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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2. Elementos condicionantes da conservação em museus

2.2.2. Considerações sobre o planejamento do edifício

Segundo o manual para projeto de sistemas de condicionamento de ar da ASHRAE (1999 Handbook, HVAC applications capítulo 20) para museus, bibliotecas e arquivos, são indicados alguns fatores a serem considerados no desenvolvimento de projetos para espaços de guarda de acervos:

• A relação entre forma do edifício, sua orientação solar, e as possibilidades de controle ambiental passivos.

• A quantidade de aberturas, quando estas são um grande percentual de área de superfície exterior, sua carga de ganho de calor pode ser parte significante do total da carga necessária para um eventual condicionamento do ar. Além do que, a luz natural pode ser destrutiva para o conteúdo do edifício, principalmente se incidir diretamente sobre o acervo.

• O controle de ruído e vibrações, interno e externo.

• Qualidade e quantidade do ar, interno e externo: com o objetivo de poder prever os sistemas de ventilação ou condicionamento, e a necessidade de filtros apropriados para evitar efeitos de poluição atmosférica, ou emissão de gases por materiais construtivos ou do próprio acervo.

Este manual também cita a importância destas considerações não só em novos projetos, mas também em projetos de reforma ou restauração de edifícios existentes, descrevendo que a preocupação com uma reforma se dá justamente pelo possível aumento de custo gerado pela inserção de novas estruturas, como também pelo desejo de preservar melhor edifícios de significado histórico.

A deterioração de qualquer acervo pode ser reduzida pelo controle de temperatura, umidade, luz solar e entrada de partículas. As recomendações do manual justamente realçam que há discordância nos limites aceitáveis de controle e indicam como chegar a um acordo entre as diferentes necessidades.

Destaca que edificações que servem para áreas de exposições são usualmente bastante abertas, para promover a fácil circulação de pessoas, porém, diferentes exibições podem requerer condições ambientais contrastantes e uma divisão de espaços mais criteriosa.

Além disto, o manual salienta que museus, arquivos e bibliotecas têm dois grupos de preocupações a serem abordadas, o primeiro trata de questões ligadas à saúde e segurança, enfocando sobre a concentração de substâncias arriscadas, como gases, temperatura, velocidade e umidade relativa do ar. O segundo grupo de necessidades diz respeito à classificação e exigências das coleções, nem sempre fáceis de serem resolvidas, até pelo fato de que geralmente existem conflitos entre tipos de coleções diferentes.

Portanto, a definição de qual o comprometimento de risco decorrente dos valores de UR e T tem sido discutido por vários pesquisadores. Porém, uma questão é consenso, para podermos decidir quais as condições necessárias, é importante classificar muito bem os espaços do edifício, o que se pode fazer identificando a função e o uso de cada um deles, conforme a Tabela 1.

Tabela 1 Classificação de Salas para Museus e Bibliotecas

Espaços: Alta fonte interna de contaminantes (suja) Baixa fonte interna de contaminantes (limpa) Coleções Não

acessíveis ao público

Laboratórios de conservação, oficinas museológicas. Coleções “molhadas” (mantidas em vidros mal vedados, passíveis de evaporação de álcool, como em coleções de história natural)

Coleções fotográficas (produção de vapores de ácido acético.)

Muitas áreas de estocagem ou guarda do acervo, as quais são denominadas, em geral, de RESERVAS

TÉCNICAS.

Acessíveis

ao público Vitrines de exposição do trabalho de conservação em progresso Galerias e salas de leitura Não

coleções Não acessíveis ao público

Escritórios de fumantes (incomum) Escritórios (não fumantes)

Acessíveis

ao público Cafeterias, salas de descanso, espaços onde é permitido fumar Espaços públicos com preparação de alimentos ou fumantes.

