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Como apresentado na introdução deste trabalho, a pergunta que movimentou nosso olhar ao longo dos três capítulos foi: Em que medida a atual situação do/a trabalhador/a brasileiro/a exemplifica a especificidade da superexploração da força de trabalho no capitalismo dependente latino-americano, e como isso expõe a condição subordinada do Brasil na divisão internacional do trabalho?

À luz da demarcação da Teoria Marxista da Dependência indissociável da teoria valor- trabalho de Marx e das teorias do imperialismo de Lenin, entendemos que para os dois movimentos da pergunta, a resposta é afirmativa. Sim, a superexploração é uma categoria que narra a particularidade da América Latina na totalidade da divisão internacional do trabalho, de forma subordinada, subsumida, subjugada, a partir do contínuo caráter — em suas diferentes formas — de transferência de valor e de intensificação dos mecanismos internos que contrarrestam esse mecanismo. Sim, o Brasil, apesar de sua condição subimperialista latino-americana, apresenta-se como parceiro menor no processo de apropriação da mais-valia no âmbito internacional. Nesse sentido, a particularidade conectada à totalidade expõe o caráter substantivo do capitalismo dependente sui generis. Estamos em comum acordo com os argumentos de Amaral e Traspadini (2020), quando retratam a diferença entre a superexploração como superlativo (economias centrais) e como substantivo (economias dependentes).

No capitalismo monopolista [...] com a acumulação em escala ampliada exigindo que a atuação do capital se dê em escala global, o processo de centralização e concentração do capital revela a quem e para onde é endereçada a massa substantiva da riqueza produzida no mundo. O capitalismo dependente, parte indissociável do capitalismo monopolista, é inexpressivo nessa lista de apropriação da riqueza. Mas é o real produtor, preterido na apropriação da mesma. De modo que a exploração da força de trabalho aqui cumpre uma função, sobretudo, internacional e, como tal, deve atender a uma fila de interesses internos e externos que conduzem a formas de trabalho fortemente precarizadas, brutalizadas e alienantes. Assim, entre a (SUPER)exploração de Marx (forma superlativa) e a superexploração de Marini (conteúdo substantivo), passando pela leitura atenta de Lênin sobre a análise da realidade concreta, o que pretendemos demarcar é o caráter relacional, processual e dialético presentes entre a parte e o todo (TRASPADINI; AMARAL, 2020, s/p).

O que mostramos nos capítulos anteriores foi a centralidade do entendimento de processualidade histórica, dimensão dialética e unidade do diverso presentes em Marx e atuais em nosso tempo. Nesse sentido, este trabalho de conclusão de curso apresentou um primeiro processo de voo individual ancorado em diversas frentes e coletivos, de produção conjunta.

No voo aprendemos, em meio às dificuldades, dúvidas e também certezas que vão se firmando, a fazer escolhas e dar o sentido rumo à investigação que está presente no nosso cotidiano de vida e não fora dela. Como voo, esse TCC apenas abre mais perguntas, iniciadas ao longo do

caminhar acadêmico dos últimos cinco anos dedicados ao curso de Ciência Política e Sociologia – Sociedade, Estado e Política na América Latina. Das indagações que fundamentaram os primeiros passos deste estudo, encontram-se duas que julgamos fundamentais para os rumos que a formação tomou e que sedimentou a busca teórica ora apresentada. São elas: 1) Como podemos definir a condição da juventude no século XXI desde um esforço de superação da dicotomia campo/cidade, tal qual está dada no imaginário popular, frente ao adensamento da hegemonia da perspectiva neoliberal?; e 2) No capitalismo dependente, como se pode captar os movimentos de geração de sentidos e as significações do uso do tempo entre as juventudes trabalhadoras que estão constituídas por um subconsumo, frente à dinâmica do consumo financeirizado?

Esse TCC expõe o movimento no interior das perguntas. Um fio condutor de um novelo que, à medida que é revelado à luz do MHD, acusa a necessidade de ir mais a fundo na investigação, ampliando os níveis de abstração necessários para revelar o que está por trás do concreto vivido, não necessariamente refletido.No entrelaçamento entre os três capítulos, buscamos apresentar, ainda que de forma bastante introdutória, a rica contribuição que oferece o método escolhido para o estudo e compreensão das contradições do nosso tempo histórico. A diversidade de elementos que podem ser articulados — enquanto mediações — oferecem um complemento estratégico na produção científica engajada contemporânea. O MHD abre oportunidades de metodologias diversas para o estudo e a práxis científica, em diferentes campos de atuação e em diferentes áreas do conhecimento. Sem negá- las, permite que atravessemos as fronteiras epistêmicas sem distorcer nossos princípios políticos. Compreender a História como processo e utilizá-la como método é pretender instituir uma lógica sociocultural capaz de superar a lógica economicista, a lógica pós-moderna e outras abordagens que tendem a ignorar a história como produção econômica e cultural da existência humana (CIAVATTA, 2016, p. 211). A questão teórico-metodológica das mediações se coloca, então, como necessidade de expandir o circuito investigativo, através da capacidade organizada de pensar a realidade em seu momento histórico, mas como fazer isso? Como pensar de forma organizada as contradições de nosso tempo e as múltiplas inquietações que pululam no cotidiano?

O que pudemos constatar, ao longo da produção deste TCC, é que a reconstrução histórica do conhecimento, como disse Maria Ciavatta (2016), tem a ver necessariamente com o alargamento das fronteiras da ciência e das novas formas do ser humano se relacionar com o mundo. Isso não é pequeno. Reconhecer a complexidade do conhecimento dito “verdadeiro” (dogma) é não perder de vista que a humanidade é portadora de múltiplos saberes ao longo de sua histórica milenar, e que boa parte deles ainda estão desconhecidos. A lógica da reconstrução histórica do objeto científico integra, então, a dialética da totalidade como um princípio epistemológico, um método específico de produção de conhecimento (KOHAN, 2003; CIAVATTA, 2016).

A nosso ver, essa forma de fazer ciência é a única que permite responder à inevitável aceleração do tempo e à necessidade de movimentar-se no fluxo permanente de produção de novas sínteses que contribuam diretamente para a práxis emancipatória. Em tempos de excesso de informação, desinformação e fake news, movimentar-se corretamente dentro dos critérios científicos ora existentes exige que, em primeiro lugar, o/a pesquisador/a reeduque-se pelo pensamento e pelo trabalho coletivo e se coloque de mente e corpo a favor do que se propõe a defender na teoria. A ciência, imersa no movimento do aprender a aprender, apesar das dores, promove um verdadeiro encontro com a educação como prática de liberdade, processo freireano com o qual comungamos. Por fim, “Filosofia da práxis e superexploração da força de trabalho: apontamentos sobre o retrato (aparência-essência) do mundo do trabalho no Brasil (1999-2019)” foi uma primeira tentativa de refletir, com os pés no chão e a cabeça erguida para o horizonte, a realidade tal qual ela é e a realidade tal qual ela pode ser. Na elaboração das ideias para adiar o fim do mundo, a juventude se coloca como vetor fundamental para a construção de um novo devir, de um novo mundo possível. Que possamos, enquanto corpo social, trazer de volta à educação o que ela é em essência: processo de desvelamento do mundo através da construção crítica que nasce da curiosidade.

“Não existe tal coisa como um processo de educação neutra Educação ou funciona como um instrumento que é usado para facilitar a integração das gerações na lógica do atual sistema e trazer conformidade com ele, ou ela se torna a “prática da liberdade”, o meio pelo qual homens e mulheres lidam de forma crítica com a realidade e descobrem como participar na transformação do seu mundo”