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2.3 Áreas naturais protegidas

2.3.1 Considerações iniciais acerca do tema

O ecoturismo possui na sua essência a natureza como seu principal atrativo. A utilização das áreas naturais para o desenvolvimento desta atividade, têm sido voltada principalmente para as protegidas e pertencentes ao domínio público, ao qual é responsável por seu manejo que deve assegurar sua conservação e preservação. Ao contrário das intervenções ecoturísticas realizadas em propriedades de domínio particular, na qual o proprietário estabelece as ações que julgar de seu interesse, observando, é claro a devida legislação, quando pertinente (a exemplo de retirada de espécies protegidas de seu território e/ou construção de empreendimentos turísticos que exijam autorizações e licenças de órgão ambientais).

Uma “área natural protegida” é considerada como tal por ser um espaço de terra ou mar, destinado à proteção e manutenção da diversidade biológica, assim como dos recursos naturais e dos recursos culturais associados, e, manejada por meio da observância aos instrumentos legais e científicos de maneira eficiente. (BRITO, 2000)

Em se tratando de “áreas naturais protegidas” no Brasil, cabe pontuar e explicitar as características de dois tipos básicos: áreas sem definição de dimensões e limites e áreas com definição de dimensões e limites.

Para que se visualize as características, usos e categorias, a figura 6apresentará as áreas naturais protegidas que não possuem definição de dimensões, limites e confrontações, porém legalmente protegidas em função de suas características territoriais, biológicas, geológicas, geográficas ou climáticas que possuem importância ambiental, paisagística ou cultural cuja proteção ou conservação é determinada por lei, independente de sua localização física.

TIPO MANDATO CATEGORIA CARACTERÍSTICAS USO EXEMPLOS ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP) Lei n° 4.771 de 15 de setembro de 1965 que instituiu o Código Florestal, nos artigos 2° e 3°.

Todas as florestas, nascentes, margens de cursos d’água, encostas, manguezais, dunas, restingas, cavernas, paisagens notáveis, áreas que abrigam exemplares raros de fauna e flora, locais de pouso ou reprodução de espécies migratórias ou que assegurem a qualidade de vida das populações e os terrenos acima de 1.800 m de altitude.

Bem de interesse comum aos habitantes do País. Definida pela União, Estado e Município, podendo ser de domínio público ou particular.

Regulamentados por leis e decretos específicos. No caso de proprietário particular, este passa a ter restrições ao uso, embora não perca sua titularidade.

Manguezal do Itacorubi/SC, Serra da Capivara/PI, encostas de cursos d’água, outros.

PATRIMÔNIO NACIONAL

Constituição Federal (1988), no artigo 225, § 4°.

Floresta Amazônica Brasileira, Mata Atlântica, Serra do Mar, Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira.

Criado pela Constituição Federal para assegurar a preservação do ambiente, embora permitindo sua utilização econômica, na forma da lei.

Uso e restrições específicos ditados pela legislação ambiental complementar.

Manguezais, restingas, Serra do Mar, outros.

RESERVA LEGAL Lei n° 4.771 de 15 de setembro de 1965 que instituiu o Código Florestal, nos artigos 16° e 44°.

Florestas Remanescentes, Matas Ciliares.

Para garantir a existência da vegetação original, uma percentagem mínima de da propriedade deve ser protegida, dependendo do caso e região.

Uso e restrições específicos ditados pela legislação ambiental complementar. Diversas. ÁREA TOMBADA Por ato administrativo que submete bens e coisas, particulares ou públicas, a um regime especial de proteção.

Cidades Históricas, patrimônio arquitetônico. Florestas, nascentes, etc. Reservas da Biosfera.

Regime de proteção especial para impedir a destruição de bens naturais, históricos e patrimoniais De domínio público ou propriedade particular.

Usos e restrições específicos. Criadas sobretudo em nível estadual, e subordinadas às normas do IPHAN. Não altera o direito de propriedade, mas impõe restrições. Centro Histórico de Salvador/BA, Cidade de Parati/RJ, Área Tombada da Lagoinha da Chica e Lagoa Pequena/Fpolis-SC, outros. RESERVA DA BIOSFERA Instituídas pela UNESCO (no Brasil, a primeira na década de 90)

Nem sempre são áreas contíguas; Ocupam, em geral, grandes espaços; Podem englobar outras UCs como Parques, Reservas, etc.

Para proteção da biodiversidade e

conservação dos recursos genéticos do Planeta.

Uso e restrições específicas, visando conservação, exploração sustentável dos recursos naturais e pesquisa, monitoramento e rede de informação internacional.

Reserva da Biosfera do Cerrado, da Caatinga, da Amazônia Central, Mata Atlântica, Pantanal.

Figura 6: Áreas Naturais Protegidas: sem definição de dimensões e limites

Muitos biomas e ecossistemas destas áreas protegidas (sem definição de dimensões e limites) recebem fluxo ecoturístico intenso, como é o caso de diversas áreas de dunas do País, bem como áreas particulares e públicas do Pantanal Matogrossense, dentre muitas outras.

Outras áreas que recebem muitos turistas, são os chamados “corredores ecológicos21” e as “zonas de amortecimento” (entrono das UCs), em especial esta última, onde normalmente está concentrada a ação antrópica, uma vez que é nela que se localizam os empreendimentos turísticos e a infra-estrutura de apoio ao desenvolvimento da atividade. Porém, nestas áreas, há que se pensar e se estabelecer relações mais sustentáveis que proporcionem realmente os benefícios propostos nos princípios do desenvolvimento sustentável apregoado desde o Relatório Brundtland em 1987.

