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CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO REALIZADO: OS PERCURSOS PERCORRIDOS

No documento REVISTA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA EM FOCO (páginas 157-161)

Perspectivas de uma professora

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO REALIZADO: OS PERCURSOS PERCORRIDOS

A investigação teve por base um objetivo geral e três objetivos específicos para delinear o trabalho, como metas a serem respondidas. Tínhamos como objetivo investigar o processo de apropriação do letramento matemático por professoras que ensinam Matemática nos anos iniciais do ensino fundamental a partir de vivências de atividades pedagógicas do projeto PROLICEN.

Com relação a esse objetivo do trabalho, detectamos que as professoras começaram a romper com a visão tradicional do ensino de Matemática, restrita a cálculos descontextualizados da realidade e a se apropriar da Matemática como uma linguagem que pode ser contextualizada e relacionada à linguagem oral e escrita, e também uma das formas para a aprendizagem Matemática.

A leitura e a escrita em Matemática para as professoras constituíram-se em situações inovadoras e provocadoras de pensamentos, de reflexões e da aprendizagem de novos significados e a ressignificação de conteúdos matemáticos internalizados anteriormente.

A apropriação do letramento matemático pelas professoras ocorreu a partir do uso da escrita e da comunicação com as demais colegas, com a intenção de expressar suas aprendizagens acerca dos conteúdos estudados, como uma ferramenta para aprender Matemática.

A identificação do desenvolvimento do processo de letramento matemático inicia-se a partir de reflexões e questionamentos de como são desenvolvidos os conteúdos e atividades, e da percepção das professoras de que, cada atividade e conteúdo estudado têm uma intenção pedagógica, a aprendizagem de Matemática e seu uso nos contextos educacionais e sociais.

O desenvolvimento do processo de letramento das professoras se deu a partir das suas produções escritas acerca do que foi aprendido, das experiências vivenciadas em sala de aula e da oportunidade de socializar com seus pares. Utilizando a escrita e a oralidade como um recurso para rememorar as aprendizagens, refletir sobre a prática pedagógica e tomar outros caminhos para o aperfeiçoamento da ação docente.

Constatamos inicialmente, que as professoras acharam complicado escrever sobre o que tinham aprendido, mas depois foram desenvolvendo as suas escritas com mais tranquilidade.

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A partir disso averiguamos que o problema se constituía na produção do registro e não no relato da aprendizagem, algumas professoras apresentavam uma desenvoltura maior na escrita em relação às demais. Já a socialização durante as vivências era vivenciada normalmente.

Percebemos que quando propiciamos espaço para as professoras falarem sobre os conhecimentos adquiridos e seus contextos de sala de aula, até as mais tímidas queriam relatar algo. Também evidenciamos que o processo de apropriação do letramento matemático é contínuo e vai se desenvolvendo, se construindo e se aprimorando com o passar do tempo.

Para a sistematização do processo de apropriação do letramento matemático constituiu-se um pouco complexa, pois foi necessário tomarmos outras direções no decorrer da pesquisa para que a escrita e a comunicação entre as professoras se dessem.

Primeiramente fomos possibilitando reflexões da importância da leitura e da escrita para a aprendizagem de Matemática; em seguida pedimos às professoras que fizessem pequenos registros sobre suas vivências; depois tomamos outra medida, disponibilizamos palavras-chave a respeito dos conteúdos estudados para instigar a socialização entre as professoras e no final foi realizada a leitura coletiva de um texto sobre um conteúdo matemático.

As atividades foram sendo adequadas às necessidades apresentadas pelas professoras.

Evidentemente que os seus processos de apropriação ainda têm outros caminhos a percorrer e crescer.

No processo de apropriação do letramento matemático há caminhos que podem potencializá-lo. A pesquisa nos indicou alguns caminhos, dentre eles destacamos:

O primeiro caminho para o desenvolvimento do letramento matemático, é a oportunidade de reflexão sobre a importância da leitura, da escrita e da comunicação para a aprendizagem de Matemática;

A vivência em um grupo de professores para que possam compartilhar os conhecimentos produzidos, as necessidades e dificuldades enfrentadas no dia a dia na sala de aula, e as conquistas, através da escrita e da socialização, é um outro caminho possível;

Os professores precisam ter a consciência de que a escrita não é um trabalho fácil, mas é uma das possibilidades para a apropriação de conhecimentos matemáticos, e ter a ação de exercê-la;

A escrita e a oralidade em Matemática se constituem em oportunidades de rememorar o que foi aprendido, ou não, como uma forma de tomar outros caminhos para que a aprendizagem aconteça;

É importante concebermos que cada professor tem um ritmo diferente de escrita e de participação nas comunicações e a valorização desses registros e contribuições narrativas faz-se esfaz-sencial.

