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Capítulo III – O impacto das explicações ao nível da sala de aula – estudo de caso

1. Considerações metodológicas

A palavra método deriva do grego e significa etimologicamente caminho. Os caminhos das diferentes investigações são múltiplos e variam em função da natureza dos objectos e dos modelos explicativos, assim como das finalidades a alcançar.

O método “corresponde a um corpo orientador da pesquisa que, obedecendo a um

sistema de normas, torna possíveis a selecção e a articulação de técnicas, no intuito de se poder desenvolver o processo de verificação empírica” (Pardal & Correia, 1995: 10). O

tipo de objecto a estudar determina a escolha dos métodos a utilizar. No estudo em causa o método de investigação será o estudo de caso.

A escolha do método teve em conta por um lado, a flexibilidade que este permite na utilização de várias técnicas de recolha de dados, por outro lado, por se considerar que os acontecimentos devem estudar-se em situações naturais, ou seja, integradas no terreno; os acontecimentos só poderão compreender-se se compreendermos a percepção e a interpretação feitas pelas pessoas que neles participam (Tuckman, 1994).

No domínio operatório, optamos por realizar uma pesquisa bibliográfica e documental, e registos de contactos informais, fundamental não só na fase exploratória do problema como sustentáculo do tema escolhido, mas também na construção de um quadro teórico, na fundamentação do problema, e na estruturação dos instrumentos de recolha de dados empíricos.

A estabilização do quadro conceptual exigiu a necessária revisão da literatura existente que possibilitou, não só o enquadramento e fundamentação teórica do problema em questão, mas também, a reunião das diferentes contribuições de autores/investigadores cujo trabalho realizado contribuiu para clarificar o campo de conhecimento em análise, e a sustentação dos objectivos a atingir no estudo de caso.

A escolha de estratégias de recolha de informação, utilizando o inquérito, observação directa e indirecta e registos de conversas informais, teve por base a exequibilidade do projecto face ao tempo, aos recursos disponíveis e à acessibilidade da informação. Nem sempre o ideal é o possível. Trata-se de técnicas que permitem uma complementaridade entre elas, o que na temática em questão se torna essencial.

O questionário surgiu-nos como a forma mais viável de recolher e analisar a informação sobre as atitudes/opiniões dos alunos e professores. Analisamos vários inquéritos-tipo, documentamo-nos sobre a forma de construção e aplicação dos inquéritos e

construímos o nosso próprio instrumento de recolha de dados. Procuramos formular questões simples e claras certificando-nos que as categorias de respostas eram consistentes.

Assim, preocupamo-nos com a definição clara dos conceitos utilizados, a fim de determinar com rigor a sua compreensão exacta, pretendendo situá-los em relação a outros, classificando-os e distinguindo-os. Este procedimento foi essencial na estruturação dos inquéritos para alcançar os objectivos traçados evitando ambiguidades. Os inquéritos construídos (ver anexos) foram alvo de um pré-teste, aplicado a cinco professores e cinco alunos com o objectivo de testar a objectividade, clareza e rigor das questões formuladas, nomeadamente, verificar se os termos utilizados eram da compreensão dos inquiridos; se as perguntas estavam a ser entendidas correctamente; se as opções de respostas nas perguntas fechadas estavam completas; se a sequência das perguntas era a mais adequada; se não havia objecções na obtenção das respostas e se a forma de apresentar a pergunta não causava confusão ao inquirido.

De seguida, analisamos o feedback da aplicação dos inquéritos, discutimos algumas alterações avançadas pelos professores inquiridos e procuramos chegar a um consenso no que dizia respeito à validade/utilidade dessas propostas de alteração que se prendiam sobretudo com a introdução de mais opções de escolha nas questões seis e oito. Nesta fase, procuramos identificar falhas no método utilizado e no raciocínio que esteve na base da sua elaboração. Discutimos ideias, partilhamos informações e aferimos o entendimento que tínhamos de alguns dos conceitos, clarificando os objectivos que se pretendiam alcançar com a aplicação dos inquéritos: obter um conhecimento prático do tipo de atitude/comportamento que o aluno que frequenta as explicações tem, dentro da sala de aulas; saber até que ponto o conhecimento, por parte do professor, de que os seus alunos têm explicações altera o seu procedimento comportamental no interior da sala de aula; inferir alterações na relação professor/aluno durante o processo de ensino/aprendizagem condicionadas pela frequência das explicações; analisar o impacto das explicações no interior da sala de aula, nomeadamente em relação às expectativas criadas e à sua influência na consecução das tarefas escolares.

A questão de investigação que nos propusemos tratar requereu também, para além da observação directa a observação indirecta do comportamento dos professores e alunos envolvidos na investigação. Neste sentido, o recurso a notas, resultado de conversas informais e observações espontâneas tornou-se útil na recolha da informação necessária.

A “pesquisa informal” permite, por vezes, obter dados significativos que o contexto formal coage ou dificulta. Alguns críticos apontam a falta de rigor científico, credibilidade e mesmo a sua inutilidade em estudos que pretendem atingir a objectividade. Esta observação crítica levou-nos a delimitar o conceito de objectividade científica, hoje entendida como intersubjectividade numa aproximação progressiva à verdade. A objectividade pura não existe e é sobretudo assegurada pela postura permanentemente crítica em relação a teorias e resultados (Popper, 1975).

As pessoas directamente envolvidas no estudo foram informadas que os dados eram confidenciais e que a sua divulgação seria sempre anónima.

A observação empírica dos dados pode e deve ser aceite pela ciência, quando se trate de provas que resultem dos órgãos dos sentidos do ser humano, uma vez que podem ser agrupadas em categorias e ajudar assim a validar ou rejeitar uma hipótese. (Shelltiz et al., 1977). Neste sentido, esta técnica de recolha de dados é útil enquanto registo de campo informal e consequentemente isenta dos constrangimentos que outras técnicas que exigem a participação directa do investigador comportam.

A nossa proximidade profissional com o tema em estudo permitiu-nos desenvolver um conjunto de conversas informais com pessoas directamente envolvidas na problemática em análise e delas fazer uso a partir de notas que fomos registando ao longo do processo. Mas, a proximidade referida se por um lado facilitou a entrada no contexto especifico da análise e trouxe um conjunto de saberes e experiências acumuladas ao longos de anos de prática profissional, por outro lado, implicou, em prol do rigor da análise, um esforço metodológico de ruptura com ideias e preconceitos enraizados sem fundamentação científica.

De facto, como refere Quivy, (1992: 25), “Em ciências sociais, a nossa bagagem

comporta demasiadas armadilhas, dado que grande parte das nossas ideias se inspiram nas aparências imediatas ou em suposições parciais […] Construir sobre tais premissas é construir sobre areia. Daí a importância da ruptura, que consiste precisamente em romper com os preconceitos e as falsas evidências que somente nos dão a ilusão de compreender as coisas”.

Observar não é olhar de forma ingénua, não há olhar inocente sobre a realidade. Na verdade, o que efectivamente observamos é afectado de variadíssimas maneiras pelas nossas crenças, motivações, expectativas e hábitos prévios ao início dessa observação.

Tendo consciência que o trabalho de observação e análise é sempre subjectivo e susceptível de desvios nos procedimentos e resultados, procuramos minimizar estes riscos através do cruzamento de informações, do confronto rigoroso dos dados empíricos com o suporte teórico existente, da interpretação contextualizada dos dados que possibilite a compreensão com a finalidade da máxima objectividade na investigação.

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