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CAPÍTULO 7 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1 Considerações sobre a Pesquisa

O diagnóstico ergonômico, obtido através dos procedimentos metodológicos com base na AET, permitiu confirmar a demanda provocada quanto aos problemas encontrados em etapas do fluxo das demandas gerenciais do SEBRAE RN, os caminhos que a demanda percorre até a realização da intervenção de design no formato de oficinas. Tais problemas interferem no planejamento das consultorias de design para o artesanato sob o ponto de vista dos atores envolvidos no processo.

Os dados da análise quantitativa junto aos consultores e artesãos demonstraram que alguns problemas são citados por ambos como: ausência de diagnóstico adequado, planejamento inadequado das ações, dependência pela instituição de fomento no tocante a criação de novos produtos refletindo na cultura da cópia. Assim o método utilizado não possibilitou condições e autonomia aos artesãos.

A questão da dependência pela instituição/consultor no tocante a criação de novos produtos demonstra que o método utilizado não possibilitou condições e autonomia aos artesãos. Isso pode ter ocorrido devido à carga horária insuficiente não sendo o consultor capaz de superar as barreiras que o grupo naturalmente apresenta na etapa de criação. Conforme apresentado no capítulo 4, a carga horária utilizada em ações de design não

ultrapassa 80h por grupo artesanal, além de serem ações pontuais e de certa forma isoladas das demais ações dos projetos de artesanato, diferentemente do que foi encontrada no SEBRAE MG, utilizado como situação de referência nesta pesquisa, onde, a carga horária com ações de design, por grupo totalizam 290h e integradas com ações de gestão, mercado e comportamental.

No aspecto metodológico quando da realização das atividades dentro do processo artesanal, percebe-se um descompasso no encadeamento lógico nas ações, como por exemplo: atuar de forma sistêmica e gradual para resolver problemas desde sua fase inicial visando obter maior controle dos resultados e quais impactos gerados no público alvo. Assim sendo, instiga-nos a rever planejamentos e propor novas ações substituindo por outras, antes inadequadamente previstas e também realizadas.

Outro problema como a questão da falta de conhecimento sobre o real papel do designer pelo técnico da instituição e pelos artesãos, além da formação “limitada” do designer quanto a artesanato, apontam para a existência de uma carência no que se refere a um plano de capacitação tanto para técnicos, quanto para consultores.

Relatos diversos, dos técnicos e consultores por meio de verbalizações, bem como dos artesãos durante a sessão de análise coletiva, afirmam que o fundamental para um consultor de design em artesanato é a empatia, ou seja, olhar com o olhar do outro, considerar a possibilidade de uma perspectiva diferente da do próprio consultor, se colocar na situação do artesão. É necessário propor uma troca de conhecimentos e nunca se mostrar superior, alguém distante da realidade ou da “alma” de cada participante, já que os melhores resultados são obtidos, tendo principalmente a contribuição dos artesões. Quando os artesões se sentem “acolhidos e aceitos” pelo profissional de design eles permitem que o mesmo demonstre seus conhecimentos e aptidões. Já com uma atitude que demonstre arbitrariedade, impondo ordens sem reciprocidade, o trabalho não terá continuidade.

Quanto aos artesãos, à medida que foram se conscientizando para a necessidade de inovação e melhoria dos seus produtos, foram se profissionalizando e a partir daí, novos problemas surgiram, como, por exemplo, a necessidade de padronizar parte da produção, que passaria a ser produzida “em série”. Esta alteração, na forma de organização do trabalho, com a introdução da padronização de uma parte do produto e processo se deve, na maioria das vezes, a tentativa de atender a uma parcela do mercado, formada por alguns turistas que procuram produtos baratos, forçando naturalmente uma maior qualificação laboral para estes novos processos ou jeito novo de se fazer o produto. Tal fato reflete na resistência a

determinadas etapas da produção de alguns produtos inovados, cuja alegação para justificar tais atitudes está na demora do preparo e acabamento, agravando-se quando a confecção de certos produtos exige a participação coletiva da força de trabalho.

Apesar disso, os resultados obtidos com esta pesquisa, permitem afirmar que, para que o processo de inovação via intervenção de design seja satisfatório para todos os envolvidos, é necessário que os laços de interação entre eles estejam firmes e consolidados, e, que ainda, as ações cooperativas no processo de inovação garantam resultados sustentáveis e eficazes para os grupos artesanais.

A inovação nos produtos artesanais, longe de significar a extinção dos grupos artesanais, pretende trazer um novo significado como oportunidade de sobrevivência, crescimento e transformação, ou seja, uma alternativa para a sustentabilidade das comunidades artesanais. No entanto, é necessário que as intervenções utilizem metodologias situadas e levem em consideração os conceitos e métodos antropotecnológicos, ou seja, adequada às tipologias artesanais e às particularidades de cada comunidade e, que possibilitem regulações frente às variabilidades e contrantes. Considerar os fatores geográficos, culturais, econômicos e financeiros, humanos e ambientais, preconizados por Wisner (1987;1994;1999;2003;2004) como determinantes para o sucesso das intervenções.

A análise ergonômica, por preconizar e efetivar a construção social e técnica mostra-se adequada para a modelagem das intervenções no setor artesanal, à medida que permitem tratar da construção de um dispositivo social participativo e, para o desenvolvimento de soluções antropotecnológicas adequadas e sustentáveis.

A demanda de inovações nos produtos do setor artesanal aponta para uma nova demanda profissional para os designers, cuja formação básica é voltada, prioritariamente, para o setor industrial. Sendo assim, se faz necessário que os cursos de desenho industrial procurem acrescentar em seus currículos, disciplinas voltadas para a inovação do artesanato, considerando este setor como representativo de nossa cultura e economia.

Com relação às questões de ética tanto das instituições quanto dos consultores é importante destacar que a partir do estabelecimento das relações de confiança entre as partes, o consultor como representante da instituição de fomento passa a exercer certa influência junto aos artesãos modificando de certa forma a realidade encontrada, por vezes o que o consultor aconselha é tido como verdade, nesse caso é necessário cautela em suas recomendações de mudanças principalmente em se tratando de comunidades artesanais sob pena de descaracterizar toda uma tradição, corroborando com Guimarães (2005) quando

afirma que uma ação ética ou não-ética de um consultor e/ou das instituições afeta não apenas suas relações individuais, mais o desenvolvimento da cultura e das interações sociais.

Na prática, a pesquisa se propõe a contribuir com informações e dados capaz de dar suporte às instituições que apóiam o setor, além disso, a expectativa é de que os resultados aqui obtidos propiciem melhorias na forma de atuação dos Técnicos e Consultores da instituição pesquisada, redução nas regulações no decorrer das consultorias e no custo financeiro da própria instituição, valendo-se da relação custo x benefício, satisfação dos clientes externos (artesãos e consumidor final) e internos (gestores de projetos e demais envolvidos).

No âmbito pessoal, a pesquisa contribuiu para o meu crescimento profissional, momentos em que entendi e assumi erros ocasionados, na maioria das vezes, pela necessidade do cumprimento de metas.

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