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Considerações sobre a espécie Ocotea duckei Vattimo

Ocotea duckei Vattimo é uma espécie popularmente conhecida como

“louro-de-cheiro”, “louro-pimenta” e “louro-canela”, encontrada nos estados da Paraíba, Pernambuco, Ceará, Sergipe e Bahia e em áreas remanescentes da Floresta Atlântica (BARRETO, 1990).

Compreende uma árvore de grande porte, com cerca de 10 m de altura, de copa arredondada, caule e ramos cilíndricos, verdes quando jovens tornando-se marrons na planta adulta. As folhas são simples, alternas, com lâmina foliar de contorno elíptico a oval, com ápice agudo acuminado, base aguda, simétrica, margem inteira, superfície adaxial lisa, verde escuro e brilhante, superfície abaxial verde pálido e opaca. Seu pecíolo é marginal, glabro. Suas inflorescências são em panícula axilares laterais ou apicais. Flores monóclinas com tépalas lanceoladas, de cor creme, pubérulas. Androceu com estames em filamentos, mais estreitos que as anteras, que são glabras, anteras férteis com quatro válvulas de liberação para grãos de pólen, no exterior 6 estames, tem uma glândula rodada (estaminoide), na base de cada filamento, que são unidas á base das tépalas; no interior outros três estames cercam o pistilo. O pistilo é glabro, verde-claro; ovário globoso, estilete quase lateral e estigma discóide. O fruto é oblongo e a cúpula evidente (BARRETO, 1990; COUTINHO et al., 2006).

Figura 5 - Imagens do caule, folhas e inflorescências da Ocotea duckei Vattimo

Os primeiros trabalhos com Ocotea duckei Vattimo surgiram no Laboratório de Tecnologia Farmacêutica (LTF), no início da década de 90. Não há registros na literatura do uso popular desta planta (ALMEIDA et al., 1995), no entanto o grupo de pesquisa coordenado pelo Prof. José Maria Barbosa Filho e o estudo com esta espécie, do ponto de vista fitoquímico e farmacológico relatam resultados promissores.

Estudos químicos realizados com a referida espécie relataram a presença de três alcaloides benzilisoquinolínicos: reticulina (MORAIS et al., 1998b), coclaurina (SILVA et al., 2002) e N-acetilnorjuzifina (DIAS et al., 2003). Também foi isolado um alcaloide aporfínico, a laureliptina (DIAS et al., 2003). Em relação às atividades farmacológicas, estudos realizados com a reticulina demonstraram que a substância produziu alteração de comportamento nos animais testados, além de aumentar o tempo de sono induzido pelo pentobarbital; reduziu a coordenação motora e a hipermotilidade induzida por D-anfetamina, indicando com estes resultados que a reticulina tem atividade depressora do sistema nervoso central (MORAIS et al.,1998b). Dias et al., (2004), através de ensaios in vitro e in vivo demonstraram que a reticulina apresenta atividade hipotensora, provavelmente por diminuição da resistência vascular periférica.

Para essa espécie são relatadas várias lignanas como: iangambina, epiiangambina, sesartemina, episesartemina, siringaresinol, 4’- O- demetilepimagnolin A e (+) - 4’’- O- demetilepimagnolin A (MORAIS et al., 1996; MORAIS et al., 1998a).

A Iangambina, uma lignana furofurânica, representa o maior constituinte da fração total de lignóides isolado dessa espécie (MORAIS et al., 1999). Estudos farmacológicos atribuíram várias atividades para a iangambina. Almeida et al., (1995) e Pachú et al., (1993) relataram aumento do tempo de sono induzido por pentobarbital, sugerindo sua atividade como depressor do sistema nervoso central, anticonvulsivante e sedativo-hipnótico; possível atividade analgésica (ALMEIDA et al., 1995); um eficaz agente farmacológico contra colapso cardiovascular e mortalidade causada por choque induzido por endotoxina (ARAÚJO et al., 2001); atividade antitumoral em células coloretais

induzindo apoptose (HAUSSOT et al., 2003). efeito antialérgico (SERRA et al., 1997); atividade ansiolítica (LIMA et al, 2010).

