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O presente estudo, transversal e populacional, envolveu o total de 49.055 nascidos vivos no Espírito Santo, sendo 9.780 (20%) filhos de adolescentes na faixa etária de 10-19 anos. Destes, 9.398 (19,2%) eram de mães de 15-19 anos e 382 (0,8%) de mães de 10-14 anos. Essas proporções são semelhantes às observadas em todo o Brasil em 2007 (IBGE, 2007a).

No Brasil, em 2007, considerando-se os nascidos vivos e registrados de mães adolescentes de 10-14 anos, observa-se que não há distribuição homogênea nos diferentes estados brasileiros, sendo a média de 0,8%. As mais altas proporções foram encontradas nos estados do Acre, com 1,4%, e Tocantins, com 1,3%. Seguem-se o Pará, Amapá e Alagoas com a mesma proporção, de 1,2%. A mais baixa proporção foi no Distrito Federal, com 0,5%. Já para as mães na faixa de 15 a 19 anos, as mais altas proporções foram referidas no Maranhão, com 25,8%; Pará, com 25,5%; e Tocantins, com 24,6%. A mais baixa proporção foi no Distrito Federal, com 14% (IBGE, 2007a).

O SINASC é utilizado pelo Ministério da Saúde em todo o Brasil e, no Espírito Santo, já é usado desde 1992. Vários trabalhos publicados o utilizam e atestam suas qualidades e importância no cenário nacional (COSTA, FRIAS , 2009; ANDRADE et al,. 2008; GUERRA et al., 2008; LAURENTI et al. 2007; VIDAL et al., 2005; GAMA; LEAL; THEME FILHA, 2001; THEME FILHA et al., 2004). Suas conclusões são amplamente utilizadas para a tomada de decisões pelos administradores da saúde pública.

Quanto à incompletude de cada variável (branco/ignorado) verificada na DN, as mais altas frequências foram evidenciadas nas variáveis filho morto prévio (10,4%), Apgar de 1 minuto (7,6%), Apgar de 5 minutos (7,6%) e filho vivo prévio (6,5%). Embora a falta de registro observada nas fichas do SINASC represente perda, isso não foi suficiente para comprometer a análise das medidas de associação e testes de significância. Outros autores, ao utilizarem o SINASC, referiram frequências de variáveis sem registro em proporções mais

altas. A falta de anotações foi constatada em 17% para escolaridade, 25,2% para o pré-natal e 68,2% para o Apgar (COSTA et al., 2001). Em outro estudo, frequências de falta de informações foram de 34,6% para número de filhos nascidos vivos prévios, 57,5% para número de filhos nascidos mortos prévios e 11,7% para anomalias congênitas (THEME FILHA et al., 2004).

Na literatura investigada, em vários artigos a estratificação da faixa etária da adolescência não segue a recomendação da OMS, o que pode impedir ou ocasionar dificuldades na comparação dos dados, embora justificadas pelos seus autores. Costa et al. (2001) estratificaram as adolescentes nas faixas etárias de 10-16 e 17-19 anos após verificarem que o perfil da faixa até 16 anos contrastava com a faixa etária acima deste limite. Outros pesquisadores reportam ainda: menores de 18 e 18-19 anos (SIMÕES et al., 2003); 13-17 e 18-19 anos (RIBEIRO et al., 2000); 14-17 anos (JACCARD et al., 2003); e 10-15 e 16-19 anos (ROCHA et al., 2006).

A OMS, ao estratificar as faixas etárias da adolescência, caracterizou as diferenças entre a fase precoce - dos 10 aos 14 anos - e a fase tardia, que vai dos 15 aos 19 anos. Cada fase tem seus aspectos próprios que devem ser levados em consideração. Gravidez na adolescência significa a gravidez em uma mulher entre 10 e 19 anos de idade, porém, esse estado poderá apresentar consideráveis diferenças quando se trata de adolescente de 12 ou 13 anos ou de 18 e 19 anos de idade (OMS, 2004).

