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3 COMPORTAMENTO DA VELOCIDADE DA MOEDA NO CICLO DE

3.1 Considerações iniciais

O Brasil apresenta um histórico inflacionário bastante diferenciado quando comparamos o histórico das demais economias. A média e seu crescimento são notavelmente superiores. Entre outros aspectos, entender o comportamento da velocidade da moeda ao longo do tempo pode auxiliar significativamente nas pesquisas sobre a taxa de inflação e seu comportamento. Após alguns anos de relativos controle e estabilidade dos preços, a economia brasileira apresenta aspectos de incerteza futura no comportamento da inflação. Desta forma, estudos que possam apoiar a avaliação sobre tal comportamento, como pesquisas sobre a velocidade da moeda, tornam-se bastantes importantes.

Além disso, há muitos anos a ausência de um estudo sobre o comportamento da velocidade da moeda no curto prazo tendo como referência uma datação da cronologia de ciclos de negócios foi apontada por pesquisadores da história econômica do Brasil, segundo Peláez e Suzigan (1981, p. 234):

“Infelizmente não há datas de referências para o ciclo de negócios no Brasil que permitam determinar precisamente o comportamento cíclico da velocidade monetária” E ainda sobre a dificuldade de precisar esse comportamento no caso brasileiro, mas referindo-se com relação à frequência disponível para a variável PIB real, esses autores destacam:

“... análise é também limitada pelo uso de dados anuais ao invés de trimestrais... Os dados anuais tendem a mascarar o comportamento cíclico.” Peláez e Suzigan (1981, p. 234)

Esses autores desejavam basear sua estratégia de pesquisa em Friedman e Schwartz (1963) que estudaram, entre outros pontos, o comportamento da velocidade da moeda. Este estudo trata do período entre os anos de 1867 até 1960 e destaca padrões empíricos

de curto prazo e de longo prazo da velocidade da moeda para os Estados Unidos. Este trabalho permite base internacional de comparação aos resultados obtidos bem como inspira o formato de analisar o comportamento da velocidade ao longo do tempo, utilizando-se como referência uma datação de ciclos de negócios.

Para o caso brasileiro Simonsen (1970) e Pastore (1969) estudaram profundamente o comportamento da velocidade da moeda. Ambos os trabalhos avaliam um período histórico limitado, mas além de fornecerem base de comparação, são ótimas referências de como analisar o comportamento da velocidade da moeda e isto será guia para o estudo deste mesmo tema em outros períodos da história econômica brasileira.

Em Pastore (1969) são estudadas as velocidade e a demanda da moeda brasileiras. Para isto o autor especifica um modelo para a demanda de moeda e constrói uma base de dados, gerando a mensalização do produto brasileiro anual disponível à época da pesquisa. Com os resultados obtidos, Pastore (1969) dentre outros pontos, analisa o comportamento da velocidade da moeda no período entre os anos de 1964 e 1968, relacionando com a discussão acerca da inflação e da política monetária brasileira nesta época.

Simonsen (1970) avalia empiricamente o comportamento da velocidade da moeda para o caso brasileiro entre os anos de 1947 e 1968. Este autor destaca a relação entre a velocidade da moeda e a inflação e como esta pode interferir no comportamento da outra. Desta forma, Simonsen (1970) indica que a velocidade sofre sensível alteração ao longo do tempo e o cenário inflacionário brasileiro exige que o padrão empírico americano apontado em Friedman e Schwartz (1963), por exemplo, seja testado.

A extensa pesquisa de Peláez e Suzigan (1981) além de ser motivadora desta tese elabora uma descrição sobre a história monetária brasileira a qual inclui aspectos do comportamento da velocidade da moeda brasileira. Estes autores estudam o período desde o século XIX até o final da década de 1970.

A velocidade da moeda é uma medida do custo percebido pelos agentes de se manter saldos em moeda. Essa medida pode ser influenciada, por exemplo, a partir de alterações no rendimento de ativos substitutos da moeda, de mudanças na expectativa inflacionária e da variação do ambiente de negócios.

Assim o objetivo deste trabalho é estudar em perspectiva histórica o comportamento empírico da velocidade da moeda no caso brasileiro. E a partir disso descrever parte da história monetária brasileira, seguindo a trajetória da velocidade ao longo do tempo. Como contribuição de pesquisa, este estudo promove essa descrição, considerando como referência a cronologia de ciclos proposta no primeiro ensaio desta tese e, além disso, descreve o comportamento da velocidade para o cenário histórico brasileiro recente.

Portanto, nesse artigo, além dessa sessão inicial que apresenta o tema, faz uma discussão onde está inserida na literatura, a motivação e destaca a consequente contribuição: a próxima sessão apresenta os modelos econométricos que serão aplicados; a terceira apresenta o conjunto de dados e as principais construções realizadas. Na quarta, é proposta uma descrição da história econômica brasileira, baseando-se no comportamento da velocidade da moeda. Na quinta e última sessão, os resultados obtidos são comparados com os demais trabalhos já mencionados para motivar as conclusões finais.

3.2 Metodologia

Além de considerar o aspecto de descrever a tendência e a variação da velocidade da moeda ao longo do tempo, utilizando a base de dados construída, este trabalho adota dois modelos econométricos que permitem, através de seus resultados, suporte para a interpretação do comportamento da velocidade ao longo do tempo. Para avaliar o comportamento da velocidade em termos de evolução, buscando desagregar em sub períodos históricos será implementado um modelo com mudanças de regime análogo ao que foi utilizado no primeiro ensaio desta tese6. Será estimado um modelo para o período entre os anos 1901 e 1947 e outro para o período histórico restante.

O segundo modelo que apoia a interpretação desse comportamento é o GARCH que será brevemente descrito a seguir. Esse modelo será estimado somente para o período de 1946 até 2013.

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3.2.1 Modelo GARCH (Generalized autoregressive conditional heteroskedasticity)

Engle (1982) estuda a inflação do Reino Unido e motivado pelo aumento da aceleração e da mudança dessa variável destaca a alteração do comportamento da variância que ocorre ao longo do tempo. Assim, esse autor propõe uma classe de modelos que permitem a mudança da variância ao longo do tempo, deixando esta condicionada pela variância passada. Esses são os modelos auto-regressivos com heterocedasticidade condicional. O modelo GARCH que será implementado neste trabalho é uma generalização do modelo proposto em Engle (1982). Um GARCH (1,1) pode ser expresso através da equação abaixo, seguindo a formulação de Bollerslev (1986) que no caso deste trabalho representará a variância condicional da velocidade da moeda:

σ  = ω + α ε   + βσ

 

ω, α e β são, respectivamente, a constante da variância condicional, e os parâmetros ARCH e GARCH. Os choques aleatórios, ε, são supostamente normais. A soma dos coeficientes dos dois últimos parâmetros fornece uma ideia do comportamento geral da tendência da variância condicional.

O objetivo de implementar essa aplicação é o de estimar a variância condicional da velocidade da moeda. A variância condicional é uma estimativa da volatilidade da velocidade da moeda ao longo do tempo. Essa estimativa indica uma perspectiva de como determinado contexto histórico observado de curto prazo interfere nesse instante na variabilidade da velocidade da moeda. Sendo assim, ela é um resultado importante na etapa de interpretação e avaliação dos cenários históricos.