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CAPÍTULO III U IDADE SÓCIO OCUPACIO AL UM PROJECTO EM CO STRUÇÃO

4. Considerações metodológicas

“A metodologia desempenha um papel essencial no desenvolvimento de qualquer Projecto Social, uma vez que quase todos os resultados finais estão condicionados pelo processo, pelo método e pelo modo como se obtiveram os resultados.” (Serrano, 2008:47)

Para este projecto social diferentes métodos, em diferentes fases da sua concepção foram usados, num misto de metodologia de investigação quantitativa e qualitativa. A metodologia quantitativa “é baseada na observação de factos objectivos, de acontecimentos e fenómenos que existem independentemente do investigador” (Fortin, 1999:22), e foi a esta que se recorreu na fase do Diagnóstico Social e definição da problemática de intervenção do projecto, por recurso a técnicas de recolha e análise de informações provindas de diversas fontes documentais, nomeadamente de bibliografia pertinente sobre a temática, de outros documentos de forma textual provenientes de instituições, organismos públicos ou privados (como legislação, publicações, etc) e de documentos com dados estatísticos. Sobre estes últimos há a salientar os dados estatísticos fornecidos pelo CHLP, sobre os quais se desenvolveu uma análise e interpretação e se procurou pois apresentar com as adaptações que se julgou mais pertinentes.

Em complementaridade a esta investigação mais objectiva, houve recurso a métodos de investigação qualitativos, que visam “uma compreensão absoluta e ampla do fenómeno em estudo”…cujo objectivo é “descrever e interpretar, mais do que avaliar” , onde se “observa, descreve, interpreta e aprecia o meio e o fenómeno tal como se apresentam, sem procurar controlá-los (Fortin, 1999:22). O recurso a estes métodos ocorreu numa fase de pré-diagnóstico, ou pré-exploratória, através da realização de entrevistas exploratórias a investigadores de relevo e profissionais da área. Foram pois realizadas entrevistas exploratórias, presenciais, à Dr.ª Isabel Fazenda, membro da Coordenação Nacional para a Saúde Mental; ao Dr. António Cabeço, Psiquiatra e Director do Departamento de Psiquiatria do CHLP, à Dr.ª Célia Bonifácio, Assistente Social afecta ao

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Departamento de Psiquiatria do CHLP, e ao Médico e Delegado de Saúde Pública afecto aos concelhos da Batalha e Porto de Mós.

Numa fase mais avançada da concepção do projecto, optou-se por recorrer à aplicação de entrevistas semi-estruturadas de dois tipos, uma dirigida aos destinatários directos do projecto, os doentes, outra dirigida, poder-se-á considerar, aos destinatários indirectos do projecto, os respectivos familiares/cuidadores informais destes. Optou-se pela tipologia de entrevista semi-directiva, de forma a permitir a recolha de informação previamente identificada como pertinente, com base num guião de questões, ainda assim deixando espaço para que a sequência de respostas pudesse ser alterada e facilitando que cada entrevistado pudesse se expressar com maior liberdade, de forma a se tentar captar os comentários, as expressões de maior espontaneidade e por tal, conferidas de um cariz de talvez uma maior autenticidade.

“Devemos aproximar-nos do conhecimento da realidade de forma múltipla e com métodos e instrumentos diversos, pois a utilização de uma variedade de instrumentos cujos resultados sejam mais ou menos coincidentes permite-nos uma maior credibilização dos mesmos (Serrano, 2008:49). Face a uma determinada problemática social, podem existir diferentes actores envolvidos (destinatários, profissionais, instituições, grupos económicos, órgãos do poder político, etc.), com diferentes expectativas, recursos e interesses, pelo que uma “metodologia participativa de projecto” se afigura uma forma de planeamento na área de intervenção social que permite não só uma maior compreensão da realidade como uma maior eficácia dos meios e das técnicas de intervenção. (Guerra, 2002:113). Esta metodologia participativa de projecto tem sobretudo subjacente a ideia do “desenvolvimento da capacidade dos grupos sociais para definirem os seus objectivos – e os meios e modos de os concretizarem – face a um futuro desejável” (Guerra, 2002:119). Por esta autora, Isabel Carvalho Guerra (2002) é ainda expresso que as sociedades ditas tradicionais, e não só estas mas as populações excluídas e os “marginais” das sociedades actuais, por todos os constrangimentos e condições precárias que vivenciam, encontram-se num modo de existência que as impede de conseguirem antecipar o futuro face às pressões do seu tempo presente, que as impede de projectarem, de no fundo se organizarem entre si, conciliando interesses e objectivos comuns e desenvolverem formas de luta para a sua concretização.

