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Neste estudo, de natureza qualitativa, com características descritivo- exploratórias, seguiu-se as orientações metodológicas de Good e Hatt (1979), Lüdke e André (1986), Martins e Bicudo (1989), Miles e Huberman (1986), Triviños (1992).

A composição da fonte de dados compreendeu as propostas de diretrizes curriculares para os cursos de graduação em Educação Física, num total de cinco, sendo a primeira (A) corresponde àquela elaborada pela Comissão de Especialistas em Educação Física – CEE/EF – que tramitou, até outubro de 2001, na SESu/MEC, CNE, e foi disponibilizada no site dessa mesma Secretaria (AnexoI); três outras (B, C e D) disponibilizadas no site do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), para análise e sugestões, (Anexos II, III e IV, respectivamente) e a quinta proposta (E) referente ao Parecer CNE/CES 0138/2002, de 03 de abril de 2002, que está aguardando Resolução (Anexo V).

A opção por essas propostas, como fonte de dados, decorreu do entendimento de que as mesma seriam expressivas do estágio acadêmico- científico no qual se encontra a Educação Física, como uma unidade universitária. Pelas próprias orientações das diretrizes curriculares e considerações sobre as mesmas, as propostas teriam que contemplar a

identidade da área/curso e, nesse caso, poder-se-ia detectar os indicativos da característica principal que porventura vem sendo delineada para área.

Um outro material considerado como fonte de comparação, inferência das possíveis relações e enriquecimento da análise e discussão foram às diretrizes curriculares para os cursos de graduação nas áreas agrupadas no bloco de carreiras das Ciências Biológicas e da Saúde no qual se encontram, segundo organização feita pela SESu/MEC, CNE, para efeito das diretrizes: Biomedicina, Ciências Biológicas, Economia Doméstica, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Terapia Ocupacional.

Em função da Resolução CNS nº 218, de 06 de março de 1997, reconhecendo como profissionais de saúde de nível superior os Biólogos, Profissionais de Educação Física, Enfermeiros, Farmacêuticos, Fisioterapeutas, Fonoaudiólogos, Médicos, Terapeutas Ocupacionais, Nutricionistas, Odontólogos, Assistentes Sociais, Psicólogos e Médicos

Veterinários, foram consideradas também as diretrizes concernentes a

essas três últimas categorias citadas, embora no documento da SESu/MEC elas façam parte, respectivamente, dos blocos Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas e Sociais, e Ciências Exatas e da Terra.

Para tanto, recorreu-se à análise documental, utilizando-se da técnica de análise de conteúdo dos dados obtidos através das propostas, para análise e discussão dos mesmos.

O crescente interesse sobre os métodos qualitativos fez com que houvesse uma revalorização de técnicas de coleta de dados como observação, entrevista e análise documental, ficando a atenção maior para as duas primeiras (ANDRÉ, 1982).

Considerando-se a preciosidade das informações contidas em documentos, para a apreensão abrangente e profunda do fenômeno estudado, a análise documental é relevante tanto para uma abordagem preliminar do problema, como uma das técnicas alternativas de coleta de dados. A pesquisa documental favorece a uma melhor visão do problema. Os documentos, em suas diferentes formas, “são ricos em dados que

apenas esperam pela atenção dos investigadores” (CAMPENHOUDT, 1998,

p. 201). Assemelhando-se muito à pesquisa bibliográfica, vale-se “de

materiais que não receberam ainda tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa”

(GIL,1987).

Segundo Ferrari (1978, p. 228), “a pesquisa documental tem por

gêneros, dos diferentes domínios da atividade humana”. Tendo propósitos

variados, a análise documental serve, segundo André (1982, p. 41),

não só para o estudo de documentos, oficiais ou pessoais, espontâneos ou solicitados, mas também para interpretação do material coletado através de entrevistas não-estruturadas, questões abertas de questionário e relatos de observação participante

Os objetivos para os quais é particularmente adequado são, de acordo com Campenhoudt (1998), os seguintes:

- A análise dos fenômenos sociais, demográfico, sócio-econômicos (...)

- Análise das mudanças sociais e o desenvolvimento histórico dos fenômenos sociais sobre os quais não é possível recolher testemunhos diretos ou para cujo estudo são insuficientes;

- A análise da mudança nas organizações;

- O estudo das ideologias, dos sistemas de valores e da cultura no seu sentido mais lato.

