• Nenhum resultado encontrado

Considerações Sobre Acidente de Qualquer Natureza e

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 119-123)

agravamento da moléstia. Em algumas circunstâncias a doença degenerativa pode se constituir num fator predisponente, como é o caso da osteoartrose da coluna vertebral devida ao envelhecimento. Por tais razões, as recomendações de cargas máximas a serem levantadas ou transportadas levam em consideração a faixa etária.

As doenças degenerativas e as inerentes a grupo etário são doenças não laborais; se por conta destas doenças de origem não ocupacional o segurado tiver reduzida sua capacidade para a atividade que habitualmente exercia não terá proteção previdenciário por meio do auxílio-acidente.

Necessário, então, verificar-se se a redução da capacidade laborativa se deu apenas por estas causas ou se houve concausalidade com algum acidente do trabalho ou doença ocupacional.

Aceitando o raciocínio acima quando tratamos da concausalidade, o segurado que seja portador de doença degenerativa ou inerente a grupo etário e que juntamente com uma causa de acidente do trabalho ou doença ocupacional tenha como consequência a redução da capacidade laborativa que habitualmente exercia terá proteção por meio do auxílio-acidente.

4.6. Considerações Sobre Acidente de Qualquer Natureza e Acidente do Trabalho

Premissa básica, é que, ocorrendo acidente de qualquer natureza, que é o gênero no qual acidente do trabalho é espécie, haverá a cobertura

previdenciária através do auxílio-acidente, desde que estejam presentes os demais requisitos para sua concessão.

No âmbito do Direito Previdenciário, a causa do acidente, seja ela de qualquer natureza ou acidentária não influenciará na proteção previdenciária, vez que na legislação atual ambos geram direito ao benefício auxílio-acidente, estando a questão acidentária incorporada à previdenciária.

Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari158, sustentam que

Desde a inserção das normas relativas ao acidente de trabalho na CLPS/84, e mais atualmente, com a isonomia de tratamento dos beneficiários por incapacidade não decorrente de acidente em serviço ou doença ocupacional, entende-se incorporada à Previdência a questão acidentária.

Aduz Wagner Balera159 que a redação primitiva da Constituição de 1988 apontava que doença, invalidez e morte podem ter por causa um acidente de trabalho. Este infortúnio, na sistemática da legislação infraconstitucional em vigor, gera direito a benefícios cujos valores são maiores que os devidos em razão de outras causas. Nada obsta, e nem impõe, que a nova legislação unifique o valor das prestações comuns e acidentárias.

Na legislação pretérita, apenas o acidente do trabalho era coberto pelo benefício auxílio-acidente. A alteração veio com o advento da Lei nº 9.032, de 29 de abril de 1995, que acrescentou na redação do caput do artigo 86 da lei nº

158 CASTRO, Carlos A. Pereira de,LAZZARI, João B. Manual de Direito Previdenciário. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2001, p. 61.

159 BALERA, Wagner. A Seguridade social na Constituição de 1988. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, p. 98.

8.213/91 a abrangência de acidente de qualquer natureza para percepção do benefício auxílio-acidente.

No entendimento de Anníbal Fernandes160 o evento acidentário foi mesclado às demais contingências, conforme explana

O histórico, tão bem preparado, saliente-se, pela ANFIP, das alterações legislativas relativas ao benefício de caráter indenizatório, auxílio-acidente, demonstra a morte morna do acidente do trabalho no sistema público de seguridade social. Por um lado, com a equiparação dos valores dos benefícios que substituem o salário por ocasião de incapacidades laborativas, sem importar a sua razão; e por outro, transformando o benefício próprio dos acidentados do trabalho em indenizatório de “lesões decorrentes de acidentes de qualquer natureza”, no valor de “cinqüenta por cento do salário de benefício” e devido “até a véspera do início de qualquer aposentadoria.

