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CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

No documento Vera Rita de Mello Ferreira (páginas 47-51)

O método utilizado é o analítico-descritivo (Pongratz, 199889), situado na categoria observacional-descritiva, que determina ao historiógrafo duas tarefas: “1. uma cuidadosa documentação dos acontecimentos; e 2. a interpretação dos fatos históricos.” (op. cit., p.339). Esta abordagem implica atenção a diversos fatores e graus de complexidade, que

87 ADORNO, Theodor W. e HORKHEIMER, Max. (1969) Dialética do esclarecimento – fragmentos

filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. Trad. Guido A. Almeida.

88 ADORNO, Theodor W. Palavras e sinais – modelos críticos 2. Petrópolis: Vozes, 1995. Trad. M. Helena

Ruschel.

89 PONGRATZ, Ludwig J. Abordagens descritiva e analítica: Dilthey vs. Ebbinghaus. In J. BROŽEK e M.

MASSIMI (orgs.), Historiografia da Psicologia Moderna (versão brasileira). São Paulo: Unimarco Editores e Edições Loyola, 1998. Trad. J. A. Ceschin e Paulo J. C. Silva.

vão da subjetividade do próprio historiador ao Zeitgeist90, passando pelas mudanças na

história da ciência, a abertura implícita no fazer História, que sempre se renova a cada geração de historiadores e a possibilidade de controvérsias entre eles, presentes tanto na descrição como na análise das questões históricas.

Contudo, diferentes nuances metodológicas são adotadas em cada capítulo : para expor as origens da área (cap.2), optou-se por recorrer aos seus próprios autores – com esta estratégia, obtínhamos, também, dados sobre a visão destes autores a respeito da disciplina. Na verdade, interessa-nos menos estabelecer de modo definitivo datas e precedências, do que conhecer possíveis trajetórias, suas implicações e o significado de subscrever-se uma ou outra interpretação, para os rumos atuais do campo. Para dados mais recentes, sobre a Psicologia Econômica moderna, que não seriam encontrados de outra forma, recorreu-se às informações obtidas por meio da realização de uma mesa- redonda reunindo quatro pioneiros da Psicologia Econômica européia contemporânea, em 2005, testemunhada pela autora, que registrou por escrito o debate, junto a documentos primários (atas, pautas, correspondência, anotações91) e comunicações pessoais.

Para a análise dos conceitos e modelos (cap.3), procedeu-se, inicialmente, à seleção dos autores e obras que poderiam oferecer subsídios a esta discussão. A escolha obedeceu a critérios tais como número de citações (Lea et. al., 1987), ser considerado “a obra mais importante da área” (Katona, 1975), ser o editorial do primeiro número do periódico vinculado ao campo (van Raaij, 1981), discursos por ocasião do recebimento do Prêmio Nobel de Economia por parte de pesquisadores originados da Psicologia (Kahneman, 2002) ou, de alguma forma, na interface Economia-Psicologia (Simon, 1978) e outros, detalhados naquele capítulo.

Em seguida, foram pinçados os conceitos que consideramos chave para uma apresentação da disciplina e de seus modelos: definição, objeto de estudo (comportamento econômico),

90 “Espírito dos tempos”. “Todo historiador é influenciado pela filosofia (Weltanschauung) e pelas

condições sócio-culturais características de seu tempo.” (Pongratz, 1998, p.340).

91 Estes documentos originais foram disponibilizados à autora em 2005, por Stephen Lea, que pretende

depositá-los num acervo no Centro de Psicologia Econômica da Universidade de Exeter, no Reino Unido. (cf. nota 23, p.11).

o denominador comum que operacionaliza este objeto (tomada de decisão no âmbito

econômico) e aquele que é considerado o pomo-da-discórdia fundante do campo, a teoria

da racionalidade. O objetivo, aqui, é, também, oferecer ao leitor uma reunião, condensada, dos temos básicos encontrados em praticamente todas as obras da área, bem como um mapa inicial para referências, no sentido de localizá- lo com respeito a obras relevantes para o campo (incluindo-se indicações sobre a disponibilidade das obras ao leitor brasileiro, quando possível). Naturalmente, não caberia uma proposta de esgotar toda a literatura existente – e que, felizmente, não pára de crescer! – mas delinear alguns dos debates mais pertinentes ao desenvolvimento da disciplina.

No cap.4, a análise de teorias econômicas (basicamente, aquelas referentes ao utilitarismo e marginalismo), foi feita recorrendo-se a um livro de história do pensamento econômico (Oser e Blanchfield, 198792) e a autores da Psicologia Econômica que tratam do assunto , acrescentadas, neste segundo caso, de dados obtidos por pesquisas empíricas. Já a fundamentação psicanalítica contou com a discussão dos autores mencionados (Freud, Klein, Bion e alguns outros) e a própria experiência clínica da autora.

Para o debate em torno da disciplina (cap.5), com formulação de propostas brasileiras, houve o levantamento bibliográfico citado anteriormente, ao lado de observações reunidas pela autora ao longo dos últimos anos, desde a realização de sua dissertação93, mais discussões que começam a ser empreendidas no país, com outros pesquisadores e interessados no campo, sempre cotejados com dados levantados nos capítulos anteriores.

Em suma, trata-se de um levantamento histórico e bibliográfico, que se estende a uma discussão de modelos e propostas, a partir dos dados daquela forma obtidos.

92 OSER, Jacob & BLANCHFIELD, William C. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Atlas,

1987. Trad. Carmem T. S. Santos.

93 FERREIRA, Vera Rita de Mello. O Componente emocional – funcionamento mental e ilusão à luz das

O Anexo sobre as áreas de fronteira foi elaborado a partir de informações institucionais das diferentes associações científicas que centralizam a produção de conhecimento das respectivas ramificações.

Duas últimas observações de caráter técnico: como alguns termos específicos da área não receberam, ainda, tradução “oficial” para o português, optamos por apresentá- los com nossas próprias sugestões de tradução, acompanhadas pelo original em inglês (ou espanhol ou francês). É nosso objetivo, desta forma, oferecer subsídios para as futuras discussões que poderão, no futuro próximo, determinar as expressões, em Português, que se consagrarão pelo uso. Com relação às citações, decidiu-se incluir tanto o original, em geral em inglês, mas em alguns casos em espanhol ou francês, em notas de fim de página, acompanhadas das respectivas traduções, no corpo do texto, feitas pela própria autora, diante da inexistência de traduções para nossa língua até o momento.

Sobre a inclusão de citações e notas ao longo do trabalho, o recurso foi adotado tendo em vista tratar-se de um trabalho situado em âmbito interdisciplinar. Seu leitor pode ser psicólogo, economista, psicanalista, ou pesquisadores e profissionais de várias outras denominações. Portanto, tivemos a preocupação de manter as idéias tão acessíveis quanto possível a um público potencialmente diversificado, oferecendo explicações suplementares e trechos dos originais a fim de permitir contextualização mais rápida, bem como vias para prosse guir no conhecimento de autores e idéias, mediante suas referências bibliográficas. Esperamos que os objetivos para tal procedimento tenham sido alcançados, pelo menos em parte.

CAP. 2 ORIGENS DA PSICOLOGIA ECONÔMICA – PRIMÓRDIOS E

No documento Vera Rita de Mello Ferreira (páginas 47-51)