Mesmo que a atividade ecoturística possua demanda para quaisquer áreas naturais do mundo que se permita o uso para este fim, o ecoturista22, normalmente recebe a influência das empresas que “comercializam” e divulgam os destinos. E, neste caso, o fluxo de pessoas é direcionado para regiões onde houver interesse destas empresas em receber os benefícios econômicos provenientes do “negócio ecoturismo”. Retorna-se assim, ao antigo paradigma que dita o movimento e o estilo de vida das pessoas no contexto pós-moderno e da sociedade capitalista de consumo, e que, oportunamente ocupam e desocupam regiões de interesse no afã imediato de satisfazer as necessidades e sonhos momentâneos (como o de conhecer este ou aquele lugar, ou de consumir o que estiver “em moda”).

Visto que o ecoturista utiliza os serviços de empresas que divulgam os destinos que as interessa, ou que está em moda por algum motivo, seja ele por tendência ou ideais (como o caso das destinações para áreas preservadas e “intocadas” - como a maioria das destinações é “vendida” - , principalmente no Brasil, que possui

19 É uma área geográfica extensa, correspondendo às principais formações vegetais naturais. Biomas

brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado/Pantanal, Mata Atlântica/Campos, Zona Costeira Marinha. (MMA, 2006)

20 Os ecossistemas fazem parte de um bioma e são definidos formalmente como uma unidade

funcional de base em ecologia, porque inclui, ao mesmo tempo, os seres vivos e o meio onde vivem, com todas as interações recíprocas entre o meio e os organismos. (MMA, 2006)

21 Os corredores ecológicos são utilizados entre reservas e podem mudar fundamentalmente o papel

ecológico das áreas protegidas. Esses corredores servem para aumentar o tamanho e as chances de sobrevivência de populações pequenas, além de poderem servir como possibilidades de recolonização de espécies localmente perdidas e, ainda, permitir a redução da pressão do entorno das áreas protegidas. (MMA, 2006)

22 Sujeito que aciona o processo de intervenção realizando as atividades inerentes a esta prática de

extensas áreas naturais), cabe destacar que, de acordo com a experiência teórico- empírica da pesquisadora desde sua formação no curso de graduação em Turismo, foi observado, ao longo dos últimos nove anos (1995-2006) um acentuado destaque às áreas naturais protegidas , sobretudo os Parques Nacionais.

Via de regra, o ecoturismo deve possuir caráter sustentável, ou seja, deve seguir um modelo desenvolvimentista não concentrador, que possibilite o uso dos recursos naturais com respeito ao meio, permitindo harmonização e prosperidade a comunidade, com expressiva melhoria das condições de vida e da qualidade ambiental da população residente, tendo o compromisso de uma distribuição eqüitativa tanto dos recursos econômicos, quanto dos demais aspectos que envolvem esta atividade.

Para que se possa observar as características, usos e categoria das áreas protegidas com dimensões e limites definidos que são aquelas legalmente protegidas por suas características ambientais, ecológicas e culturais e criadas por lei específica que define seus limites físicos e sua extensão territorial, segue a figura 7:

ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS

COM DEFINIÇÃO DE DIMENSÕES E LIMITES

TIPO MANDATO CATEGORIA CARACTERÍSTICAS USO EXEMPLOS

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL Ordenada, de maneira abrangente, a partir da Lei n° 9.985/2000 (SNUC).

• Estação Ecológica (EE), • Reserva Biológica (REBIO), • Parque Nacional (PARNA), • Monumento Natural (MN), • Refúgio da Vida Silvestre (RVS).

Locais com características naturais relevantes com objetivo de conservação e com limites definidos, legalmente instituídos pelo Poder Público sob regime especial de administração, podendo ser criados pela União, Estados ou Municípios. Preservação da natureza com uso indireto dos recursos naturais. • PARNA do Descobrimento/BA, • REBIO do Atol das Rocas/RN, • REBIO Marinha do Arvoredo/SC, • EE Carijós/SC, • RVS da Ilha dos Lobos/RS, entre outros. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE USO SUSTENTÁVEL Ordenada, de maneira abrangente, a partir da Lei n° 9.985/2000 (SNUC). • Área de Proteção Ambiental (APA), • Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), • Floresta Nacional (FLONA), • Reserva Extrativista (RESEX ou RE), • Reserva de Fauna, • Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), • Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).

Locais com características naturais relevantes com objetivo de conservação e limites definidos,

legalmente instituídos pelo Poder Público sob regime especial de administração, podendo ser criados pela União, Estados ou Municípios. Conservação da natureza com uso sustentável dos recursos naturais. • APA Anhatomirim/SC, • ARIE Vale dos

Dinossauros/PB, • RESEX Marinha do Pirajubaé/SC, • RPPN Morro das Aranhas/SC, • RPPN Salto Morato/PR, entre outros.

Figura 7: Áreas Naturais Protegidas: com definição de dimensões e limites

Fonte: quadro organizado por Kerlei Eniele Sonaglio, com base nas informações disponíveis no MMA (2006), IBAMA (2006), CONSTITUIÇÂO FEDERAL (2006), MAGALHÃES (2001).

Tanto nas áreas naturais protegidas que não possuem a definição de dimensões e limites, quanto nas que possuem, a intervenção humana, no tocante ao ecoturismo, pressiona o desenvolvimento de atividades ligadas ao comércio de produtos e serviços, além da expansão urbana (no sentido da ocupação desordenada do território) no seu entorno, o que tende a impulsionar pressão em igual ou mais intensidade às áreas protegidas, numa relação mais predatória do que conservacionista.

A fim de explicitar com mais detalhe e rigor as pertinências ao uso ecoturístico nas Unidades de Conservação com dimensões e limites definidos, o próximo item versará sobre estas áreas, no intuito de fundamentar os objetivos propostos por esta tese.