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Considerações sobre a parceria entre estado e município na gestão das

1 AS CLASSES MULTISSERIADAS NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO DO

1.4. Considerações sobre a parceria entre estado e município na gestão das

Esse primeiro capítulo teve por objetivo uma descrição dos principais aspectos que envolvem as classes multisseriadas no município baiano de Inhambupe, principalmente os elementos ligados à sua gestão por meio do regime de colaboração estado-município. No âmbito do caso selecionado para estudo, delimitou-se com base nessa descrição a seguinte questão de pesquisa: de que maneira se desenvolve a gestão das escolas ou classes multisseriadas no contexto da política de Educação do Campo no município de Inhambupe? Para responder a essa questão, no entanto, é necessária uma pesquisa de campo que envolva os sujeitos diretamente ligados a essa gestão e à parceria nela envolvida. Essa pesquisa será descrita e analisada no próximo capítulo. Para finalizar nosso diagnóstico, porém, será desenvolvida aqui uma breve discussão sobre os principais aspectos que podem ser captados da descrição apresentada.

O diagnóstico feito a partir das visitas à Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC) sugere que esta vem desenvolvendo, gradativamente, a política da Educação do Campo, a partir da legislação que a ampara, e o apoio do MEC, por meio da implantação e implementação de programas e ações pactuadas entre as duas instituições parceiras. Contudo, é perceptível que essas ações estão dispersas e fragmentadas nos diversos setores da SEC, ressaltando que em sua estrutura existe um setor específico para desenvolver a política educacional para essa modalidade de ensino, a Coordenação de Educação do Campo (CEC).

Outro ponto a destacar é que a SEC não promove tratamento específico e diferenciado para as escolas do campo da rede estadual. Falta apoio também aos sistemas municipais no atendimento ao ensino fundamental do campo/classes multisseriadas, considerando ser esse o maior universo educacional na área rural baiana com 13.518 turmas multisseriadas (MEC/INEP, 2014).

Por outro lado, a CEC vem empreendendo esforços no sentido de apoiar o desenvolvimento da política e gestão da educação das populações do campo, como a elaboração de alguns documentos, em fase de publicação, são eles: as “Diretrizes Estaduais da Educação do Campo”, os “Referenciais Político-Pedagógicos para as Escolas Públicas do Campo/Anos iniciais do Ensino Fundamental do Estado da Bahia” e o “Diagnóstico das Escolas do Campo do Estado da Bahia”. Ainda tem investido em atividades pontuais relacionadas à Educação do Campo para atender às demandadas dos movimentos sociais, a exemplo da EFA, MST, MOC, entre outros (BAHIA, 2014).

Ainda em relação às classes multisseriadas, a SEC/CEC, numa parceria com o MEC e municípios baianos, implementou, em 2013, um programa que visa formação de professores, monitoramento às escolas e fornecimento de material didático para atender as necessidades do ensino fundamental do campo/classes multisseriadas, o Pronacampo/Escola da Terra24, sendo que o universo atendido não é representativo, considerando que a Bahia possui 417 municípios, destes, 325 fizeram adesão ao referido programa, mas apenas 6 foram atendidos em 2014 e 17 estão sendo atendidos em 2015.

Em relação a Secretaria de Educação do Município de Inhambupe (SEDUC) vale ressaltar que a gestão para educação do Campo, em especial para as classes multisseriadas, não ocorre considerando essa especificidade em conformidade com as recomendações do CNE, nem atende as orientações do MEC.

É certo que a oferta de ensino fundamental/classes multisseriadas ocorre. Porém a infraestrutura das escolas é precária, professores e gestores com formação inadequada, equipe técnica do Departamento Pedagógico da SEDUC não é preparada para atender a essas escolas e, em síntese, a SEDUC não identifica essas necessidades, afim de demandar para o MEC e a SEC. Embora a SEDUC tenha feito adesão ao Pronacampo/Escola da Terra, o município ainda não foi contemplado pela SEC/CEC, e mesmo assim, não há um acompanhamento da SEDUC sobre a operacionalização do referido programa junto a SEC.

Outro ponto importante refere-se as informações fornecidas pela SEDUC (2015). Não foi evidenciado o controle dos dados municipais, sugerindo fragilidade e

24Pronacampo/Escola da Terra – Programa oferecido pelo MEC em regime de colaboração com os

entes federados e específico para atendimento ao ensino fundamental do campo (classes multisseriadas).

fragmentação na gestão, onde cada técnico detém uma informação. Não foi possível identificar os instrumentos de controle de dados da Educação do Campo na SEDUC. Assim, as informações foram adquiridas considerando a memória da equipe técnica da SEDUC. Embora na estrutura da SEDUC tenha setores definidos, ficou perceptível a falta de interlocução entre os departamentos e ausência de organização institucional nos procedimentos de gestão.