É nestes contextos sociais que a metodologia participativa de projecto pode constituir um instrumento mais válido, na medida em que procura conceber determinado projecto contando com a participação, ainda que neste caso não tenha sido possível assegurar a participação da maioria dos actores envolvidos, pelo menos procurou-se assegurar a participação dos próprios destinatários (directos e indirectos). Estes, inicialmente como que destituídos de qualquer poder, passam a ser considerados elementos chave nos processos de planeamento que aos próprios dizem respeito. Numa outra obra desta autora (2006) é apresentada a perspectiva de Bertaux (1997) segundo o qual as entrevistas podem cumprir várias funções: exploratórias, analíticas e verificativas e de expressão

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(Guerra, 2006:33-34), consoante se destinem a iniciar uma pesquisa de terreno e se pretenda descobrir as linhas de força pertinentes, dado o desconhecimento do fenómeno; quando se pretende estabelecer uma teoria interpretativa geral ou quando, (e esta é a função escolhida para as entrevistas que neste estudo foram realizadas), as informações recolhidas com as entrevistas têm por intuito “fazer passar a mensagem”, “dar voz”, utilizando extractos significativos das entrevistas para exemplificar os resultados da investigação.

Considerando-se as condicionantes do tempo para realizar este trabalho e as possibilidades logísticas, o grupo de entrevistados escolhido foi de 6 doentes e 6 respectivos familiares/cuidadores informais. A sua selecção foi efectuada com a colaboração conseguida junto do elemento Delegado de Saúde do concelho da Batalha. Os critérios prévios, que definem o perfil do grupo alvo das entrevistas foram: serem utentes dos serviços públicos de saúde nomeadamente das consultas externas de psiquiatria do CHLP e serem utentes do Centro de Saúde do concelho da Batalha, ou das suas respectivas extensões; serem adultos que apresentem moderado ou reduzido grau de incapacidade psicossocial, estarem em situação de inactivos (reformados por invalidez ou desempregados de duração prolongada); terem tido anterior(es) fases agudas da doença, podendo inclusive ter sido alvo de anterior(es) internamento(s) psiquiátricos; terem ultrapassado a fase aguda da doença, isto é, estarem aparentemente em fase de estabilização clínica.

Ainda que não tenha sido possível obter um grupo de entrevistados com este perfil e serem residentes nos quatro concelhos do Pinhal Litoral II, e se ter restringido a um grupo de residentes em apenas um destes quatro concelhos, e, por este e por outros variados motivos, não se poder denominar o grupo em causa de “amostra” com representatividade estatística e de possível generalização de resultados, o grupo que foi escolhido pode assumir uma característica essencial: serem todos eles potenciais utentes para frequentar uma USO (independentemente do concelho onde residam). Isto porque, se se tiver em conta o perfil definido dos entrevistados, e que os quatro concelhos do Pinhal Litoral II se situam geograficamente próximos uns dos outros, havendo razoáveis recursos ao nível dos transportes públicos, o critério da área de residência torna-se pouco relevante.

A nível ético houve o procedimento de elaborar e apresentar aos entrevistados um pedido de consentimento livre e esclarecido, no qual era explicito o contexto do estudo e quais os objectivos da entrevista. Era igualmente assegurado o anonimato e confidencialidade das informações prestadas (ver anexo E). Aos entrevistados era-lhes proposto inicialmente optarem por uma das modalidades, entrevista escrita ou entrevista com gravação áudio, sendo a sua decisão respeitada. Era ainda inicialmente facultado aos mesmos um guião da entrevista A ou B, respectivamente entrevista aos doentes ou entrevista aos familiares/cuidadores informais (ver anexos E-1 e E-2).

As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas nos respectivos domicílios dos doentes e/ou dos respectivos familiares/cuidadores informais. A cada entrevista houve uma prévia visita,

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realizada pela aluna e o Delegado de Saúde para informar e propôr a sua posterior realização, em data e hora a combinar.

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