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A maternidade é levantada internacionalmente como um fator gerador de diferenças salariais, passando por Hill (1979) a Grinshaw e Rubery (2015), porém para o Brasil a literatura sobre o tema é escassa. Assim este trabalho contribui primordialmente como caracterização geral dos efeitos da maternidade nos níveis salariais do mercado de trabalho brasileiro.

Ao observar os efeitos da maternidade sobre o nível salarial médio das mulheres no Brasil, a partir de quatro especificações de modelos de regressão e, ainda, a decomposição de Oaxaca-Blinder foi possível notar que existe uma diferença salarial salarial média, evidenciando menores salários às mulheres brasileiras mães. Sendo o argumento de que os efeitos da maternidade, livre das diferenças de características entre os grupos, testado neste capitulo, podendo-se inferir então que esta metodologia contribui para a literatura de motherhood pay gap.

Entre os resultados constatou-se que, de forma similar à maioria da literatura internacional, a presença de filhos já leva a menores salários e quanto maior a quantidade de filhos maior é a penalização, porém a partir do terceiro filho o efeito negativo salarial parece se estabilizar em torno de 4,6%.

Adicionalmente, ainda foi possível constatar o tamanho da diferença salarial quanto a maternidade entre as mulheres, a qual foi posta à prova com a comparação do observado para gêneros. Os resultados indicam que a maternidade implica em diferenças salariais de tamanho similar à encontrada para gêneros, mostrando assim a relevância de seu estudo.

Quando a diferença salarial é decomposta, tendo em vista observar em que medida a diferença pode ser explicada pela diferença de retornos para os grupos de mães e não mães nota- se que há discriminação no mercado relativamente a mulheres que são mães. Ao observar quanto cada variável explicativa ajuda a explicar cada componente a principal diferença de retornos se encontra na variável escolaridade, isto é, a diferença de quanto se paga relativamente à escolaridade para mulheres que são mães e que não são é o principal fator que explica o efeito não observado da decomposição de Oaxaca, que além de caracteristicas não observadas também engloba a discriminação.

As separações em grupos populacionais começam pela separação racial. Ter filhos para brancas e não brancas implica na mesma diferença salarial, porém entre as não brancas o fator dotação explica 44% da diferença salarial, enquanto entre as brancas a discriminação explica a totalidade da diferença salarial entre mães e não mães. Os principais influenciadores

49 dos fatores são idade, escolaridade e experiência.

Outros grupos analisados são os de estado conjugal. As considerações quanto ao estado civil indicam que a maior diferença salarial é no grupo de mulheres separadas, seguidas das mulheres solteiras e por fim as casadas. Porém o efeito não explicado por diferenças de atributos é maior para as mães solteiras seguidas das mães separadas e parece haver uma valorização quando a mãe é casada. Considerando se a mulher tem ou não companheiro foi possível notar que a menor diferença salarial devido a maternidade é entre as mulheres que tem companheiro, seguido das que nunca tiveram companheiro e, por último, estão as que já tiveram companheiro, mas estão sem companheiro. Desta forma é possível inferir que ter um companheiro/marido é um fator que diminui a diferença salarial causada pela maternidade, sendo um atenuante da penalização salarial de ser mãe.

A última separação populacional é em setores de trabalho que são tipicamente masculinos (menos de 35% de mulheres), em que foi possível notar menor penalização salarial nestas atividades, seguindo resultados de Buding e England (2001). E ainda as diferenças existentes nos setores tipicamente masculinos são completamente explicadas pela diferença de dotação entre mães e não mães, isto é, são racionalmente explicáveis.

Assim a partir dos resultados encontrados é possível notar que a penalização salarial além de relevante (semelhante à encontrada entre gêneros) também varia em grupos raciais, matrimoniais e de atividades típicas masculinas. Além disso, dado poder da educação de explicar os fatores da decomposição em todas as formulações adotadas, há indícios de que uma distribuição educacional mais igualitária tenderia a diminuir discrepâncias de renda.

Neste sentido, a crescente proporção de mulheres no mercado de trabalho, associada à constatada penalização salarial, mostra a importância de haver um sistema de políticas e ações que consiga garantir que a mulher não tenha que escolher entre a maternidade e o trabalho e iniba a diferença salarial nestes grupos. Destaca-se que uma garantia de um sistema de educação infantil, juntamente com licenças maternidade e paternidade podem são iniciais soluções, ao sinalizar ao mercado menores diferenças entre as mulheres mães e as não mães, como já mostram inúmeros trabalhos internacionais.