Em relação aos tipos de documentos a serem acessados existe uma grande variedade. Os mais freqüentes são os de dados estatísticos e os de forma textual, porém podem ser considerados aqueles encontrados em:

- arquivos públicos – documentos oficiais e jurídicos, coleções particulares e iconografia, material cartográfico;

- arquivos particulares – igrejas, bancos, indústrias, partidos políticos, sindicatos, etc.

- a imprensa;

- fontes estatísticas;

- fontes não escritas – fotografias, gravações, imprensa falada, desenhos, pinturas, canções etc.

- documentação indireta – catálogos, anuários etc.

Encontra-se, entre os autores consultados, uma classificação em termos de documentos como fonte primária e secundária, ou documentos de primeira mão e de segunda mão. De acordo com Gil (1987, p. 51), os

documentos de primeira mão são

aqueles que não receberam qualquer tipo de tratamento analítico como os documentos conservados em arquivos de órgãos públicos e instituições privadas, além de cartas pessoais, diários, fotografias, gravações, memorandos, regulamentos, ofícios, etc. Os

documentos de segunda mão são aqueles que já

foram de alguma forma analisados como relatórios de pesquisa, de empresas, tabelas estatísticas etc.

A distinção em relação a quais documentos são importantes e os que não são depende da habilidade, capacidade e experiência do investigador para descobrir os critérios que permitam a sua seleção, mas o fundamental é ter sempre presente a finalidade da investigação (ANDER- EGG, 1974).

A análise de documentos pode ser realizada considerando duas orientações: os métodos clássicos e os métodos quantitativos, segundo Ferrari (1978).

Os métodos clássicos de certo modo derivam da crítica literária e da histórica, havendo, portanto, a distinção entre análise interna e análise externa. A interna é uma análise (a) de base racional, ou seja, crítica de natureza impressionista e fundamentada em estudo mais lógico, e (b) de caráter objetivo, referindo-se à imparcialidade. Para evitar a subjetividade, dá-se um tratamento de interobjetividade (análise de um mesmo documento por dois ou mais cientistas) e de intra-objetividade (análise do documento em duas fases, pelo mesmo pesquisador). A externa refere-se ao grau de veracidade documento (análise de contexto).

Nos métodos quantitativos, o autor supracitado considera duas categorias: a semântica quantitativa (vocabulário estilo, modos de expressão etc.) e a análise de conteúdo (sentido das palavras, conteúdo etc.).

Para proceder seu estudo, o pesquisador precisará decidir o tipo de documento que será utilizado e se recorrerá a um único documento ou uma combinação deles.

As vantagens da técnica de análise/ pesquisa documental:

- favorece a economia de tempo e dinheiro, canalizando as energias para a análise propriamente dita;

- evita o recurso abusivo às sondagens e aos inquéritos;

- valoriza um importante e precioso material documental que não pára de se enriquecer; (CAMPENHOUDT, 1998)

- o fato de ser uma fonte de pesquisa estável e rica – base para diferentes estudos, mais estabilidade dos dados obtidos;

- ser uma fonte não-reativa;

- permite a complementação dos dados suplementares e contextualizados; (ANDRÉ, 1982)

- ser a mais importante fonte de dados em qualquer pesquisa de natureza histórica;

- não exige contato com os sujeitos da pesquisa. (GIL, 1987)

Suas desvantagens são abordadas mais como limites colocados pelas críticas:

- nem sempre é possível o acesso aos documentos;

- falta de objetividade dos documentos ou a sua questionável validade;

- dados selecionados e interpretados de acordo com critérios arbitrários (em qualquer investigação acontece);

- amostras não representativas dos fenômenos estudados (aspecto mais ou menos presente em toda investigação social).

Qualquer análise qualitativa é um processo criativo que exige grande rigor intelectual e muita dedicação, já que não há a melhor nem a mais correta forma. Segundo Ladrière (citado por CUNHA e LEITE, 1996, p. 51),

“a pesquisa é sempre tateante, mas à medida que avança ela vai

aprimorando seus critérios e refinando seus métodos”.