Fonte :Adaptação feita a partir da tradução da Tabela 1da ASHRAE (1999) Applications Handbook – pág.20.2

De acordo com o manual da ASHRAE (1999), cada classificação necessitará de diferentes padrões de temperatura, taxas de ventilação, estratégias de insuflamento de ar, etc., conforme esta necessidade, estas áreas deveriam desenvolver sistemas de condicionamento de ar independentes. Porém, no melhor dos casos, as coleções são colocadas separadamente de visitantes, técnicos e pessoal administrativo ou de serviços. Quando a separação não é possível, processos e atividades que ponham ameaças às coleções podem ser física e mecanicamente separados das coleções. Sistemas de controle ambiental separados para áreas de coleções e não coleções permitem isolamento de ambientes e podem reduzir os custos de projeto de áreas de não coleção. Estas implicações de projeto para a redução dos gradientes são muitas vezes mais eficientes que a distribuição de ar comum ou a utilização de altas taxas de troca de ar.

Ressalta ainda que a seleção do sistema de condicionamento de ar deveria partir de um enfoque global, e que freqüentemente as soluções mais prováveis não atendem a todos os critérios para todos os espaços.

Uma forma típica, particularmente em museus de belas artes, é se tratar escritórios administrativos e espaços de coleções distintamente. Contudo, riscos podem surgir para a coleção se os escritórios não forem controlados e passarem, no entanto, a serem usados para a exibição de coleções.

Outros espaços como áreas de acesso, halls, salões ou lobbys, são os mais negligenciados ambientalmente em museus e bibliotecas. O projetista deveria assegurar que as cargas térmicas destes espaços fossem administradas e isoladas das áreas de coleções primárias, e ainda que se tomassem providências como a instalação de ante-salas que permitissem a transição entre ambientes sem que se tenha contato direto das áreas controladas com os acessos exteriores.

As recomendações do manual ainda abordam alguns dos problemas existentes com o envelope do edifício, ressaltando que, em geral, estes edifícios não são projetados para o propósito de abrigar museus, bibliotecas e arquivos. Sendo que, freqüentemente, surge a necessidade de solucionar problemas de controle climático, o que normalmente é solicitado a engenheiros mecânicos que projetem sistemas de condicionamento auxiliares. Todavia ações como estas necessitariam de uma análise complementar entre diferentes profissionais como arquitetos e engenheiros civis, que poderão, conjuntamente com o engenheiro mecânico, pensar uma melhor adequação destes sistemas às características construtivas do prédio ou mesmo à organização espacial do mesmo.

Enfocando a diversidade de tipologias de edifícios, o manual da ASHRAE (1999) cita uma classificação feita por Conrad, que estipulou conforme tipologia construtiva e uso do edifício suas possíveis limitações de controle, identificando qual a classe de controle possível para cada edifício. Nesta classificação, ele enumera desde edifícios abertos sem controle climático até edifícios com controle parcial e com controle preciso, destacando que edifícios construídos com o propósito de abrigarem museus, bibliotecas de pesquisa, galerias, salas de armazenagem, deveriam ter estruturas isoladas, vidros duplos, portas duplas, barreiras de vapor e sistemas de aquecimento ou resfriamento especiais (conforme necessidade climática da região) com controle de estabilidade, além do controle de umidade com constante precisão.

Com relação ao clima local e aos cuidados com o envelope do edifício, o manual aborda extensivamente cuidados a serem tomados nos períodos de inverno, enfocando logicamente os

problemas relacionados às baixíssimas temperaturas ocorrentes nos EUA e Europa, em contraste com ambientes aquecidos, e os problemas de condensação em superfícies gerados por tais gradientes de temperatura e umidade.

O manual ainda enfatiza algumas questões sobre a possibilidade de utilização de zonas enclausuradas, nas quais o uso de uma sala dentro de outra sala ou um casulo proporciona um melhor controle de umidade no espaço de museu. Esta estratégia tem sido especialmente usada para criar zonas de exposição ou estocagem em edifícios históricos. O conceito tem sido aplicado principalmente em ambientes, dentro de salas existentes, e em uma zona de salas bem controladas, envoltas por uma zona perimetral de salas não bem controladas.

A intenção, em todos os casos, é para evitar contato direto entre ar de ambientes com umidade e temperatura controladas com o envelope externo do edifício, que, no caso de climas frios, estará em contato com temperaturas baixíssimas, ou, no caso de lugares de insolação excessiva, o ambiente controlado poderá estar protegendo suas paredes limítrofes da radiação direta. Desta maneira, clausuras também reduzem o risco de gradientes de T e UR próximos a paredes de zona controlada.

2.3. Os processos de degradação decorrentes das relações entre Umidade