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4 ANÁLISE DOS DISCURSOS

4.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ANÁLISES

Dos dezessete questionários respondidos, apenas sete estão de acordo com os critérios estabelecidos na metodologia para a análise: primeiro os que têm todas as questões respondidas e segundo que as respostas contêm mais de três palavras.

Apesar de termos analisado detalhadamente apenas sete questionários, faremos nessa etapa do trabalho referências aos outros dez (que estão em anexo), no sentido de compararmos o quantitativo de respostas semelhantes e diferentes e para confirmarmos ou negarmos respostas que são comuns aos sete analisados.

Em relação à primeira questão (por que escolheu a profissão), percebemos que quase todas as respostas, e não apenas as sete analisadas, se referem ao gostar da profissão como o motivo para escolhê-la. Apenas um, o professor 5 da escola pública, declara que escolheu ser professor para custear suas despesas. Mesmo aqueles professores que a princípio não escolheram ou o fizeram por falta de opções, com o tempo passaram a gostar. Portanto, todos os professores entrevistados gostam de ser professor, mesmo com as dificuldades apontadas nas outras respostas. O professor define sua escolha pelo gostar, o que nos confirma o encadeamento argumentativo unânime: gosto pela profissão DC escolha.

Quanto à questão da relação do professor com os alunos em geral, constatamos que todos se referem à boa relação e citam sentimentos como alegria, prazer, carinho, respeito, compreensão, mas também tristeza, decepção e impotência. O curioso é que esses três últimos adjetivos têm como motivos fatores externos ao contexto de sala de aula, são: a desvalorização da profissão, a falta de apoio das famílias dos alunos, falta de condições de trabalho, entre outros. Confirmamos o encadeamento compartilhado por todos os professores: sentimentos

positivos pelos alunos DC boa relação.

Em relação à definição de AP, observamos outra unanimidade: todos os professores o descrevem como portador de distúrbios de comportamento. Alguns

citam apenas comportamentos que consideram inadequados para sala de aula, como, por exemplo: ser inquieto, conversar com outros alunos, desrespeitar normas e regras da escola, mas a maioria utiliza a palavra agressividade como característica principal. Alguns falam em violência, problemas mentais. Nesse sentido, é que decidimos agrupar esses comportamentos, para fazermos os encadeamentos, na expressão “distúrbios de comportamento” que engloba tanto problemas menos graves quanto os mais graves, como a violência.

Após a análise das respostas à sexta questão (definição de AP), reafirmamos aqui o fato interessante de que os professores (todos) consideraram como características para definir o AP, apenas problemas comportamentais, ou seja, para eles os AP não são assim por terem dificuldades de aprendizagem, mas de comportamento. Alguns até fazem referências às dificuldades de aprendizagem, no entanto as consideram como consequências do desajuste comportamental. Argumentativamente confirmamos os encadeamentos:

- distúrbios de comportamento DC AP (1); - AP DC tristeza (2);

- AP DC angústia, decepção (3).

O encadeamento (1) caracteriza o AP; os encadeamentos (2) e (3) caracterizam o professor. O encadeamento (1) nos mostra que o professor tem uma visão reducionista e simplista do AP, uma vez que um AP pode ser problemático por conta de sérios problemas psicológicos, emocionais e sociais e de aprendizagem. Pelo que está posto, se o aluno não tiver problemas de comportamento, ele não será um AP. Se ele assiste as aulas quieto, não briga nem perturba o professor, nem os colegas, mesmo que ele apresente sérias dificuldades de aprendizagem como a dislexia, não será considerado um AP.