Evidências indicam que a liberação endógena do PAF, por células ativadas em situações patológicas tais como choque anafilático e séptico, está provavelmente envolvida no colapso cardiovascular e morte súbita frequentemente observados nestas doenças (LEVI et al.,1984; TERASHITA et al., 1992). Castro Faria-Neto e colaboradores (1995a e 1995b) evidenciaram que a iangambina inibe a agregação plaquetária induzida pelo PAF em modelos experimentais in vitro e in vivo, respectivamente. Estudos farmacológicos feitos por Herbert e colaboradores (1997) observaram que existem dois subtipos diferentes de receptores de PAF em plaquetas e leucócitos, estudos esses realizados com a iangambina. O trabalho mostra que a iangambina é um antagonista seletivo para o receptor de PAF em plaquetas, e esta lignana falhou em inibir o PAF em leucócitos humanos.

O conceito de que o PAF parece contribuir na fase precoce do dano tecidual em algumas reações alérgicas (DOEBBER et al., 1986) levou Serra et al., (1997) a examinarem o potencial da iangambina como uma droga anti- anafilática. Esses estudos forneceram evidências que a iangambina exibe propriedade antagonista sobre os receptores do PAF e também sobre outros receptores, podendo ser uma importante ferramenta na conduta de algumas doenças alérgicas (SERRA et al., 1997).

Trabalhos recentes realizados in vitro por Monte-Neto e colaboradores (2007) com parasitas das espécies de Leishmania chagasi e L. amazonensis mostraram que a iangambina apresenta uma significativa atividade antipromastigota e antiamastigota em macrófagos murinos infectados com L.

chagasi. Penha, (2010), demonstrou que a iangambina apresentou um efeito

antileishmania in vivo, em camundongos suiços infectados com L.

amazonensis, traduzido pela diminuição da carga parasitária nos animais

tratados via oral com esta lignana.

Em relação ao aspecto toxicológico, estudos preliminares verificaram que a iangambina administrada em camundongos pela via oral e intraperitonial em doses de até 1 g/Kg não apresentou efeitos tóxicos (BARBOSA-FILHO,

1997). Estudos de citotoxicidade realizados in vitro (macrófagos) demonstraram baixa citotoxicidade para este composto nos modelos estudados (MONTE- NETO et al., 2007). Estudo com a finalidade de avaliar seu potencial mutagênico foi feito através do teste de Ames. Resultados negativos foram obtidos com o tratamento das linhagens TA97a, TA100 e TA102 de Salmonella

typhimurium, indicando que a iangambina não foi mutagênica para as linhagens

testadas mesmo na presença de ativação metabólica (MARQUES et al., 2003). A análise dos óleos essenciais extraídos de diversas partes de O. duckei mostraram que são formados por misturas complexas de monoterpenos e sesquiterpenos. O teor das folhas tem como componente majoritário, o trans-

cariofileno. Os sesquiterpenos, α-humuleno e δ-selineno, também

representaram um teor significativo. O fruto apresenta d-limoneno em concentrações elevadas. No caule, há predominância de β-eudesmol, enquanto na raiz o principal constituinte foi o elemol (LACERDA, 2004).

Reticulina Acetilnorjuzifina

(MORAIS et. al., 1998b) (DIAS et al., 2003)

Iangambina β-Eudesmol (MORAIS et al., 1996) (LACERDA, 2004)

Siringaresinol Epiiangambina (MORAIS et al., 1996) (MORAIS et al., 1999

Quadro 2 – Estrutura química de algumas substâncias isoladas de Ocotea

Continuação do Quadro 2 - Estrutura química de algumas substâncias isoladas de Ocotea duckei.

(+)- 4’’-O-dimetilepimagnolin A 4’-O- Dimetilepiiangambina (MORAIS et al.,1998a) (MORAIS et al., 1996)

Bisaboleno α- Cadineno (LACERDA, 2004) (LACERDA, 2004) Episesartemina Sesartemina (MORAIS et al., 1999) (MORAIS et al., 1996)

4 METODOLOGIA

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