então surgiu, introduzido por Balters,9 em 1950, tendo como apelo principal sua simplicidade de construção, com diminuição da área de acrílico, e, com isto, provendo maior espaço funcional para a língua e tecidos adjacentes, ao mesmo tempo que realizava a desejada protrusão da mandíbula e afastamento de lábios e bochechas.51,59,80 As pesquisas e desenvolvimento do Bionator foram realizadas, principalmente, na Universidade de Munique na Alemanha, conhecida como a casa do Bionator.150

A falta de intercâmbio entre as Universidades da Europa e dos Estados Unidos permaneceu mesmo no pós-guerra. Não havia um bom ambiente, entre os americanos, para o desenvolvimento dos aparelhos funcionais. Deve-se levar em consideração o grande desenvolvimento tecnológico em andamento no Estados Unidos, em contraste com a estagnação e recessão que tomava conta da Europa nos anos 50. Os americanos estavam satisfeitos com o progresso e resultados obtidos com os aparelhos fixos, assim como pela reintrodução de aparelhos ortopédicos mecânicos como os de disjunção palatal e de tração extra-bucal, de ações esqueléticas comprovadas pelas diferentes

análises cefalométricas recentemente introduzidas. Por último, deve-se considerar a cultura americana, de resultados técnicos, precisos e prevísiveis, que contrastava com o conceito sobre aparelhos removíveis, considerados limitados pelo aspecto de movimentação dentária, e cujos efeitos musculares e ambientais careciam de metodologia para serem comprovados.

Esse ambiente pouco receptivo nos Estados Unidos fez com que os aparelhos ortopédicos funcionais entrassem nesse país pela porta dos fundos, em cursos de fim de semana, ministrados em hotéis por profissionais não ligados ao ensino e pesquisa universitários. Esses cursos tinham como público alvo dentistas clínicos gerais ou odontopediatras sem condições de questionar e pesquisar aquelas novas idéias, qua passavam mais pela divagação dos interlocutores do que pela objetividade da análise dos resultados.187 Os aparelhos funcionais foram super-valorizados pelos proponentes americanos, com uso excessivo e inabilitado, levando inexoravelmente a respostas desfavoráveis nos pacientes, e produzindo uma onda de frustração.64 Passou-se, então, ao descrédito dos aparelhos funcionais, desestimulando a pesquisa em centros com boa reputação, e dando espaço para elucubrações dos seus defensores nos Estados Unidos, pseudo-ortodontistas cujas teorias eram destoantes daquilo que se propunha na Europa.187

Foi o Dr. Egil Harvold que, em meados dos anos 50, a convite do Dr. Robert Moyers, introduziu academicamente a ortopedia

funcional nos EUA, através de uma série de conferências e cursos em universidades americanas.187 Desde que se iniciou o intercâmbio de professores e pesquisadores americanos e europeus, com troca de novos conhecimentos, foram apresentados os bons resultados de mais e melhores pesquisas com os diversos aparelhos funcionais.64 Destaca-se o importante papel dos Drs. Graber e McNamara Jr, sendo que este último passou longa temporada com o professor Rolf Fräenkel, na Alemanha, retornando como grande pesquisador e divulgador dos aparelhos funcionais.64,97,98 Essas pesquisas estavam consistentemente apoiadas em estudos longitudinais, com avaliações em animais experimentais, evidenciando a eficiência dos aparelhos funcionais nas correções das más oclusões Classe II. Chamavam a atenção para o efeito histológico no côndilo mandibular verificado em macacos que tiveram suas mandíbulas protruídas.96 Essa proliferação tecidual seria a responsável pelo efeito esquelético dos aparelhos funcionais, sendo conseqüente das alterações no ambiente muscular e articular, que funcionariam como um estímulo a um maior crescimento da base esquelética da mandíbula.

No Brasil, o desenvolvimento inicial da ortodontia foi ligado à influência dos americanos, com os mais importantes professores brasileiros procurando os cursos de pós-graduação oferecidos nos Estados Unidos. Estes trouxeram conhecimento e técnicas de ponta no manuseio dos aparelhos fixos, havendo um salto de qualidade na ortodontia brasileira. Pelos mesmos motivos históricos descritos

anteriormente, e pela influência cultural americana, a ortopedia funcional dos maxilares não teve acesso aos meios acadêmicos do Brasil. Esse fato foi determinante na estruturação dos primeiros cursos de especialização em ortodontia, que funcionaram como fontes catalizadoras e divulgadoras do conhecimento, focadas no uso dos aparelhos fixos.

Como nos Estados Unidos, a mesma via torta foi utilizada para a entrada dos aparelhos funcionais no Brasil, com pouca ciência e muita divagação.58 A resistência aos aparelhos funcionais, entre os especialistas em ortodontia, foi reduzida com a volta do professor Kurt Faltin Jr., depois de completado seu doutoramento pela Universidade de Bonn na Alemanha.86,177 Foram apresentados tratamentos e bases científicas para o uso do Bionator e Reguladores de Função, colocando uma clara posição para a Ortopedia Funcional dos Maxilares, como uma técnica a mais a serviço dos ortodontistas, e não como uma nova especialidade ou a salvação para os pré-molares.57,58

Nos últimos 30 anos os aparelhos ortopédicos funcionais tornaram-se um recurso técnico comum no tratamento das más oclusões Classe II. O Bionator tem sido o aparelho funcional mais largamente utilizado, e, mesmo assim, a literatura tem pouca informação a respeito dos efeitos a curto e longo prazo desses aparelhos. Segundo Witt et al.,185 na Alemanha, 37,6% dos pacientes tratados utilizam, em algum momento do tratamento ortodôntico/ortopédico, o aparelho Bionator.

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