A matéria foi apreciada na Espanha por Almansa Pastor 161 que explana

Houve momento, especialmente nas origens do ordenamento, em que apreciar a existência ou inexistência de acidente do trabalho, equivalia declarar a proteção ou desproteção de suas consequências. A fixação dos limites conceituais de acidente do trabalho, então se debatia entre a salvação ou condenação à miséria de uma massa de trabalhadores. Esta é a importância de sua conceituação e a generosidade na ampliação interpretativa. Hoje, ao contrário, as definições não se situam em extremos opostos, já que todo acidente é protegido em princípio. A apreciação da existência de acidente de trabalho ou não, equivale a dizer, não em sua proteção ou desproteção, mas se suas consequências serão protegidas em condições mais ou menos favoráveis.162 [Tradução livre]

160 Op.cit., p. 193 e 208. 161 Op. cit, p. 235.

162 Texto original: “momento hubo, especialmente en los origenes de su ordenación en que apreciar la existencia ou inexistencia de accidente de trabajo, equivalia a declarar la protección o desprotección de sus consecuencias. La fijación de los limites conceptuales del accidente de trabalho, entonces, se debatia entre la salvación o condena a la miséria de una masa de trabajadores. De aqui la importância de su conceptuación y la generosidad em la ampliación interpretativa. Hoy, en cambio, los términos no se situan en extremos opuestos, ya que todo accidente es protegible en principio. La apreciación de si existe accidente de trabajo o no, equivale a decidir, no ya su proteccion o desproteccion, sino si sus consecuencias son protegidas em condiciones mas o menos favorables.”

A respeito da diferenciação entre o risco comum e o risco acidentário Daniel Pulino163 comenta

No plano infraconstitucional, desde o advento da Lei n° 9.032, de 28 de abril de 1995, que praticamente eliminou a diferença entre o risco comum e o risco acidentário para fins de proteção previdenciária, tornou-se irrelevante, quanto ao tipo e quantidade da prestação, que a lesão ou doença que ocasiona a invalidez seja ou não acidentaria. Ressalta-se, contudo, que tal lei ingressou invalidamente em nossa ordem jurídica, pois claramente se chocava com a Constituição – muito embora tenha sido aceita pacificamente, de um modo geral, pela comunidade jurídica.

É que a Constituição expressamente exigia, na redação do art. 201, I da Lei Maior anterior à Emenda n. 20/98, a cobertura diferenciada dos eventos morte, invalidez e doença decorrente de acidente do trabalho. Aliás, mesmo a redação atual, imposta pela emenda constitucional acima referida, mantém tal diferenciação, ao prever a cobertura específica do risco acidentário no art. 201, §10 da Constituição.

Portanto, embora no plano da legislação ordinária de previdência social vigente, a invalidez dê ensejo a uma mesma proteção (já que desde a Lei n. 9.032/95 são idênticos os critérios quantitativos da aposentadoria por invalidez comum e acidentária) não é correto afirmar, a rigor, que o direito previdenciário brasileiro é indiferente à origem da invalidez, de forma que temos de concluir que devem ser diferentes as conseqüências, para o beneficiário, quando a invalidez decorrer de acidente do trabalho ou de lesão ou doença comum. Saliente-se que, com a edição da Lei n° 9.032/95, e quiparou-se o acidente de origem não laboral ao acidente do trabalho, contrariando o mandamento constitucional que determina que deve haver cobertura diferenciada quando a doença tenha origem acidentária.

A redução da capacidade para o trabalho que o segurado habitualmente exercia é o objeto da proteção previdenciária pelo benefício em estudo, não importando a sua causa, no entanto, importante salientar que se a redução da capacidade laboral tiver origem em doença não laboral, o segurado não terá acesso ao benefício auxílio-acidente.

163 PULINO, Daniel. A Aposentadoria por Invalidez no Direito Positivo Brasileiro. São Paulo: LTR, 2001, p. 144-145.

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 119-123)

Documentos relacionados