As técnicas e métodos de análise adquirem força e valor exclusivamente mediante o apoio de um determinado suporte teórico (TRIVIÑOS, 1992), suporte esse que pode ser em grande parte tecido a partir dos dados a serem obtidos no desenvolvimento do estudo (SAGE, 1989; TRIVIÑOS, 1992). Entre os métodos complementares de análise encontra-se predominantemente a análise de conteúdo, podendo-se recorrer à análise de discurso, análise de prosa (ANDRÉ, 1983), hermenêutica-dialética (MINAYO, 1993) e análise histórica.

Em geral, inicia-se pela leitura de todo o material com anotações, reexame para organização dos dados, podendo construir categorias e tipologias, submetendo ou não os achados à apreciação de outros. A análise de conteúdo é, segundo Chizzotti (1991),

um método de tratamento e análise de informações, colhidas por meio de técnicas de coleta de dados, consubstanciadas em documento. A técnica se aplica à análise de textos escritos ou de qualquer comunicação (oral, visual, gestual) reduzida a um texto ou documento.

Discorrendo sobre essa técnica, Bardin (1979, p. 42) afirma que a mesma visa obter, por meio de "procedimentos sistemáticos e objetivos, a descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos

relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens”.

De forma semelhante, Holsti (1964) considera a análise de conteúdo como qualquer técnica de inferência através da qual objetiva e sistematicamente são identificadas características específicas de uma mensagem, devendo seguir regras e procedimentos explicitamente formulados pelo pesquisador e aplicados em função do propósito teórico que ele está seguindo.

Para uma melhor exploração do conteúdo dos documentos a serem analisados e devido à complexidade do problema, outras perspectivas teóricas foram suscitadas ao ser realizada a análise dos dados. Nesse caso, como ponto de partida apenas, foram utilizadas as seguintes dimensões norteadoras da identificação de evidências referentes à disciplina acadêmica, área de estudo e campo acadêmico profissional:

a) Para a caracterização como disciplina acadêmica, com apoio no estudo de Dressel e Marcus (1982):

• Componente substantivo, perceptual e conceitual – Quais são os tipos de problemas que a disciplina trata?

• Componente de símbolos lingüísticos, matemáticos e não discursivo e de linguagem técnica – Qual é o sistema simbólico que permite a expressão e comunicação sobre os aspectos únicos e relações sob consideração pela disciplina?

• Componente sintático ou organizacional – Quais são as maneiras pelas quais as evidências são coletadas, organizadas, avaliadas e interpretadas?

• Componente valor – Qual é a importância do estudo e como deveria ser estudado?

• Componente conjuntivo – Qual a sua relação com outras disciplinas.

b) Para a caracterização como área de estudo, com suporte em Bouchard (1976):

• Definição do objeto estudo específico e da atuação

profissional;

• Definição da estrutura conceitual;

• Descrição de um sistema de métodos aceitáveis no estudo e abordagem de pesquisa;

• Estabelecimento da relação entre tal área de estudo e

áreas de estudo adjacentes;

• Natureza do conhecimento – teórico, prático e procedimental.

c) Para a caracterização como campo acadêmico profissional, com respaldo em Stark e Lattuca (1997):

• Papel técnico ou de serviço – Quais são as competências conceitual, técnica e contextual que os profissionais precisam adquirir para desempenhar seu papel na sociedade?

• Conexões e articulações – Como a competência conceitual e a competência técnica se integram à prática?

• Valores – Que valores são importantes prover e que orientação precisa ser levada para o cumprimento da função?

• Métodos de investigação – Quais são as maneiras pelas quais o campo cria seu próprio método e formula sobre os métodos de

investigação de suas áreas ou campos de fundamentação ao desenvolver sua base de conhecimento?

Comunidades simbólicas e de discurso – Que sistemas

simbólicos o campo usa para se comunicar internamente, com seus clientes e com o público sobre seu papel na sociedade?

Essas dimensões nortearam, inicialmente, as análises das propostas de Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Educação Física, considerando-se o que essas propostas revelaram em termos da aproximação ou do distanciamento de uma definição da identidade acadêmico-científica da Educação Física. Contudo, apenas as que se encontram destacadas acima serviram de apoio devido ao tipo de documento analisado.

4 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS PROPOSTAS DE