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4 ABORDAGEM ECONOMÉTRICA PARA O CICLO DE GOODWIN

4.3 AS CONSIDERAÇÕES DE MOHUN E VENEZIANI

Mohun e Veneziani (2011) apresentam uma análise empírica para a economia norte- -americana entre 1948 e 2004. Os autores utilizam dados anuais e trimestrais, para o emprego e para a parcela salário do setor corporativo. Comparando a abordagem de Mohun e Veneziani (2011) com a metodologia de Goldstein (1999), percebem-se algumas semelhanças. Nos dois casos, são isolados os componentes cíclicos das séries. A partir de tais componentes, é realizada análise empírica sobre a trajetória sugerida pelo modelo.

A proposta dos autores difere da de Goldstein (1999) em dois sentidos. O primeiro é

que não há, propriamente, um teste econométrico específico para a análise da economia norte- -americana no período estudado. A análise é efetuada através de inspeção visual das

informações obtidas, plotadas em um plano no qual as variáveis são a parcela salarial (u) e o nível de emprego (v).

A segunda diferença situa-se na compreensão de quais elementos explicam o comportamento das variáveis. Para Mohun e Veneziani (2011), dois processos distintos explicam o comportamento dinâmico da parcela salarial e do nível de emprego. O primeiro processo considera que o comportamento de longo prazo das variáveis é derivado de mudanças estruturais. Ou seja, o componente tendencial é interpretado como elemento exógeno ao modelo de Goodwin. Os autores apontam que os resultados apresentados por Desai (1984) sugerem esse comportamento. O segundo processo é o associado à dinâmica

prevista pelo modelo de Goodwin. Ou seja, as séries da parcela salarial e do nível de emprego contêm dois componentes não observados. O primeiro é o componente tendencial, associado a mudanças estruturais no longo prazo. O segundo é o componente cíclico, associado ao Modelo de Goodwin, que ocorre no curto prazo. Goldstein (1999) não faz a distinção entre dois componentes de natureza distinta. Desse modo, tanto o componente tendencial como o componente cíclico extraído das séries das variáveis são explicados, exclusivamente, pelo modelo de Goodwin.

A justificativa teórica apresentada por Mohun e Veneziani (2011) para essa abordagem parte da hipótese de que a dinâmica capitalista opera em diferentes escalas temporais. Essa concepção busca conciliar duas afirmações de Marx sobre o comportamento da taxa de salários. Por um lado “[...] o movimento geral dos salários é regulado, exclusivamente, pelas expansões e contrações do exército industrial de reserva, que correspondem às flutuações periódicas do ciclo industrial” (Marx, 1976, p.539, tradução nossa).

Entretanto Marx também afirma que:

São essas variações absolutas na acumulação de capital que se refletem como variações relativas na massa de força de trabalho explorável, o que induz a crer que se deve a oscilações próprias do último. Exprimindo isso em termos matemáticos: a magnitude da acumulação é a variável independente, e a magnitude dos salários é a variável dependente, e não o contrário (1976, p. 523, tradução nossa).

Com base nessa perspectiva, Mohun e Veneziani (2011) sugerem que, no longo prazo, “[...] a taxa de acumulação é determinada pelos capitais competindo através de inovações em produtos e processos, gerando um progresso técnico que, tipicamente (apesar que não universalmente), poupa trabalho e aumenta a massa de meios de produção” (p. 110, tradução nossa)35. Dessa forma, os salários de longo prazo respondem a esses incrementos de produtividade. Por sua vez, a lucratividade é determinada pelo progresso técnico. Desse modo, a taxa de lucro de longo prazo é associada a um perfil específico de tecnologia e distribuição, o qual determina a taxa de acumulação de longo prazo e, assim, a taxa de emprego de longo prazo. A evolução de longo prazo da taxa de lucro é associada a alguma relação de longo prazo entre a parcela salarial e o nível de emprego.

Ao mesmo tempo, existem padrões de interações de curto prazo entre a parcela salarial e o nível de emprego associados à dinâmica apresentada por Goodwin (1967; 1972). Isso corresponde, em períodos de expansão da acumulação, a pressões sobre os salários oriundas

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Essa forma de progresso técnico é descrita, geralmente, como progresso técnico Marx-viesado e caracteriza-se por aumento da produtividade do trabalho e queda da produtividade do capital (Foley; Michl, 1999).

da maior demanda por trabalho. A elevação dos salários reduz os lucros e diminui a acumulação e, por extensão, o nível de emprego. Os salários caem, e os lucros recuperam-se, reiniciando o ciclo. É a essa dinâmica que Mohun e Veneziani (2011) dirigem sua atenção.

Com base nessa justificativa teórica, os autores efetuam seu estudo. A tendência é removida com o uso do filtro HP. Para os dados anuais, é utilizado o parâmetro λ=1000, e, para os dados trimestrais, assume-se o parâmetro λ=256000. A escolha dos valores para o parâmetro λ não segue um critério específico, segundo os autores. Os dados obtidos são plotados em um plano uv, e é procedida uma análise qualitativa.

Os autores identificam comportamento cíclico consistente, qualitativamente, com o modelo de Goodwin. Os resultados qualitativos são próximos dos resultados quantitativos obtidos por Goldstein (1999), entretanto os ciclos apresentam diferentes períodos, amplitudes e posições36. Mohun e Veneziani (2011) afirmam que tal comportamento se associa à presença de instabilidade estrutural no modelo de Goodwin.

Desse modo, os autores corroboram a opinião de Solow (1990), ao considerar que o modelo de Goodwin identifica-se com ciclos de curto prazo. Mohun e Veneziani (2011) afirmam que os resultados empíricos associados a ciclos de longo prazo devem ser analisados com cautela. Isso é justificado pela compreensão de que o comportamento do emprego e da parcela salarial, no longo prazo, é produto de mudança estrutural. O modelo de Goodwin isola as principais forças, no conflito distributivo, em um mecanismo simbiótico frágil, e isso é capturado pela instabilidade estrutural do modelo. “Os ciclos de Goodwin são ciclos de curto prazo, que aparecem ao redor de uma tendência de longo prazo” (Mohun; Veneziani 2011, p. 2, tradução nossa). Nessa perspectiva “[...] o comportamento de longo prazo da parcela salarial e da taxa de emprego são, principalmente, produtos da mudança estrutural” (Mohun; Veneziani 2011, p. 2, tradução nossa).