Se um aluno disléxico, (que é aquele que apresenta problemas sérios de aprendizagem caracterizados por dificuldades de leitura escrita que pode afetar a percepção dos sons da fala, segundo a Associação Brasileira de Dislexia, ABD), por exemplo, mas não criar problemas de mau comportamento em sala de aula, será deixado de lado como mais um aluno considerado lento, e não um AP. Essa postura, tão comum em muitos professores, representa um olhar ultrapassado sobre o que de fato caracteriza um AP. É um pensamento da época em que o bom aluno era o que não “aparecia”, não criava problemas durante as aulas. Dessa forma, podemos, segundo esse olhar, formalizar um encadeamento que faz sentido: neg-distúrbios de

comportamento DC neg-AP.

Comparando as respostas à questão sobre os sentimentos do professor pelo AP, percebemos que eles se referem a sentimentos negativos como tristeza, desespero, impotência, angústia, decepção e raiva. No entanto, finalizam as respostas com enunciados do tipo: “vontade de ajudá-los”; “mas não desisto e continuo tentado fazer a diferença”; “superação e força”; “dar mais carinho a esses alunos”. Construímos alguns encadeamentos para simplificar o entendimento:

- sentimentos negativos PT desejo de ajudar; - sentimentos negativos PT não desistir de ajudar;

Na questão seguinte sobre como os professores lidam com seus próprios sentimentos negativos pelo AP, eles complementam com as mesmas finalizações anteriores: “tentando entender suas atitudes”; “dando prioridade e elogiando”; “com dificuldades, pois nos sentimos sozinhos e despreparados”; “procuro sempre sufocá- lo em meio à minha paixão”. “dar mais atenção, converso e aconselho”. Formalizamos os seguintes encadeamentos:

- priorizar e elogiar o AP DC superar sentimentos negativos; - entender atitudes DC superar sentimentos negativos; - sufocar sentimentos DC superar sentimentos negativos.

Podemos observar que, mesmo diante de sentimentos negativos, os professores (mesmo os que não foram analisados) procuram se superar para beneficiar os AP. Nenhum deles afirma que diante desses sentimentos desistem de tentar ajudar o AP. Resumimos as respostas às duas questões com os seguintes encadeamentos:

- sentimentos negativos PT tentativa de superação; - AP DC afeto e compreensão;

- despreparo para ajudar PT esforço para ajudar.

Na questão 11, sobre a melhor forma de ajudar o AP, mais uma vez quinze professores (dois não respondem) mencionam alguma forma de ajudar um AP. Há uma diversidade de respostas, pois cada um entende de forma diferente essa questão de ajudar alguém com problemas de comportamento. Alguns acreditam que o envolvimento da família é a solução; outros afirmam que elogios, motivação e conversas informais, além de mais atenção a esse tipo de aluno, resolveriam. Nenhum dos quinze se refere a deixar o AP sem ajuda.

para ajudar o AP, há uma extensão das respostas anteriores. As soluções são praticamente as mesmas. Isso demonstra que para os professores não há diferença entre o que teoricamente se pode fazer pelo AP e o que de fato o professor e a escola podem fazer por ele. Apenas três professores recomendam ajuda exterior à escola com outros profissionais especializados. Dois professores não respondem. Formalizamos os seguintes encadeamentos:

- motivar e valorizar DC neg-AP;

- acompanhamento psicológico DC neg-AP; - envolvimento da família na escola DC neg-AP; - resgatar princípios e valores DC neg-AP.

- desenvolvimento de projetos de inclusão DC neg-AP.

Mais uma vez, observamos que a maioria dos professores acredita que a solução para o AP está na melhoria da questão comportamental. Pelo que está posto, se os comportamentos “inadequados” ou “inaceitáveis” em sala de aula forem resolvidos, o AP deixará de ser um problema. Ter um problema (psicológico, mental, ou de aprendizagem sério) parece ser uma questão que não faz parte das preocupações dos professores aqui analisados uma vez que, ao definir um AP, eles não mencionam qualquer problema dessa ordem. Encerramos com os seguintes encadeamentos:

- ser um problema comportamental em sala de aula DC AP; - ter um problema em sala de aula DC neg-AP.

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