Ademais, há avanços a esta pesquisa se mostram enriquecedores: primeiro expandir o estudo para toda a distribuição salarial (o que é feito no próximo capítulo); segundo buscar por dados que enriqueçam a análise e proporcionem uma comparação temporal permitindo a análise da evolução no tempo deste tema.

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2 CAPITULO 2 – VARIAÇÃO DO MOTHERHOOD PAY GAP PARA QUANTIS:

REGRESSÕES QUANTILICAS E DECOMPOSIÇÃO DE MELLY

2.1Introdução

A crescente entrada da mulher no mercado de trabalho no Brasil desde meados do século XX é conhecida e um aspecto mundial, o que tornou cada vez mais relevante os estudos que englobem a estrutura e o comportamento do mercado de trabalho com relação a elas. Apesar disto, estudos que salientem variáveis que afetam a renda feminina ainda são escassos no Brasil.

Internacionalmente, desde Hill (1979) a questão da maternidade e sua influência nos rendimentos femininos vem sendo estudadas intensamente. Porém, a grande maioria dos estudos sobre diferenças salariais e especificamente da diferença devido a maternidade é feita para a média. Em contraponto, Bernhardt, Morris e Handcock (1995) destacam que estudar apenas a média, quando se estuda a diferença de renda entre dois grupos pode gerar um viés.

Assim sendo, argumenta-se que estudar o efeito para toda a distribuição leva a conclusões mais completas, sendo que os estudos para a média, apesar da vantagem da generalização, também têm a sua desvantagem nesta generalização pois escondem o comportamento dos efeitos da maternidade por toda a distribuição salarial.

São primordialmente três os estudos que analisam a questão da maternidade sobre toda a distribuição salarial, Budig e Hodges (2010, 2014), e considerações feitas a estes trabalhos por Killewald e Bearak (2014). Em Budig e Hodges (2010) é notável a variação dos efeitos da maternidade durante a distribuição salarial, destacando o resultado de que, mulheres com menores salários são mais penalizadas, mas a penalização permanece por toda a distribuição salarial. Porém destacam que o mecanismo de geração desta penalização diferente em diferentes pontos da distribuição salarial, sendo para os menores rendimentos os recursos familiares, o esforço no trabalho e diferenciais compensatórios. Já para os maiores rendimentos a penalidade é explicada principalmente por perda de capital humano devido o nascimento do filho.

Portanto, para o Brasil não há estudos sobre maternidade considerando a variação de seus efeitos por toda a distribuição salarial. Esta então é a investigação foco deste trabalho, o que possibilitará situar o Brasil na literatura mundial também para quantis salariais. Para atingir tais objetivos, é realizada uma diferenciação entre a abordagem que considera efeitos na distribuição condicional e outra para a distribuição incondicional. Note que distribuições condicional e incondicional se diferenciam, ao passo que a primeira relativiza onde uma pessoa

51 estaria na distribuição fixadas algumas características do modelo, enquanto a última não considera quaisquer condições restritivas, salientando distribuição salarial geral.

Assim este trabalho inova tanto ao analisar o motherhood pay gap para toda a distribuição salarial, quanto por considerar duas abordagens distintas para medí-la para o Brasil e de forma inédita considerando a correção do viés de seleção para ambas. A abordagem condicional é feita por regressões quantilicas propostas por Koenker e Basset, já a abordagem incondicional considera a decomposição de Melly (2006), ambas as técnicas usando uma adaptação da correção de viés de seleção proposta por Buschisky (2001).

Metodologicamente temos a decomposição de Melly (2006) para encontrar efeitos na distribuição salarial incondicional da maternidade, no mesmo sentido feito por Oaxaca-Blinder (1973), permitindo isolar o efeito das diferenças salariais causadas pela maternidade da parte causada por diferentes atributos dos dois grupos, para além da maternidade.

Toda a análise é feita utilizando a PNAD de 2014. Os principais resultados encontrados são: i) há uma maior penalização à maternidade nos últimos quantis condicionais; ii) quanto maior o número de filhos maior a penalização salarial em todos os decis condicionais; iii) a diferença salarial entre mães e não mães aumenta com o nível de renda; iv) a maior parte da diferença salarial não é devida às diferenças de atributos entre mães e não mães.

Este capítulo está dividido em mais quatro partes, a primeira faz um apanhado da literatura, a seguir são definidas as metodologias. Logo após são descritos os resultados encontrados e por último são feitas algumas considerações.