Assim, observamos que tanto a SEC como a SEDUC possuem um modelo de gestão indefinido, pois não dominam suas informações, não possuem dados sistematizados e, quando os tem, não fazem o tratamento dessas informações. Os setores existentes não lidam com as especificidades educacionais, nesse caso aqui nos referimos à SEDUC e as classes multisseriadas, o que compromete a gestão das políticas públicas educacionais para as populações do campo, e pode interferir no desenho da gestão dessas políticas e da compreensão das suas necessidades para consubstanciar o sistema de colaboração com os entes federados.

Essa é uma primeira constatação com base nos estudos realizados e nos documentos analisados. O capítulo II, onde será realizada as análises dos dados coletados na pesquisa de campo poderá confirmar ou não essas impressões.

Uma realidade que foi constatada ao pesquisar os dados foi a sua representação. Quantificar as escolas do campo, as classes multisseriadas é complexo, visto que as fontes institucionais (INEP, SEC) apresentam dados que divergem. Algumas instituições trazem a matrícula de alunos, outras sobre número de escolas, em anos diferentes, pois não existe uma uniformidade no tratamento dessas informações. Outra situação refere-se à divergência na denominação das escolas ou classes multisseriadas ao serem apresentados os dados, pois são várias as formas de tratamento: classes multisseriadas; turmas multisseriadas, escolas multisseriadas ou mesmo escolas mistas (atendimento escolar a turmas seriadas e multisseriadas). Essa forma indefinida, sem estabelecer um consenso na denominação dificulta a visualização e comparação dos dados.

Por fim, nesse capítulo, foram pesquisadas e analisadas informações disponíveis tanto na Secretaria da Educação do Estado, como no município de Inhambupe (SEDUC), estudados no período de 2014 e 2015. O propósito foi utilizar essas informações e analisá-las a fim de subsidiar a pesquisa.

O capítulo II deste trabalho, “Compreendendo a gestão das classes multisserias: a parceria estado-município” objetiva compreender como se tem

articulado a parceria entre a Secretaria Estadual de Educação (SEC) com o município de Inhambupe, para atender às escolas ou classes multisseriadas deste município, utilizando o sistema de colaboração com os entes federados. Para tanto, foi realizado um estudo teórico e uma pesquisa de campo essenciais para análise do problema da pesquisa.

2 COMPREENDENDO A GESTÃO DAS CLASSES MULTISSERIAS: A PARCERIA ESTADO-MUNICÍPIO

No capítulo I foi descrita a política educacional para os povos do campo e a gestão dessa política pela SEC, tendo em vista a Secretaria de Educação e Cultura do município de Inhambupe (SEDUC), na perspectiva do sistema de colaboração dos entes federados (estado-município). Para tanto, fez-se necessário aprofundar o estudo no sentido de compreender os conceitos que alicerçam a gestão educacional voltada para os sistemas de ensino e da Educação do Campo/classes multisseriadas, bem como a efetividade ou não do sistema de parceria entre os entes federados.

Dessa forma, foi desenvolvida pesquisa exploratória, em que foram entrevistados os responsáveis pela Educação do Campo/classes multisseriadas da SEC (SUDEB, CEC e PROAM) e da SEDUC (Secretária de Educação). Logo, este segundo capítulo está organizado em três seções, a saber: 2.1. “Referencial teórico”, 2.2. “Aspectos metodológicos” e 2.3. “Apresentação e análise dos dados”.

A primeira seção do capítulo está subdividida em duas subseções, são elas: 2.1.1. “A gestão da Educação do Campo” e 2.1.2. “Classes multisseriadas: perspectivas e desafios”. Essas subseções analisam o arcabouço teórico que visa compreender a gestão das classes multisseriadas no contexto da Educação do Campo e a parceria estado-município, a fim de subsidiar a interpretação das informações coletadas na pesquisa. A intenção é estabelecer uma relação dialógica entre o cenário apresentado no capítulo I, a teoria estudada e os resultados apurados na pesquisa.

Nas últimas seções, 2.2. “Aspectos metodológicos” e 2.3. “Apresentação e análise dos dados”, foi descrita a metodologia empregada na pesquisa, apresentados os atores da Educação do Campo/classes multisseriadas que foram entrevistados, além da análise das informações e dados coletados nas visitas à SEDUC e pela aplicação dos instrumentos de pesquisa de campo (entrevistas), bem como as informações disponibilizadas pelo Ministério da Educação (MEC), pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC) e pela Secretaria de Educação do Município de Inhambupe (SEDUC). A seção 2.3. “Apresentação e análise dos dados” ficou subdividida em três subseções, são elas: 2.3.1 “Como a gestão da

educação do campo está organizada na SEC”; 2.3.2. “A parceria estado-município” e 2.3.3 “Desafios na gestão das classes multisseriadas”.

Os resultados das análises inscritas em todas estas sessões indicaram caminhos para construção de um plano de intervenção, proposto no capítulo III desta dissertação.

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