Através dos resultados expostos, podemos perceber as lacunas existentes na formação

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das professoras e o quanto ainda precisamos avançar para a concretização de um ensino de Matemática que possibilite aos alunos o uso de conteúdos e conceitos matemáticos nas práticas escolares, como também nas sociais. Para Nacarato, Mengali e Passos (2009), é favorável:

[...] o trabalho compartilhado e colaborativo; as práticas investigativas; as práticas coletivas e as reflexivas [...] que possam desencadear a reflexão e, consequentemente, o desenvolvimento profissional. (NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2009, p. 124).

O trabalho com grupos colaborativos, que realmente contribuam com a formação dos professores e disponibilizam espaço para a reflexão e a investigação de suas práticas, como um incentivo à tomada de novas ações pedagógicas é primordial nesse contexto.

Os resultados da investigação apontaram a escrita e a socialização de ideias como umas das formas de aprendizagem Matemática significativa pelas professoras. Em relação à escrita, as professoras apresentaram algumas dificuldades em registrar o aprendizado, mas já os momentos de socialização sobre o que tinham aprendido dos conteúdos trabalhados nas vivências do PROLICEN, os pensamentos, as concepções, foram proveitosos. Em suas falas, as professoras sempre relacionavam às práticas pedagógicas cotidianas da sala de aula, às dificuldades enfrentadas e superadas, os trabalhos aplicados com os alunos que surtiram bons efeitos.

Ao analisar as falas produzidas nos espaços de comunicação entre as professoras e durante o desenvolvimento dos conteúdos nas vivências investigadas, tivemos que levar em consideração a formação inicial das professoras e a realidade do contexto escolar. Segundo Galvão (1998 apud NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2009, p. 29) “a análise da potencialidade das narrativas para investigar o conhecimento profissional de professores exige que olhemos para o todo”. As professoras colaboradoras da pesquisa são profissionais que em sua maioria possuem mais de quinze e vinte anos de experiência em sala de aula e tiveram a formação inicial em uma realidade distante das tendências educacionais atuais.

Apesar de lacunas na formação, as professoras apresentam comprometimento com a aprendizagem de seus alunos, estando abertas a novas oportunidades de aprendizagens. Após uma dupla jornada de trabalho se habilitam a participar do projeto de formação continuada em Matemática, com a intenção de aprender novos conhecimentos e melhorar as práticas pedagógicas.

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Contribuições do trabalho

Esperamos que as reflexões, as propostas e os diálogos expostos neste trabalho possam contribuir com a formação inicial dos futuros professores que ensinarão Matemática nos anos iniciais e para a formação continuada daqueles que já estão em exercício.

Pelo grupo das professoras integrantes da pesquisa, ser de caráter colaborativo, de participação voluntária, o entrosamento e a disposição para aprender e ensinar conjuntamente auxiliou na coleta dos dados da pesquisa.

Este singelo trabalho é fruto de muita dedicação e esforço, é um fio condutor para futuras pesquisas, como o próprio Paulo Freire (2008, p. 50) nos fala do inacabamento do ser humano. Cremos que a respeito deste tema, ainda se tem muito a dizer e a aprender, mas como a finalização é necessária, concluímos que o processo de apropriação do letramento matemático é trabalhoso, processual, contínuo e possibilitador de diversas aprendizagens.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática /Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.

CÂNDIDO, Patrícia T. Comunicação em Matemática. In: SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez (Org.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender Matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 15-28.

CARVALHO, Mercedes. Problemas? Mas que problemas?! Estratégias de resolução de problemas matemáticos em sala de aula. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

DANTE, L. R. Didática da Resolução de Problemas em Matemática. São Paulo/SP: Ática, 2000.

FONSECA, Maria da Conceição Ferreira Reis. Conceito(s) de numeramento e relações com o letramento. In:

LOPES, Celi Espasadin; NACARATO, Adair Mendes. (Org.). Educação Matemática, leitura e escrita: armadilhas, utopias e realidade. Campinas: Mercado de Letras, 2009, 47-60.

FREIRE, Paulo. Pedagogia de Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 37ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

NACARATO, Adair Mendes; LOPES, Celi Espasadin. Práticas de Leitura e Escrita em Educação Matemática:

tendências e perspectivas a partir do Seminário de Educação Matemática no COLE. In: LOPES, Celi Espasadin;

NACARATO, Adair Mendes (Org.). Educação Matemática, leitura e escrita: armadilhas, utopias e realidade.

Campinas: Mercado de Letras, 2009, p. 25-46.

NACARATO, Adair Mendes; MENGALI, Brenda Leme da Silva; PASSOS. Cármem Lúcia Brancaglion. A matemática nos anos iniciais do ensino fundamental: tecendo fios do ensinar e do aprender. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. (Tendências em Educação Matemática).

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. (Coleção Linguagem

& Educação).

No documento REVISTA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA EM FOCO (páginas 157-161)