• Nenhum resultado encontrado

4 RESULTADOS

4.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE O MÉTODO

Os cenários elaborados mostram futuros desejados e não desejados e as trajetórias para o alcance do futuro desejado, segundo as percepções de comunidades e organizações com atuação no PAE Lago Grande. No entanto, mais importante do que atestar se o futuro desejado será alcançado a partir das trajetórias definidas nas oficinas é analisar como esse processo pôde interferir no presente das comunidades e do assentamento.

Em Aracy e Vila Brasil, após a realização da última etapa das oficinas, os comunitários agendaram reuniões com o objetivo de apresentar e debater com os demais membros comunitários os resultados obtidos, mesmo sem ainda terem em mãos os relatórios finais elaborados pelos pesquisadores. Mais do que apresentar, o objetivo do grupo era o de envolver toda a comunidade na busca de um planejamento integrado de ações, que pudesse aperfeiçoar as trajetórias construídas e discutir os meios de implementá las. Na escala do assentamento, a última oficina foi talvez o fórum que envolveu o maio número de organizações para debater especificamente o PAE Lago. Como desdobramento, novas reuniões foram agendadas, inclusive com a indicação da diminuição da periodicidade de reuniões de um colegiado municipal e a inclusão neste de organizações de importante atuação no PAE Lago Grande. Desse modo, o método adotado permitiu nas duas escalas analisadas a discussão coletiva do futuro e resultou na criação de agendas para a continuidade dos debates. A abordagem multi escala permitiu que representantes de organizações fundamentais ao PAE Lago Grande construíssem trajetórias com base nos desejos e medos de stakeholders de diferentes escalas do assentamento. Também permitiu transparecer problemas convergentes entre escalas, como a necessidade urgente da regularização fundiária, e ao mesmo tempo mostrar que algumas trajetórias podem, contraditoriamente, serem eficazes para uma escala e não serem para outra, como no caso que envolve a concessão do direito real de uso para as áreas do assentamento livres de problemas fundiários.

Como a maioria das abordagens participativas, a metodologia aplicada nesse trabalho teve seu momento de maior importância durante os debates ocorridos nos encontros coletivos, aqui denominados de oficinas, que demandam de uma equipe de pesquisadores para a mediação, anotação e sistematização dos debates. Logo, além dos custos envolvidos com a própria preparação das oficinas são altos os investimentos com o deslocamento e manutenção da equipe. Em alguns casos, isso pode inviabilizar a realização de oficinas em um maior número de comunidades com o objetivo de melhor captar diferenças no interior de uma determinada unidade territorial.

O processo de mediação e de sistematização dos resultados das oficinas remete ao papel da equipe de pesquisadores envolvidos. Durante a mediação dois comportamentos básicos podem emergir. No primeiro, os pesquisadores conduzem a oficina com o mínimo de intervenção crítica no que está sendo discutido, procurando dar apenas fluidez ao debate, mantendo o nos eixos de discussão propostos. No segundo comportamento, a equipe intervém com freqüência, emitindo opiniões e introduzindo temas para serem analisados pelo grupo. Nessa pesquisa, a equipe manteve a preocupação ao longo das oficinas de intervir criticamente o menos possível, ao não ser quando solicitada pelos stakeholders a emitir sua opinião. Mesmo cuidado deve acontecer no momento da compilação das narrativas para que essas não fiquem carregadas da visão subjetiva dos pesquisadores. Para diminuir esse problema, os pesquisadores devem fazer em grupo uma revisão interna das analises dos resultados da oficina e dos textos gerados. Nesse sentido o papel dos cientistas dentro do objetivo normativo/propositivo dos cenários pode ser sumariado na seguinte forma: (a) mediar; (b) organizar resultados; (c) divulgar e discutir resultados; (d) incentivar que ações tenham continuidade.

Fundamental também é conhecer as especificidades dos grupos sociais envolvidos nos procedimentos de elaboração de cenários, bem como a conjuntura política na qual se inserem. Tal fato contribui para um melhor diálogo entre os pesquisadores e stakeholders e, sobretudo, contribui com a percepção das adaptações a serem feitas no método e nos instrumentos utilizados na abordagem participativa.

Durante as oficinas, nem todos se expressam com facilidade e constância; há diferenças no grau de participação entre aqueles que ocupam cargos de liderança e os demais. As lideranças comunitárias são mais acostumadas a participar de eventos nos quais suas opiniões são cobradas, e muitas vezes, moldadas. Por serem mais falantes, se os devidos cuidados não forem tomados, podem conduzir as oficinas comunitárias de maneira que os cenários elaborados sejam mais seus do que coletivos, fato que aumenta a responsabilidade do mediador da oficina provocar todos os participantes em busca de que falsos consensos não saiam como posição assumida pelo grupo.

A seqüência de etapas proposta por esse trabalho para a condução das oficinas viabilizou que fossem rompidas as dificuldades das pessoas falarem objetivamente sobre o futuro. A discussão do futuro em duas etapas – futuro próximo e futuro distante – favoreceu a distinção entre aquilo que estava mais premente de acontecer daquilo que poderia compor o futuro em 2020, favorecendo em muito a discussão das trajetórias.

tomadores de decisão fornece o caminho para cenários qualitativos serem acoplados a modelos de agentes no interior de uma abordagem SAS, pois permite a análise, a partir do próprio entendimento dos stakeholders e atores, da capacidade que cada organização tem em atuar sobre determinado tema debatido, e dos arranjos institucionais e organizacionais que teoricamente deveriam ser celebrados para o alcance de objetivos comuns.

Documentos relacionados