12.2. Tratamento de resíduos sólidos domiciliares
12.2.3. Considerações sobre tecnologia de tratamento
Na segunda metade da década de 1980 e início da de 1990, as usinas de reciclagem e compostagem foram apresentadas como a solução definitiva para tratamento dos resíduos sólidos urbanos. Fabricantes prometiam o fim dos "lixões" e chegavam a afirmar que a operação da usina geraria receitas para os municípios com a comercialização de recicláveis e composto.
Otimistas com a hipótese de resultados econômicos positivos com a tecnologia apresentada, diversos municípios no Brasil implantaram usinas de reciclagem e compostagem sem qualquer estudo prévio e o resultado foi muito ruim, pois a maioria das unidades foi desativada logo após a inauguração e outras sequer iniciaram a operação.
Não resta dúvida de que usina de reciclagem e compostagem é uma alternativa para tratamento de resíduos a ser considerada,
12. Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos
todavia antes de sua implantação devem ser verificados os seguintes pontos:
• existência de mercado consumidor de recicláveis e composto orgânico na região;
• existência de um serviço de coleta com razoável eficiência e regularidade;
• existência de coleta diferenciada para lixo domiciliar, público e hospitalar;
• disponibilidade de área suficiente para instalar a usina de reciclagem e o pátio de compostagem;
• disponibilidade de recursos para fazer frente aos investimentos iniciais, ou então de grupos privados interessados em arcar com os investimentos e operação da usina em regime de concessão;
• disponibilidade de pessoal com nível técnico suficiente para selecionar a tecnologia a ser adotada, fiscalizar a implantação da unidade e finalmente operar, manter e controlar a operação dos equipamentos;
• a economia do processo, que deve ser avaliada por meio de um cuidadoso estudo de viabilidade econômica, tendo em vista, de um lado, as vantagens que uma usina pode trazer: redução do lixo a ser transportado e aterrado, venda de composto e recicláveis, geração de emprego e renda, benefícios ambientais; e, de outro, os custos de implantação, operação e manutenção do sistema.
• Seleção da tecnologia
• Estudos de viabilidade econômica • Mercado de recicláveis
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Com relação à escolha da tecnologia a ser adotada, deve ser considerada a disponibilidade orçamentária do Município, levando-se sempre em conta que, quanto maior for o nível de automatização e sofisticação dos equipamentos, maiores serão o investimento inicial e as despesas com a manutenção da unidade. Num país como o Brasil, com escassez de emprego, são recomendáveis tecnologias com mão-de-obra intensiva, como nas usinas que adotam a separação manual dos materiais. As máquinas eletromagnéticas que separam os metais ferrosos e os equipamentos necessários ao reviramento das leiras e manejo do lixo no pátio e silos devem ser previstos, mesmo nas usinas mais simples.
12. Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos E ESSTTUUDDOOSS DDEE V VIIAABBIILLIIDDAADDEE E ECCOONNÔÔMMIICCAA
A implantação de uma usina de reciclagem e compostagem pressupõe a elaboração prévia de um estudo de viabilidade econômica no qual devem ser analisados os seguintes aspectos:
• Investimento
• licenciamentos ambientais;
• aquisição de terreno e legalizações fundiárias; • projetos de arquitetura e engenharia;
• obras de engenharia;
• aquisição de máquinas e equipamentos;
• despesas de capital (juros e amortizações) e depreciação dos equipamentos.
• Custeio
• pessoal (mão-de-obra, corpo técnico, gerencial e administrativo);
• despesas operacionais e de manutenção;
• despesas de energia e tarifas das concessionárias do serviço público;
• despesas de reposição de peças e equipamentos; • despesas com gerenciamento e administração. • Receitas
• Diretas:
• comercialização de recicláveis e composto orgânico.
• Indiretas:
• economia referente à redução de custos de transporte ao aterro;
• economia referente à redução do volume de lixo vazado no aterro.
• Ambientais
• economia de consumo de energia;
• economia no consumo de recursos naturais; • redução da carga de resíduos poluentes no
ambiente. • Sociais
• oferta de emprego digno e formal para os catadores de lixo;
• geração de renda;
12. Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos
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O mercado de materiais recicláveis no Brasil vem crescendo rapidamente, com índices de recuperação significativos, embora também esteja crescendo o nível de exigência sobre a qualidade do material.
As indústrias que trabalham com matéria-prima reciclada exigem para compra dos materiais três condições básicas:
• escala de produção;
• regularidade no fornecimento; • qualidade do material.
Assim, a obtenção de materiais classificados corretamente, limpos e conseqüentemente com maior valor agregado facilita a comercialização dos materiais recicláveis obtidos nas usinas. O preço de venda de materiais e o escoamento da produção dependem das indústrias recicladoras presentes na área de influência da usina.
Os preços praticados pelo mercado variam muito, sofrendo influência direta do preço da matéria-prima virgem.
Além de procurar sempre por materiais limpos, algumas cooperativas desenvolvem trabalho visando ao beneficiamento de materiais recicláveis para agregar valor ao produto e permitir sua comercialização direta às industrias, eliminando agentes intermediários. Essas tarefas envolvem, pelo menos, a separação entre os diversos tipos e o enfardamento de papéis e papelão, latas de alumínio e plástico duro. Também é fundamental haver um local para acumulação de todos os materiais, de modo a racionalizar o frete até o local de sua industrialização.
As receitas diretas dificilmente cobrirão o custeio de uma usina de reciclagem e compostagem, nem esta deve ser encarada como um empreendimento industrial lucrativo segundo um ponto de vista estritamente comercial. Todavia, o quadro se mostra altamente favorável quando se ponderam as receitas indiretas, ambientais e sociais com potencial expressivo de retorno político.