Em contrapartida, ao estratificar as faixas etárias da adulta, decidiu-se por excluir aquelas ≥ 35 anos (n = 4.544), considerando-se que na literatura há estudos que enfatizam piores resultados na gravidez nessa faixa etária, quando comparadas com as adultas (SAWICKA; GROCHULSKA, 2004). Outra pesquisa relata pior resultado na faixa de ≥ 35 no caso de primíparas (McINTYRE et al., 2009). Já outros autores descrevem que não há evidência suficiente para determinar se a idade materna é fator de risco independente e direto para o nascimento prematuro (NEWBURN-COOK; ONYSKIW, 2005).

É importante ressaltar que são escassas as publicações abordando a gravidez na adolescência no Espírito Santo. Apenas três estudos foram encontrados: um sobre o padrão de comportamento relacionando as práticas sexuais e uso de drogas em adolescentes do sexo feminino em Vitória-ES. (MIRANDA et al., 2005) e outro sobre prematuridade e baixo peso entre os

recém-nascidos de adolescentes primíparas (ROCHA et al., 2006). E, também, uma dissertação de mestrado avaliou a gestação, o parto da adolescente e da mulher adulta e suas repercussões sobre o recém-nascido no HUCAM (ZAGANELLI, 2006).

A taxa de gravidez na adolescência, no Brasil, dificilmente será conhecida com exatidão, pois as perdas fetais não são registradas oficialmente. É, ainda, importante destacar que, como o aborto provocado é definido como crime na legislação brasileira, não existem publicações oficiais a respeito. Esse fato é constatado pela OMS, pois nos países onde o aborto não é legalizado, essas informações não são conhecidas (OMS, 2004). Outros obstáculos ao conhecimento da taxa de gravidez na adolescência no Brasil, em determinado ano, são a ocorrência de registros extemporâneos e os sub- registros. Em 2007, verificou-se 1,5% de registros extemporâneos de filhos de adolescentes de 10-14 anos, quase o dobro dos registros de nascimentos no ano, que foram de 0,8% (IBGE, 2007b).

A idade materna verificada na presente pesquisa variou de 11 a 52 anos. Entre todas as mães (adultas e adolescentes), as de mais altas proporções foram: as de gestação única (98,2%); com assistência hospitalar (96,2%); as solteiras (56,3%); as de parto cesáreo (52,3%); as analfabetas (0,7%); as que realizaram menos de sete consultas no pré-natal (36,1%); as que apresentaram gravidez dupla, tripla ou mais (1,8%); com filho vivo prévio (53,9%) e filho morto prévio (8,5%); e as que foram assistidas no HUCAM (2%). Foram constatados, entre os recém-nascidos: distribuição igualitária entre os dois sexos, com ligeiro predomínio do sexo masculino (51,5%); sem significância estatística nas faixas etárias maternas comparadas; prematuros (5,9%); com anomalia fetal (0,5%); Apgar de 1 minuto inferior a sete (4,7%); e Apgar de 5 minutos abaixo de sete (1,1%). No que se refere ao peso ao nascer, os com baixo peso (7,6%).

Assinala-se que, embora na análise estatística tenham sido incluídas todas as mães com 10-14 anos do Espírito Santo, não foi possível avaliar essa categoria separada. A impossibilidade deveu-se ao baixo número de pacientes, 382, o que inviabilizou a formação de múltiplos estratos, e à quantidade de variáveis pesquisadas, 16. Assim, um estudo multicêntrico seria interessante.

A contribuição deste trabalho está no pioneirismo do aprofundamento do estudo dos nascidos vivos de mães adolescentes no estado do Espírito Santo e

objetiva a melhoria de programas e ações a eles direcionados. As variáveis respostas estudadas são aquelas responsáveis por importante morbimortalidade neonatal e infantil. Procurou-se seguir as recomendações da OMS quanto à estratificação das faixas etárias da adolescente (10-14 e 15-19 anos) e utilizou-se um grupo de mães adultas (20-34 anos) para comparação. A amostra foi representada por toda a população de nascidos vivos de mães adolescentes do Espírito Santo em 2007 e foram realizadas análises descritiva, univariada e multivariada. Essas metodologias permitem que sejam diminuídos os fatores de confusão e, ainda, que este estudo possa ser utilizado para comparação com outras pesquisas.

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