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2. SOBRE A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO

2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O BRASIL

No que se refere ao Brasil, ZEIN e DI MARCO (2001) apontam que, somente no século XX, realmente efetivou-se uma preocupação sobre conservação e restauro no país. A partir da Carta de Atenas, em 1931, intensificaram-se os debates sobre o assunto, iniciando-se uma preocupação com a salvaguarda de monumentos históricos tão logo Ouro preto foi declarada Cidade Monumento

Nacional, em 1933. Assim, foi criado, no mesmo ano, o CIAM, Conselho Internacional de Arquitetura Moderna, além do SPHAN, Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1937. As autoras ressaltam que os arquitetos

modernistas brasileiros mostraram-se bastante empenhados na conservação de monumentos, ao contrário do que acontecia em outros países.

Um arquiteto de destaque nesta área é Lúcio Costa, que fez várias restaurações, apresentando intervenções contemporâneas, baseado nas teorias internacionais sobre restauração.

O órgão responsável pela preservação do Patrimônio Cultural no âmbito federal é o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), criado pela lei federal, que se encarrega do cadastro, tombamento e restauração dos bens com grande valor histórico, artístico, documental, arquitetônico, paisagístico e arqueológico. Em Minas Gerais, a proteção do Patrimônio cultural está ligado à

Secretaria do Estado da cultura, através do órgão IEPHA/MG (Instituto

Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais), criado em

setembro de 1971 por lei estadual. No âmbito municipal, é constituído o

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Segundo BRASILEIRO (2001), a preservação é a manutenção do edifício com a sua condição física atual, sem qualquer adição ou subtração do corpo físico; A restauração é o resgate do estado físico em que a edificação esteve em algum estágio anterior; O refurbishment (conservação e consolidação), é a intervenção no edifício garantindo sua performance estrutural; A reconstituição, por sua vez, é o “reassentamento peça a peça do edifício, seja no local ou em outro sítio;” A conversão é a adaptação do edifício para um novo uso; a reconstrução é a “recriação de edifícios desaparecidos em seu sítio original;” A replicação é a execução de uma cópia exata de um edifício existente.

Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, que protege o patrimônio cultural de um município.

Segundo Diretrizes...12, citado por TEOBALDO (2004), as metodologias de intervenção mais comuns no Brasil são a preservação, a reabilitação, a restauração, a reconstrução, a conservação, a reciclagem, a requalificação, a reutilização e a revitalização.13

Segundo RIBEIRO14:

O Brasil ainda engatinha quando se trata de intervenções bem sucedidas em edificações ou conjuntos arquitetônicos em centros antigos. São poucos os exemplos que se aproximam do ideal de valoração e aproveitamento dedemandas de forma eficiente e economicamente viável - e com resultados equilibrados em longo prazo.

Ainda segundo RIBEIRO15:

Vivemos na era da reciclagem, da simplificação de processos, da economia de matéria prima, enfim, reflexo dos nossos dias, da escassez de recursos naturais e de combustível, do alto custo da produção de materiais de construção e do ônus deixado ao consumidor com o descarte de edificações para construção de edifícios. Reciclar é preciso. Restaurar é preciso.

No que se refere à preservação do patrimônio, portanto, pode-se notar que o Brasil está ainda em fase de desenvolvimento. Há um início de preocupação

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INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS – IEPHA/MG.Diretrizes para proteção do patrimônio Cultural de Minas Gerais.Belo Horizonte, M.G: IEPHA/MG, 2001.

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Para informações mais detalhadas sobre os tipos de intervenção no Brasil, consultar o INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS – IEPHA/MG. Diretrizes para proteção do patrimônio Cultural de Minas Gerais.Belo Horizonte, M.G: IEPHA/MG, 2001.

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RIBEIRO, Olympio Augusto. Arquitetura: restauração e reciclagem.Vitruvius, São Paulo,

Abril, 2005. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc128/mc128.asp>.Acessado em 19/06/2006.

com a preservação de conjuntos históricos e com adaptações de edifícios para novos usos, notando-se a presença de alguns arquitetos com projetos significativos de restauração. Mas, de maneira geral, percebe-se uma falta de informação dos profissionais sobre a importância de se preservar. Em 1987 ocorreu o Primeiro Seminário Brasileiro para Preservação e Revitalização de

Centros Históricos, onde foi preparada a Carta de Petrópolis. Em 1995, surge a Carta de Brasília, documento regional do Cone Sul, que tratou a questão da

autenticidade15.Um trecho desse documento diz:

A intervenção contemporânea deve resgatar o caráter do edifício ou do conjunto – destarte rubricando sua autenticidade – sem transformar sua essência e equilíbrio, sem se deixar envolver em arbitrariedades, mas enaltecendo seus valores.

A adoção de novos usos para aqueles edifícios de valor cultural é factível sempre que exista reconhecimento apriorístico do edifício e diagnóstico preciso de quais as intervenções que ele aceita e suporta.Em todos os casos, é fundamental a qualidade da intervenção, e que os novos elementos a serem introduzidos sejam de caráter reversível e se harmonizem com o conjunto. Em Edifícios de valor cultural, as fachadas, a mera cenografia, os fragmentos, as colagens, as moldagens são desaconselhados porque levam à perda da autenticidade intrínseca do bem.

Como já dito anteriormente, sempre houve por parte dos defensores do Patrimônio Histórico duas correntes antagônicas, e, no que se refere ao Brasil, a situação não é diferente. De um lado, uma corrente de cunho mais conservador, que defende a sacralidade do monumento, transformando-a em edificação voltada para a cultura, como museus, casas de cultura, etc. A outra, seguindo os mesmos princípios das convenções internacionais, interessa-se na revitalização do monumento, permitindo intervenções significativas, sem contudo descaracterizar o monumento, de forma a devolvê-lo para a sociedade com uma reutilização que esteja de acordo com o contexto urbano onde o mesmo está inserido. Mesmo com as divergências de opiniões, parece importante, para ambos os lados, que as intervenções sejam executadas com técnicas contemporâneas. Assim como nas cartas internacionais, os órgãos de proteção do patrimônio brasileiros também defendem a utilização de materiais

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Segundo a Carta de Brasília, “o significado da palavra autenticidade, está intimamente ligado à idéia de verdade, autêntico é o que é verdadeiro o que é dado como certo, sobre o qual não há dúvidas. Os edifícios e lugares são objetos materiais, portadores de uma mensagem ou de um argumento cuja validade, num quadro de contexto social e cultural determinado e de sua compreensão e aceitação pela comunidade os converte em um patrimônio. Poderíamos dizer, com base neste princípio, que nos encontramos diante de um bem autêntico quando existe uma correspondência entre o objeto material e seu significado.”

que se diferem dos pré-existentes, separando claramente a construção original da intervenção.

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